O movimento “Occupy Wall Street” foi ou ainda é
um sucesso - nem tanto de público, eu diria, mas certamente de mídia. Como
qualquer iniciativa de esquerda, sua principal queixa é a desigualdade de renda
produzida pelo malvado capitalismo. Dizendo-se representantes dos 99%, destilam
todo seu ódio contra o 1% mais rico da população, segundo eles os responsáveis
exclusivos e principais beneficiários da crise econômica que assola o mundo há
três anos.
Suas diatribes, no entanto, carregam
um enorme paradoxo, pois os maiores perdedores, em qualquer crise econômica,
são justamente os mais ricos. De acordo com o Departamento do Tesouro americano, a renda
bruta dos Top 1% era equivalente a 22,83% do total, em 2007. Depois do
estouro da bolha, em 2009, caiu para 16,93%. Logo, pela ótica da
desigualdade, não há como maldizer as crises, pois elas derrubam a renda
dos mais ricos numa proporção muito maior que a dos demais.
Contradições a parte, é sintomático
de uma grave doença da alma que essa gente não esteja propriamente protestando
contra a pobreza, mas efetivamente contra a riqueza.
É por essas e outras que, quando
alguém lamenta o famigerado abismo entre ricos e pobres, pergunto se estaria
disposto a admitir que os milionários se tornassem ainda mais ricos, desde que
isso significasse um aumento significativo da renda dos mais pobres. Quando a
resposta é "não", ela equivale à admissão de que a verdadeira
preocupação do meu interlocutor é com o que os mais ricos possuem, e não
realmente com o que falta aos miseráveis. Se, por outro lado, a resposta for
"sim", restará demonstrado que a desigualdade é irrelevante.
Outro ponto importante a destacar é
que riqueza e bem estar são coisas diferentes. Nos EUA, 1% população é
dona de 38% da riqueza (dados de 2001). Porém, tal distribuição mudaria
drasticamente se os bens de capital fossem excluídos da equação, pois 95% da
riqueza do 1% mais rico referem-se à propriedade desses bens. Não por acaso, os
níveis de consumo e bem estar das famílias americanas são muito menos desiguais
do que a distribuição da riqueza.
O empresário Eike Batista, por
exemplo, é milhões de vezes mais abastado do que um cidadão de classe média,
como eu. No entanto, provavelmente nós dois ingerimos quantidades
equivalentes de calorias diariamente. Além disso, sua comida não deve ser assim
tão mais saborosa que a minha. Suas muitas casas devem ser extremamente
confortáveis, mas duvido que sejam milhões de vezes mais aconchegantes que a
minha. Será que seus filhos são muito mais bem educados que os
meus? Não creio. Também é improvável que a sua saúde seja milhões de
vezes melhor que a minha.
Desigualdade só é algo injusto
quando o status de alguém é medido não pelo que ele tem, mas pelo que os outros
têm. Infelizmente, esse é o padrão dos igualitaristas, que sonham com uma
inalcançável uniformidade, independentemente da capacidade de cada um em gerar
bens e serviços de valor para os demais. É o padrão da inveja, que denota um
grande rancor pelo simples motivo de que alguns têm mais, de qualquer coisa, do
que a maioria.
Ademais, a desigualdade é um efeito.
Sua causa é a diferença de produtividade. Não há uma cesta fixa, pré-existente,
de riquezas que, de alguma forma injusta, escorrem para os bolsos dos nababos,
em detrimento dos pobres. Numa economia livre, a riqueza é constantemente
criada, multiplicada e trocada de forma voluntária.
Graças a esse fenômeno, nos últimos
200 anos houve um aumento exponencial do padrão de bem-estar no mundo e,
consequentemente, uma redução espetacular dos níveis de pobreza. Só para se ter
uma ideia desse milagre, 85% da população mundial vivia com menos de um dólar
por dia (a preços correntes), em 1820, enquanto hoje são 20%. Será que
esta verdadeira revolução pode ser atribuída à distribuição de recursos dos
ricos para os pobres, ou será que isso se deve ao efeito multiplicador da
produtividade capitalista?
Proibir um Steve Jobs de ser
fabulosamente rico, de fato, reduz a desigualdade, mas não melhora a vida dos
pobres. Numa economia verdadeiramente capitalista, na qual o governo não
interfere escolhendo vencedores e perdedores, a profusão de milionários, longe
de ser algo a lamentar, é altamente benéfica. Em condições de livre mercado,
riqueza pressupõe investimentos em empreendimentos rentáveis, onde os recursos
disponíveis foram utilizados de forma eficiente na produção de coisas
necessárias e desejáveis. Num sistema desse tipo, os ricos criam um monte de
valor para um monte de gente, além, é claro, de um monte de empregos.
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