As diferenças essenciais entre uma genuína economia
de livre mercado e uma economia intervencionista
Ao longo de toda a história humana, foram várias as
manifestações de movimentos ideológicos coletivistas. Especialmente nas
décadas de 1930 e 1940, em várias partes da Europa, estes movimentos se
tornaram mais explícitos e radicais, e assumiram suas extremadas formas de
comunismo, fascismo e nazismo. Todas estas três ideologias representavam
a total rejeição da liberdade econômica, do livre mercado e da liberdade
individual.
Atualmente, o comunismo, o fascismo e o nazismo —
ao menos no formato que assumiram no século XX — estão mortos. Eles
fracassaram miseravelmente, tendo produzido nada mais do que genocídios, forme,
devastação e miséria. Embora sejam vários aqueles que alegam — em todos
os eixos do espectro político ideológico — que o capitalismo triunfou sobre
estas ideologias, a verdade é que o sistema econômico que hoje existe ao redor
do mundo está muito longe daquilo que economistas liberais-clássicos como Mises
consideravam ser uma economia de livre mercado.
O que seria uma verdadeira economia de
mercado? Quais as características indispensáveis que uma economia deve
apresentar para ser considerada de livre mercado? Os nove princípios a seguir
definem, em minha opinião, uma genuína economia de livre mercado:
1. Todos os meios de produção são propriedade
privada, seja de indivíduos ou de empresas.
2. Os proprietários destes meios de produção têm total liberdade para utilizá-los da maneira que mais lhes aprouver, sem estipulações estatais, sem restrições e sem regulamentações (a única restrição óbvia é não agredir a vida, a propriedade e a liberdade de terceiros).
3. A
4. As forças concorrenciais da oferta e da demanda determinam os preços dos bens de consumo e dos vários fatores de produção, inclusive da mão-de-obra.
5. A
6. O sucesso ou o fracasso de empresas e empreendimentos é determinado exclusivamente pelos lucros e pelos prejuízos destas empresas, os quais, por sua vez, decorrem de sua capacidade de vencer a concorrência das empresas rivais no mercado e mais bem satisfazer as demandas dos consumidores. Não há programas de socorro governamental a nenhum tipo de empresa falida, inclusive bancos.
7. O mercado não está restrito a transações domésticas. Há plena liberdade de comercializar com pessoas de todos os cantos do mundo, sem restrições governamentais, sem tarifas protecionistas.
8. O sistema monetário é completamente separado do estado. O governo não possui controle algum sobre o dinheiro, e este não é de curso forçado. Não há um banco central protegendo o sistema bancário e imprimindo dinheiro para expandir o crédito, determinar juros e estimular os lucros dos bancos. Há plena liberdade de entrada no setor bancário. A moeda será aquela voluntariamente escolhida pelos cidadãos.
9. O governo é restrito a níveis locais e sua atividade consiste unicamente em proteger a vida, a liberdade e a propriedade das pessoas.
Por essa definição, nenhum país do mundo é
atualmente uma sociedade de livre mercado (embora haja várias gradações que
deixem alguns — majoritariamente as cidades-estados — mais perto destes
critérios). Sendo assim, que tipo de sistema econômico existe hoje no
mundo? Mises explicou isso em sua coleção de ensaios de 1929, Uma Crítica ao Intervencionismo:
Quase todos os teóricos de política econômica e
quase todos os estadistas e líderes partidários estão procurando um sistema
ideal que, em suas crenças, não deve ser nem capitalista nem socialista, e que
não se baseie nem na propriedade privada dos meios de produção e nem na
propriedade pública. Estão procurando um sistema de propriedade que seja
restrito, regulado e dirigido pela intervenção governamental e por outras
forças sociais, como os sindicatos. Denominamos tal política econômica de intervencionismo, que
vem a ser o próprio sistema de mercado controlado.
Uma economia intervencionista
Eis a seguir os nove pontos que definem uma economia intervencionista:
1. Os meios de produção podem ser propriedade privada, mas seu uso é restringido e regulamentado pela autoridade política.
2. O governo pode estipular, restringir ou regulamentar o modo como os meios de produção são utilizados, bem como pode proibir ou regular o acesso a determinados setores da economia, ou mesmo estipular que apenas ele, o governo, pode incorrer em determinada atividade comercial.
3. A
4. O governo influencia ou até mesmo controla a formação dos preços de vários bens de consumo e de fatores de produção, inclusive da mão-de-obra. O governo manipula os efeitos do mercado — isto é, das leis de oferta e demanda — sobre o sucesso ou o fracasso de várias empresas, influenciando as receitas das empresas através de meios artificiais como regulações de preços, políticas de compra de estoques excedentes, limites à liberdade de entrada nos mercado, subsídios diretos e indiretos, e redistribuição de riqueza.
5. A
6. O governo pode escolher quais empresas podem falir e quais devem ser socorridas com o dinheiro dos pagadores de impostos. Os pequenos são utilizados para cobrir os prejuízos dos grandes com boas conexões políticas e sindicais.
7. A
8. O sistema monetário é inteiramente regulado pelo governo, que detém o monopólio da moeda e impõe sua aceitação obrigatória para todos os cidadãos. Um banco central protege e carteliza o sistema bancário, além de manipular os juros e o valor do dinheiro ao determinar a que taxa sua quantidade na economia deve ser aumentada. A expansão do crédito é determinada pelo governo e não pela poupança voluntária dos cidadãos. Todas estas medidas são utilizadas como ferramentas para afetar o emprego, a produção e o crescimento a economia.
9. O governo está presente em várias áreas da economia e da vida das pessoas, possui abrangência nacional e não está limitado à proteção da vida, da liberdade e da propriedade.
É importante observar que o sistema
intervencionista representado por estes nove pontos só pode ser implementado
por meios violentos e coercivos. Somente o uso da força, ou a ameaça do
uso da força, pode fazer as pessoas incorrerem em ações diferentes daqueles em
que elas incorreriam voluntariamente sem a intervenção do governo. Sendo
assim, embora a intervenção estatal seja normalmente discutida como se fosse
"política pública", a verdade é que não há nada de
"pública" nela. Intervenções são políticas coercivas
implantadas por políticos e burocratas visando ao interesse próprio e de seus
favorecidos.
Compare estas políticas ao livre mercado, ou à
economia desobstruída, como foi definido acima. O que é mais evidente é a
natureza voluntária de arranjos sociais genuinamente baseados em transações de
mercado. A violência ou a ameaça de violência é reduzida a um mínimo, e o
indivíduo adquire a liberdade de viver sua própria vida e de aprimorar suas
circunstâncias por meio da livre associação com terceiros.
Exatamente por isso é importante compartilhar com
um maior número possível de pessoas uma visão clara e persuasiva a respeito da
sociedade livre e da economia de livre mercado. Apenas esta difusão de
ideias pode, se não pôr um fim, ao menos restringir bastante esta era do estado
intervencionista, levando-nos para um pouco mais perto da liberdade humana, que
é um direito natural de qualquer indivíduo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário