segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal!



Um presente de Natal definitivo para minha filha
Harry Browne


Minha querida filha:

Todo Natal eu passo pelo mesmo problema de ter de escolher que presente dar a você. Sei que há várias coisas das quais você certamente iria gostar, como livros, jogos, roupas etc. Porém eu sou muito egoísta. Sempre quis dar a você algo que iria durar mais do que alguns meses ou anos. Sempre quis dar pra você um presente que lhe faria se lembrar de mim a cada Natal, para sempre.

Se eu pudesse lhe dar apenas um presente, o qual você pudesse carregar consigo para sempre, esse presente seria algo aparentemente muito trivial, mas que me tomou vários anos para que eu finalmente o entendesse. Esse presente seria uma verdade aparentemente simples, porém libertadora. E se você aprendê-la agora, essa simples verdade poderá enriquecer sua vida de incontáveis maneiras. Mais ainda: ela poderá lhe poupar de ter de enfrentar vários problemas que já machucaram muitas pessoas que simplesmente nunca a aprenderam.

Essa verdade aparentemente simples, porém libertadora, é a seguinte:

Ninguém deve nada a você.

Importância

Como pode uma afirmação tão simples ser importante? Pode não parecer, mas entendê-la realmente pode ser uma benção para toda a sua vida.

Ninguém deve nada a você.

Isso significa que nenhuma outra pessoa está vivendo para você, minha filha. Ninguém está nesse mundo para satisfazer suas reivindicações. Ninguém está vivendo em função de você. Simplesmente porque nenhuma outra pessoa é você. Cada pessoa vive por si própria; a felicidade de cada pessoa é tudo que ela pode sentir de forma singular e particular.

Minha filha, quando você entender que ninguém tem a obrigação de dar a você a felicidade ou qualquer outra coisa, você será libertada e nunca mais terá expectativas em relação a coisas que provavelmente nunca serão como você quer.

Isso significa, por exemplo, que ninguém é obrigado a amar você. Se alguém a ama, é porque existe algo de especial em você que dá felicidade a essa pessoa. Descubra o que é essa coisa de especial que você tem e se esforce para amplificá-la. Assim você será ainda mais amada.

Quando as pessoas fazem algo por você, é simplesmente porque elas querem — porque você, de alguma forma, propicia a elas algo de significativo que faz com que elas queiram agradar você. Elas não agem assim apenas porque devem algo a você.

Ninguém deve nada a você.

Da mesma forma, ninguém tem de gostar de você. Se seus amigos querem estar perto de você, não é porque eles se sentem nessa obrigação; é simplesmente porque eles se sentem bem estando com você. Descubra o que os deixa felizes e os faz se sentirem bem, e eles sempre irão querer estar perto de você, sem pedir nada em troca.

Ninguém tem a obrigação de respeitar você. Algumas pessoas podem até mesmo ser cruéis com você. Porém, tão logo você entenda que as pessoas não têm a obrigação de ser bondosas com você — e que, consequentemente, elas de fato podem ser más com você —, você irá aprender a evitar aquelas pessoas que podem lhe ser nocivas. Lembre-se que você também não deve nada a elas.

Vivendo a sua vida

Ninguém deve nada a você.

Você deve apenas a você mesma a obrigação de ser a melhor pessoa possível. Porque apenas se você for assim é que as outras pessoas irão querer estar com você e irão querer dar a você as coisas que você quer em troca daquilo que você está dando a elas. Essa é a única maneira moralmente correta de se obter as coisas que você quer. Nunca exija nada de ninguém. Apenas faça por merecer.

Algumas pessoas irão optar por ficar longe de você por motivos que nada têm a ver com você. Quando isso acontecer, procure em outro lugar as relações que você quer. Não faça com que os problemas de outras pessoas sejam também o seu problema.

Assim que você aprender que precisa fazer por merecer o amor e o respeito dos outros, você jamais irá esperar coisas impossíveis; e, por conseguinte, jamais terá decepções. Da mesma forma que as outras pessoas não têm a obrigação de compartilhar a propriedade delas com você, elas também não têm a obrigação de lhe devotar sentimentos e pensamentos.

Se elas o fizerem, é porque você fez por merecer essas coisas. E aí você terá todos os motivos para se sentir orgulhosa do amor que você recebe, do respeito dos seus amigos, da propriedade que você adquiriu. Porém, jamais pressuponha que tais coisas são fatos consumados. Se agir assim, você irá perdê-las facilmente. Essas coisas não são suas por direito. Não existe algo como "ter direito" a essas coisas. Você sempre terá de fazer por merecê-las.

Minha experiência

Um grande fardo foi retirado dos meus ombros no dia em que finalmente entendi que o mundo não devia nada a mim. Por muitos anos acreditei que havia coisas a que eu tinha direito pelo simples fato de ter nascido. E isso fez com que eu passasse por grandes desgastes — físicos e emocionais — em minha tentativa de coletar esses "direitos".

Ninguém deve a mim respeito, amizade, amor, cortesia, conduta moral ou inteligência. O mundo não me deve nada. E tão logo eu passei a reconhecer isso, todas as minhas relações imediatamente se tornaram muito mais gratificantes. Concentrei-me apenas em estar com aquelas pessoas que queriam fazer as coisas que eu queria que elas fizessem.

Essa compreensão de mundo permitiu que eu me desse bem com amigos, sócios comerciais, clientes, amores e estranhos. Sou constantemente relembrado de que só irei conseguir o que quero se puder entrar no mundo da outra pessoa. Eu tenho de entender como ela pensa, o que ela crê ser importante e o que ela quer. Somente assim eu poderei ser útil para ela e, com isso, conseguir as coisas que eu quero.

E somente então eu serei capaz de discernir se eu realmente quero estar envolvido com tal pessoa. Isso me permite selecionar bem as minhas relações, poupando-me de dissabores; e me permite também direcionar minhas energias apenas para aquelas pessoas com as quais eu realmente tenho mais coisas em comum.

Não é fácil resumir em poucas palavras aquilo que levei anos para aprender. Porém, talvez se você reler esse presente a cada Natal, seu significado ficará mais claro a cada ano.

Eu realmente espero que isso aconteça. Sendo seu pai, quero acima de tudo que você entenda essa simples verdade, a qual pode libertá-la para sempre.

Um Feliz Natal, minha filha!
Um FELIZ NATAL a todos vocês!!!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Aeroportos + Governo = Caos




A diferença entre Privatização e Concessão

Causou um pequeno frisson a recente notícia de que Dilma Rousseff "decidiu entregar à iniciativa privada a construção e a operação dos novos terminais dos aeroportos paulistas de Guarulhos e de Viracopos, dois dos principais do país.


Ainda de acordo com a notícia:

A medida faz parte de pacote que será baixado por meio de medida provisória — talvez ainda neste mês.
O texto inclui também a abertura do capital da Infraero (estatal responsável pela administração do setor aeroportuário) e a criação de uma secretaria ligada à Presidência da República para cuidar da aviação civil.
A equipe de Dilma já conversou com empresas como a TAM e Gol, que manifestaram interesse na construção e operação de novos terminais. O prazo da concessão deve ser de 20 anos.

A princípio, a notícia parece boa, pois é exatamente desse tipo de desestatização que o setor aéreo precisa: deixar que as empresas aéreas construam e controlem seus terminais aeroportuários.  Porém, a última frase do trecho acima nos traz de volta à realidade: trata-se apenas de uma concessão.

Qual o problema com concessões?  Para responder a essa pergunta, basta o leitor se colocar no lugar de um empreendedor qualquer (o único pré-requisito é ser minimamente racional).  Assim, partindo do pressuposto de que ninguém rasga dinheiro, faça a si próprio a seguinte pergunta: seria vantajoso eu despejar vários milhões de reais em uma obra que daqui a 20 anos será apropriada pelo governo?  Faria sentido eu me esforçar, fazer um trabalho realmente bem feito, investir ousadamente e prestar bons serviços aos consumidores, se daqui a 20 anos tudo isso será do governo?

É claro que não — e é justamente por isso que nenhum arranjo sob essas condições jamais seria firmado. Não há empreendedores tão irracionais a esse ponto.Logo, se tal arranjo sair, é certo que haverá um enorme aporte de financiamentos subsidiados via BNDES.Ninguém seria insensato a ponto de usar capital próprio em um empreendimento que futuramente será arrebatado pelo governo, mesmo que tal arrebatamento envolva altas restituições.  Portanto, as obras serão patrocinadas por nós, mas os lucros ficarão todos para as empresas aéreas e empreiteiras, que obviamente repassarão uma parte para as campanhas de seus políticos favoritos, como agradecimento pelo privilégio.  Somos acionistas sem direito aos dividendos, cabendo a nós apenas o financiamento compulsório.

É possível um arranjo desses gerar serviços genuinamente interessados em bem atender o consumidor?  Há algum estímulo ou concorrência?


Temos aí um ótimo exemplo de capitalismo de estado ou corporativismo.E o pior: tal artimanha já está sendo vendida sob o nome de 'privatização'. Tão logo a insatisfação pública com os (futuros) serviços inevitavelmente negligentes começar a se manifestar, a culpa obviamente recairá sobre a livre iniciativa — muito embora esta esteja totalmente fora do arranjo —, restando ao governo, como sempre, o papel de salvador e agente promotor do "bem comum".

Vale mencionar também a ideia de se abrir o capital da Infraero.Embora tal medida certamente irá melhorar os serviços prestados pela estatal (piorar é impossível), o fato é que na melhor das hipóteses teríamos algo como uma Petrobras: a empresa entrega o produto, mas com uma qualidade latrinária (a gasolina comum do Brasil não seria aceita em ferros-velhos americanos) e a preços monopolistas. 

Por fim, pra agradar a companheirada, haverá a criação de mais uma burocracia: uma secretaria ligada diretamente à Presidência da República com a missão de "cuidar" da aviação civil, representando ainda mais centralização de decisões — uma ideia de sucesso comprovado desde o desmantelamento da URSS.

Sobre o setor aéreo brasileiro

Até meados da década de 1990, o setor aéreo brasileiro era rigidamente controlado pelo governo.  A regulamentação determinava inclusive os preços das tarifas — ou seja, era o governo, e não o mercado, quem fixava os preços das passagens.Com preços arbitrariamente fixados (lá nas alturas), a concorrência entre as empresas aéreas se dava apenas nos detalhes, como qualidade do serviço de bordo e da comida, atenção dispensada pelos tripulantes, sorteios de quinquilharias a bordo ou entregas de brindes, frequência dos voos, e até mesmo a beleza das aeromoças (as da TAM eram particularmente imbatíveis).

Sob esse arranjo, os preços (muito) maiores permitiam que as empresas aéreas disponibilizassem uma maior frequência de voos em determinadas rotas, assim como um melhor serviço de bordo.  Entretanto, o índice de ocupação das aeronaves era baixo.  A partir do final da década de 1990, começou a haver uma maior flexibilização nos preços, porém estes ainda eram controlados.  Houve apenas um alargamento nas chamadas bandas tarifárias. Foi só em 2005 que as tarifas para os vôos domésticos foram completamente liberadas; e só em 2008 aconteceu o mesmo para os voos dentro da América do Sul.

Como resultado, o setor aéreo doméstico vivenciou uma explosão de demanda sem precedentes. Mesmo havendo poucas empresas nacionais de grande porte concorrendo entre si, essa desregulamentação já foi suficiente para desencadear uma notável disputa por passageiros.  Como agora as companhias aéreas concorrem com base no preço, as tarifas estão muito mais baixas do que estavam há dez anos — e isso em termos nominais; se considerarmos toda a inflação monetária havida nesse período, as tarifas em termos reais certamente estão no menor nível de toda a história do país.

Essa queda nos preços permitiu que muito mais pessoas pudessem fazer viagens aéreas, garantindo às companhias altos índices de ocupação.  E os resultados para a população, pelo menos em termos de capacidade e facilidade de locomoção, foram predominantemente positivos.  Após essa desregulamentação, as companhias aéreas reconfiguraram suas rotas e renovaram seus equipamentos, o que tornou possível vários aprimoramentos na capacidade de utilização das aeronaves.  Foram essas eficiências que genuinamente democratizaram as viagens aéreas, tornando-as mais acessíveis para a população de baixa renda.

O governo gosta de se vangloriar de que sua política econômica está permitindo que "o povo voe".  Ora, a única política do governo foi sair do caminho, abolindo barreiras que ele mesmo criou e que sequer deveriam ter sido criadas, pra começar.  O governo não fez nada; apenas deu mais liberdade para que a livre iniciativa fizesse mais coisas. Bastou permitir um pouco de livre mercado, e a classe operária pôde ir ao paraíso...

Gargalos — onde entra o governo

O problema é que até agora falamos apenas da parte positiva da história.  É claro que, em um setor cuja infraestrutura é totalmente controlada pelo estado, a história nunca poderia ser feliz para todos.  Afinal, o governo simplesmente não consegue acompanhar o ritmo de inovação e expansão do setor privado.


Para entender melhor o problema, vale a pena citar um conceito que em economia chamamos de 'indústrias de rede'.  Indústrias de rede são aqueles setores cujo bom desempenho depende essencialmente da utilização de infraestruturas físicas (as redes).  Exemplos de indústrias de rede — que são críticas para qualquer economia que se pretenda moderna — são o setor aéreo, os setores ferroviário e rodoviário, o setor elétrico e as telecomunicações.  A expressão indústria de rede advém do fato de que há um fluxo, uma corrente, circulando por uma rede.  O fluxo representa os elementos móveis dessa rede.  Por exemplo, os aviões, os trens, os automóveis, os caminhões, os ônibus, a eletricidade, as chamadas telefônicas e mensagens de texto representam o fluxo.  Já os aeroportos e o controle de tráfego aéreo, as ferrovias, rodovias e estações, as fiações e os cabos de transmissão, e o espectro eletromagnético são as respectivas redes — isto é, são a infraestrutura por meio da qual o fluxo se move.

A eficiência de toda uma rede depende inteiramente da qualidade da coordenação que há entre a rede e o fluxo.  Para que o fluxo interaja harmonicamente com a rede, esta tem de ter boa capacidade de operação.  E boa capacidade de operação depende essencialmente da qualidade das decisões de investimento nessa rede.  Quando o governo é o dono monopolístico dessa rede, mas o fluxo é feito por empresas privadas, operado em ambiente concorrencial e em busca do lucro, é impossível que o arranjo seja satisfatório para o usuário dessa rede.

E o resultado é que a maciça expansão que ocorreu na demanda por viagens aéreas não foi acompanhada de expansões comparáveis nem na infraestrutura física dos aeroportos e nem na tecnologia do controle do tráfego aéreo.  Como os aeroportos são administrados monopolisticamente pela estatal Infraero, a gerência governamental da rede aérea está sempre subordinada a ineficiências criadas por conchavos políticos, a esquemas de propina em licitações, a loteamentos de cargos para apadrinhados políticos e a monumentais desvios de verba — afinal, a estatal não busca o lucro, não precisa se submeter ao mecanismo de lucros e prejuízos do mercado, não tem concorrência e não deve transparência a ninguém.

O resultado é um enorme atrito entre fluxo e rede.  Voos atrasados por falta de infraestrutura e por irracionalidade na alocação do tráfego aéreo (atribuição da ANAC) já viraram uma paisagem definitiva nos aeroportos brasileiros.  Segundo notícias recentes, nos últimos dias os atrasos têm chegado a 34% dos vôos domésticos.
Seria interessante alguém algum dia fazer um estudo sobre o custo total anual que os atrasos aéreos trazem tanto para os passageiros quanto para as companhias aéreas. Afinal, além de fazerem os passageiros perderem tempo precioso, um maior tempo de solo para a aeronave significa mais custos para a companhia aérea com seu pessoal de solo e maiores valores desembolsados com taxas de permanência.

Além dos atrasos, o próprio estado calamitoso dos aeroportos é arrepiante. Chega a ser engraçado ver a cara de desespero de um estrangeiro que precisa fazer uma conexão internacional no aeroporto de Guarulhos.  Praticamente não há um sistema de informação digital indicando para qual portão ele deve prosseguir para pegar determinado voo.  Em qualquer país do Leste Europeu, por exemplo, você desembarca do avião e, só de ler os monitores, já tem perfeita noção do que deve fazer e para onde deve ir.  Ao estrangeiro que chega em Guarulhos, o maior aeroporto da América do Sul, resta apenas o pânico e a dependência da boa vontade dos outros passageiros que ali estiverem.  Os funcionários do aeroporto não falam inglês e estão sempre mal humorados.
A impressão é a de que você desembarcou em uma rodoviária egípcia.
Outro ótimo exemplo do estilo do gerenciamento estatal dos aeroportos foi relatado por David Neeleman, presidente da Azul.  Segundo ele:
É fundamental [...] que seja revisto o modelo de governança corporativa dos administradores aeroportuários, e em especial da Infraero. A Lei n.º 8.666 impõe à estatal uma série de obrigações e exigências que estão em total desalinho com a rapidez de decisões que a aviação exige. Testemunhamos decisões simples, como a concorrência pública para permitir a mudança do administrador de um estacionamento, ter seu resultado suspenso por mais de seis meses, por meio de liminar da Justiça, causando enormes transtornos aos clientes das empresas aéreas.
Ou seja, se uma decisão tão simples quanto escolher qual empresa irá gerenciar o estacionamento de um aeroporto ficou embargada por seis meses, causando transtornos para empresas e passageiros, imagine então questões infraestruturais bem mais complexas, como ampliações de terminais, construção de novas pistas ou mesmo construção de novos aeroportos?  Uma estatal não tem mecanismos racionais de precificação para tomar tais decisões. Principalmente decisões que exigem rapidez e racionalidade.

Ainda pior do que a Infraero é ver os burocratas do governo batendo cabeça, sem a menor noção a respeito de qual solução deve ser tomada.  Já se discutiu de tudo: uns querem abrir o capital da Infraero, outros querem dar ainda mais poder a ela, outros querem que a estatal fique apenas com os grandes aeroportos, outros querem que ela fique apenas com os pequenos e outros querem vendê-la totalmente.

Sugestões

É claro que, em um assunto como esse, todo mundo fica tentado a dar seus pitacos.  Existem sugestões boas, sugestões mirabolantes, sugestões factíveis e sugestões implausíveis.



Abolir a Infraero e entregar a gerência dos aeroportos para empresas privadas é uma excelente sugestão, mas tal ideia sempre esbarra na questão da concorrência: como garantir que os aeroportos sejam vendidos de forma a garantir o melhor arranjo concorrencial possível?  Aliás, esse é um problema relacionado à venda de qualquer ativo estatal.  Dado que é o governo quem comanda o processo de venda, sempre haverá privilégios, influências, desmandos e ineficiência.  Ademais, haveria uma briga acirrada pelos grandes aeroportos, e interesse praticamente nulo pelos pequenos.
Sendo assim, a sugestão mais fácil seria dizer que as próprias companhias aéreas é que deveriam construir e manter seus terminais, isoladas ou em grupo. Isso de fato seria o ideal.  O problema é que os aeroportos já estão construídos.  Essa é a realidade.  E são esses aeroportos que precisam urgentemente de reparos e de uma nova gerência.  Logo, como definir qual companhia aérea — ou, mais provavelmente, qual o pool de companhias aéreas — ficaria com Guarulhos, por exemplo?  Não é algo simples.Tampouco é algo que possa ser feito de maneira justa e imparcial, dado que os aeroportos foram construídos com recursos públicos.  Logo, não seria justo entregar a uma companhia aérea a administração de um grande aeroporto já em plena operação.  Afinal, tal cia. poderia perfeitamente impedir que outras companhias rivais utilizassem o aeroporto

Assim, apenas para enfatizar, é claro que as empresas aéreas devem ser totalmente livres para construir e operar seus próprios aeroportos.  Inclusive as estrangeiras, que deveriam ter total liberdade para operar no Brasil, ofertando voos nacionais (isso só não ocorre porque a ANAC não deixa; demanda para tal há de sobra).  Porém, os aeroportos já existentes (os grandes, pelo menos; aqueles que são o destino de várias aeronaves) deveriam ser inicialmente geridos por administradoras, e não por uma companhia aérea.

Um bom exemplo a ser seguido de privatização bem sucedida (privatização mesmo, e não concessão) ocorreu no Reino Unido, em 1987, quando o governo britânico vendeu a British Airports Authority, hoje conhecida apenas como "BAA Limited". 
Desde a privatização, a BAA — que administra os aeroportos de Heathrow, Stansted e Southampton, na Inglaterra, e Aberdeen, Edimburgo e Glasgow, na Escócia — conseguiu fazer com que seus aeroportos, os mais movimentados do Reino Unido, jamais ficassem saturados, pois sabe que isso é péssimo para os negócios.Se os serviços ali ficassem ruins, os passageiros poderiam simplesmente optar por pegar voos que desembarcassem em outros aeroportos locais, não administrados pela BAA (é como um sujeito poder escolher Viracopos ao invés de Guarulhos ou Congonhas, Galeão ao invés de Santos Dumont, ou Confins ao invés de Pampulha).

Para ter maior rentabilidade, a BAA expandiu a proporção da área de seus terminais voltada para atividades comerciais. Isso fez com que ela tivesse de expandir seus terminais para alojar mais restaurantes e lojas, diminuindo a saturação e aumentando o conforto.  Os passageiros são facilmente direcionados para essas áreas (tanto no embarque quanto no desembarque), maximizando assim a exposição desses complexos comerciais, que pagam um aluguel à BAA — apenas um exemplo de como pode se dar a rentabilidade de um aeroporto privado, além das tarifas que seriam cobradas das empresas aéreas por pousos, decolagens, querosene, estadia e pernoite das aeronaves.

Com uma administração privada, voltada para o lucro, e sem prazos de retomada dos seus ativos pelo governo — além da concorrência de outros aeroportos —, haveria um maior incentivo para se cuidar da infraestrutura aeroportuária, priorizando a segurança e o bem-estar dos passageiros, que são seus clientes.

Outra providência fundamental seria a desestatização do controle do tráfego aéreo, medida adotada com muito sucesso no Canadá e na Suíça, por exemplo.  No Canadá, o controle aéreo é operado por uma empresa chamada Nav Canada, que foi fundada pelas próprias empresas aéreas canadenses e por proprietários de aviões particulares.A empresa não recebe dinheiro do governo, como informa seu site. Já na Suíça, o controle aéreo fica por conta da empresa Skyguide, responsável pela segurança não só do espaço aéreo suíço, mas também de partes do espaço aéreo da Alemanha, França e Áustria. O financiamento da Skyguide advém de taxas pagas pela utilização de seus serviços.
Já no Reino Unido, o controle aéreo fica por conta da National Air Traffic Services (NATS), uma parceria público-privada cuja composição acionária é assim distribuída: 49% é do governo, 42% é de um consórcio de empresas aéreas (British Airways, BMI, EasyJet, Monarch Airlines, Thomas Cook Airlines, Thomson Airways e Virgin Atlantic), 4% é da BAA (a empresa que administra alguns aeroportos) e 5% é dos empregados da NATS.

Por que desestatizar o controle aéreo? Não se trata de um mero fetiche antiestado. Tampouco se está dizendo que uma empresa privada necessariamente terá um corpo técnico melhor que os militares do DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), que é subordinado ao Ministério da Defesa (assim como também o são a Infraero e a ANAC, embora esta última seja apenas vinculada, pois é administrativamente independente).

A questão principal, novamente, é a capacidade de gerência e a independência e rapidez de decisões. O controle do tráfego aéreo envolve uma constante alocação de tecnologia e de pessoal capacitado, e é patente que o DECEA não tem conseguido acompanhar os avanços da aviação mundial.  O resultado é que a expansão do setor aéreo não foi acompanhada de uma expansão na rede.  E o resultado foi um congestionamento tanto no espaço aéreo quanto nos aeroportos.

Um sistema que combine gerenciamento privado de aeroportos com um gerenciamento privado do controle aéreo parece ser a única solução capaz de fornecer uma melhor coordenação entre investimentos em infraestrutura, expansões da malha aérea, decisões operacionais dos aeroportos e redução do congestionamento e dos atrasos.  Por exemplo, a utilização de mecanismos de preços com a intenção de melhor alocar o tráfego aéreo seria uma excelente solução de mercado para aliviar os congestionamentos e alocar recursos de maneira mais eficiente.Agências estatais monopolistas, por não operarem em ambiente de mercado, não conseguem criar mecanismos de preços por meio dos quais se balizarem. É impossível um setor monopolizado pelo governo tomar decisões econômicas racionais, pois não o há um mercado para fornecer mecanismos de preços.  Consequentemente, é impossível fazer qualquer cálculo econômico racional.

Atualmente, o controle aéreo brasileiro organiza as operações de pouso e decolagem na base do "quem chegou primeiro" — um arranjo que cria abarrotamentos nas horas de pico. Um sistema baseado em precificações acordadas voluntariamente pelos participantes do mercado, e não por burocratas, reduziria esse congestionamento.  Uma das consequências seria justamente o uso de "tarifas de congestionamento", com os aeroportos e o sistema de controle de tráfego cobrando taxas maiores durante as horas de pico e taxas menores em horários de menor demanda, como durante as madrugadas.
Outra vantagem do sistema privado é que agora os aeroportos poderiam alocar livremente seus slots (horários de pouso e decolagem), baseando-se justamente nesse sistema de preços.
Atualmente, a ANAC se limita a fazer isso aqui, algo que é inadvertidamente cômico e que só pode fazer sentido no linguajar governamental: a agência quer limitar as operações em aeroportos porque isso iria, segunda ela, aumentar a concorrência.  É a velha crença de que limitar a oferta por meio de decretos governamentais irá magicamente solucionar os problemas de demanda.

Permitir que os aeroportos, em conjunto com o sistema de controle aéreo, criem sistemas de precificação anticongestionamento, e deixar que os aeroportos utilizem seus slots da maneira que for mais conveniente dentro desse arranjo, levaria a resultados muito melhores em termos de conforto para os passageiros.  Permitir que os aeroportos tenham total flexibilidade para precificar tarifas de decolagens e aterrissagens, baseando-se na oferta e demanda, também ajudaria a aliviar o congestionamento e a superlotação nos aeroportos.

Finalmente, retirar do estado — moroso, burocrático e corrupto — o monopólio da gerência dos aeroportos e de sua combalida infraestrutura, e deixar tal tarefa a cargo de empresas privadas operando em ambiente concorrencial, e que têm de agradar passageiros, seria a única solução não pirotécnica para o grave e extremamente perigoso problema aeroportuário brasileiro.

Conclusão

O setor aéreo é uma indústria de rede, porém apenas o elemento fluxo passou por uma relativa desestatização — muito embora as barreiras de entrada no mercado, limitadoras da concorrência, continuem firmemente controladas pela ANAC.

A infraestrutura dos aeroportos estatais está em frangalhos e o sistema de controle do tráfego aéreo está mal adaptado e mal equipado para fornecer serviços seguros para uma indústria dinâmica.  Mecanismos de preços de mercado acordados voluntariamente entre as administradoras dos aeroportos e o controle aéreo devem ser adotados para balizar o uso dos slots e dos terminais.Tal medida é bem mais eficaz do que meros decretos governamentais.

Com a crescente demanda por serviços aéreos, empresas estrangeiras deveriam ser liberadas para fazer voos domésticos, trazendo mais concorrência ao setor.  Da mesma forma, as companhias aéreas, independentemente da nacionalidade, deveriam ser liberadas para construir e operar aeroportos no Brasil, mas sem os privilégios dos regimes de concessão.  Elas devem fazer suas obras com capital próprio, tendo a garantia de que sua propriedade será respeitada.


Em suma: se houver uma genuína desestatização da rede, com a adoção de soluções de mercado, os benefícios da desregulamentação do fluxo irão aumentar sensivelmente, e os custos das viagens aéreas ficarão ainda menores, principalmente para vôos internacionais.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A riqueza e a pobreza ao longo da História





"Nós somos os 99%". Este slogan dos manifestantes do movimento Occupy Wall Street tem sido considerado a citação mais memorável do ano passado. Aqueles que se agrupam para se manifestar o fazem em oposição aos infames indivíduos membros do 1%.

Para estes manifestantes, ser membro do 1% significa ser o afortunado beneficiário de algum incentivo governamental, ou algum outro tipo de benefício corporativista. Mas para os socialistas igualitários do movimento, significa simplesmente ser muito rico. Eles dizem que o 1% mais rico do mundo está esbulhando uma fatia injusta de riqueza da sociedade, em prejuízo dos 99%.

Qualquer que seja sua opinião sobre a difícil situação atual dos 99%, ao longo de praticamente toda a história as coisas foram muito piores para a imensa maioria da população. Na era pré-capitalista, o típico membro dos 99%, desde que tivesse a sorte de sobreviver à infância, estaria condenado a uma vida de trabalho braçal extenuante e à pobreza, constantemente no limite da fome, da doença e da morte.

Os únicos indivíduos que não levavam esta vida miserável eram os pertencentes ao "1%" de então.  E esse 1% era virtualmente idêntico ao estado. Esse grupo era formado por reis franceses, lordes ingleses, senadores romanos, vizires egípcios e sacerdotes sumérios.  Os membros desta elite viviam em esplendor olímpico: servos a seu dispor, comida farta, habitações espaçosas, joias abundantes, e uma imensa quantidade de tempo ocioso.

É claro que esse estilo de vida se apoiava nos ombros das massas. Eram os 99% que produziam o pão que enchia a boca e o estômago dos abastados membros do 1%, que derrubavam árvores para erguer as mansões deles, e que extraíam da terra os metais e pedras preciosos que adornavam seus corpos.

Tudo o que os manifestantes dizem hoje sobre os 99% e o 1% estaria totalmente correto naquele tempo. A riqueza da sociedade era um bolo de tamanho fixo. Quanto maior a fatia abiscoitada pelo 1%, menos sobrava para os 99%. Cada pequeno luxo desfrutado pelo 1% era retirado de recursos que poderiam tornar menos miserável a vida de algum membro dos 99%.

Por que os antigos 99% aceitavam esse domínio do 1%?  Por que não se revoltavam e destronavam seus senhores?  Estariam eles simplesmente intimidados pelas armaduras e pelas espadas reluzentes?

Não. Como assinalou David Hume, já que "aqueles que são governados" sempre superam vastamente em número "aqueles que governam", o poder de um regime nunca se sustenta somente na força bruta. Os muitos "governados" têm de acreditar que o poder dos poucos mandatários é bom para eles, de alguma forma.  

Talvez os sacerdotes tenham convencido o povo que os deuses ficariam furiosos se os dirigentes fossem desobedecidos, ou que a chuva não viria e que as plantações não cresceriam. Ou talvez o populacho acreditasse que os dirigentes sejam os responsáveis pela paz e pela ordem na sociedade.

Os 99% não apenas apoiavam o 1% dominante, como também os veneravam em grandiosos pedestais. Os 99% concediam o poder ao 1%.

Como Ludwig von Mises deixou claro, o poder real — que ele chamava de "força ideológica" — sempre depende da opinião pública. Se a opinião pública mudar a respeito de qualquer regime, os dias deste estão contados.

Mises foi ainda mais longe ao argumentar que a opinião pública determina não apenas quem está no comando, como também a característica geral da ordem legal — ou, como ele diz, ela determina "se existe liberdade ou servidão".

Em última análise, a única forma de tirania que pode durar é uma opinião pública tirânica.

A luta pela liberdade, no fim das contas, não se trata da resistência contra autocratas ou oligarcas, mas sim da resistência contra o despotismo da opinião pública
.

Se os 99% de qualquer país ou regime econômico são oprimidos, eles fundamentalmente são seus próprios opressores; são eles próprios que, em decorrência da própria e tirânica opinião pública, se subjugam e não apenas aceitam a opressão de seus opressores, como também a defendem
.

Isso explica a situação política da velha ordem (de qualquer ordem, na verdade).  E quanto à situação econômica da antiguidade?  Por que o "bolo da riqueza" raramente crescia?

Era de se supor que, com o passar do tempo, as pessoas se tornariam mais eficientes na produção de bens, o que elevaria o nível de vida. Ainda assim, por séculos, a vida quase não melhorou.

As raízes desta estagnada situação econômica podem ser encontradas na ordem política descrita acima.

Repetindo: ao longo da maior parte da história da civilização, o 1% tomou para si uma grande parte do que era produzido pelos 99%.  E se algum indivíduo porventura conseguisse acumular riqueza suficiente ao ponto de ser notada, algum potentado a confiscaria também.  É por isso que tesouros enterrados eram práticas comuns onde quer que os soberanos se mostrassem particularmente ávidos.

Com tão violento e desenfreado confisco governamental, nunca havia incentivos para a acumulação de capital em grande escala. Sem essa acumulação de capital em grande escala, era impossível ter produção em massa. E sem a produção em massa, era impossível melhorias generalizadas nas vidas das massas.

E esse é basicamente o motivo pelo qual os 99% viveram vidas maltrapilhas por quase toda a história.

E então, nos séculos XVIII e XIX, aconteceu algo realmente revolucionário.  Um grupo de filósofos se dedicou a pensar com muito cuidado a respeito de coisas como propriedade, comércio, preços e produção. Estes filósofos foram chamados "economistas".

Ao analisar as leis econômicas que eles haviam descoberto, os economistas concluíram que a sociedade seria muito mais produtiva quanto mais respeitada fosse a propriedade privada. "Laissez faire et laissez passer", disseram os economistas.  Deixem as pessoas controlar suas propriedades o mais completamente possível, e todos serão mais prósperos.

Esses filósofos econômicos, pessoas como Richard Cantillon, Adam Smith e J. B. Say, eram teóricos.  Eles escreveram livros brilhantes, ainda que empolados, que mudaram as mentes dos comunicadores: indivíduos a quem F. A. Hayek chamou de "negociantes indiretos de ideias".

Dentre eles, havia comunicadores profissionais: escritores como Richard Cobden, e oradores como John Bright. Estes escritores e oradores escreveram panfletos e proferiram discursos que mudaram as mentes de muitos indivíduos reflexivos, ainda que menos eloquentes, a quem podemos chamar de comunicadores amadores. E esse estrato pensante, por sua vez, levou seus colegas não pensantes (os quais podemos chamar modernamente de "manada") a mudarem suas posições a respeito de questões públicas.

Por esse processo, a opinião pública mudou de direção, passando a acreditar que um governo deveria ser o mais limitado possível, e os direitos de propriedade, os mais sacrossantos possíveis.  Em suma, a opinião pública mudou e adotou uma doutrina chamada de "liberalismo".

Mais uma vez, o modo como uma sociedade é organizada depende da opinião pública.
Assim como a opinião pública mudou, a política também mudou. O capital privado tornou-se mais seguro. Restrições ao comércio foram removidas. Barreiras aos negócios foram abolidas. A propriedade privada reinou suprema, como nunca antes.

E os resultados foram miraculosos. Como nunca antes na história, as energias produtivas da humanidade foram liberadas. Itens antes reservados para a elite do 1% logo foram produzidos em massa para os 99%. Amenidades que nem existiam antes foram desenvolvidas — primeiro, para pequenos mercados; após um tempo, para todas as massas.

A produção de simples necessidades disparou. As populações ao redor do mundo beneficiadas pelo liberalismo explodiram. Pessoas que viviam à margem, e que em outras circunstâncias morreriam, conseguiram subsistir.  E aqueles que em outras circunstâncias estariam condenados a passar toda a sua vida chafurdando em uma servidão vulgar tornaram-se capazes de levar uma vida de conforto e refinamento.

Nesta nova ordem, ainda havia os 99% e o 1%. Mas os 99% desse período viviam melhor que o 1% de épocas passadas. E o principal meio para se ascender ao 1% era sendo um empreendedor capitalista de sucesso: se esforçar para servir aos 99% (a massa de consumidores) de uma maneira melhor e mais eficiente do que seus competidores.

Na velha ordem, a maioria dos candidatos a se tornar parte do 1% precisaria, para subir na vida, apenas usar suas habilidades e ambições políticas para ser conquistadores, governantes, administradores governamentais, e, nesses papéis, explorar as massas. Na nova ordem, sob o que Mises chamava de "soberania do consumidor" no mercado, as habilidades do 1% foram direcionadas para prover as massas de consumidores soberanos.

Os mestres tornaram-se servos. Servos abastados, mas ainda assim servos.

A revolução ideológica liberal engendrou uma revolução industrial. E o que Mises chamou de "Era do Liberalismo" durou de 1815 a 1914: um século de ouro no qual a humanidade teve pela primeira vez uma vaga ideia do que era realmente capaz.

Tragicamente, a Era do Liberalismo foi encerrada por uma contrarrevolução ideológica: uma onda de pensamento estatizante, responsável por todos os infortúnios do século XX, bem como pelas atuais crises econômicas e geopolíticas.

Agora, os 99%, dominados por ideias inconsistentes, estão novamente oprimindo a si mesmos. Graças ao estado calamitoso da opinião pública, as classes do 1% estão novamente sendo preenchidas, não por capitalistas empreendedores servindo aos 99%, mas sim pelo estado e seus apadrinhados, que exploram e empobrecem os 99%. E caso as soluções redistributivistas vociferadas pelos pretensos 99% sejam de fato implementadas, elas iriam apenas acelerar esta tendência.  Voltaríamos à era pré-capitalista. 

Se nossa civilização for salva — isto é, se a maré da opinião pública virar algum dia —, será graças às sólidas ideias formuladas por teóricos como Mises e aos intelectuais que seguem sua tradição.  Mas isso só poderá ocorrer caso estas ideias sejam efetivamente disseminadas por uma nova geração de comunicadores.

É por isso que o Mises Institute, o Mises Brasil e todos os outros institutos voltados à disseminação de ideias libertárias são tão vitais. É por isso também que os comunicadores amadores desta geração — que espalham a mensagem da liberdade por meio de posts no Facebook, vídeos no YouTube e afins — são de enorme importância.

Como escreveu Mises,

O florescimento da sociedade humana depende de dois fatores: da capacidade intelectual de homens excepcionalmente dotados de conceber teorias sociais e econômicas sólidas e da habilidade destes ou de outros homens em tornar estas ideologias aceitáveis pela maioria.

Que
as ideias sólidas vençam, e que a sociedade humana finalmente volte a florescer.


sábado, 24 de novembro de 2012

A Esquerda Bárbara


Estes bárbaros desfrutam hoje da hegemonia cultural, que se traduz em votos. Tudo o que atacam parece fazer cada vez menos sentido na cultura que persistem em tentar remodelar. A sacralidade da vida? Não! Nas velhas eras pagãs, valia a lei do mais forte, ou o desejo dos líderes. Sexualidade saudável, dentro da família? Não! No mundo antigo, tudo se resumia a penetrador e penetrado. E gritam: “somos a vanguarda, num novo ‘momento histórico’”. Mas o que promovem mesmo é o retorno aos velhos tempos pagãos pré-cristãos.
Estes bárbaros desprezam a individualidade da pessoa, bem como seu valor intrínseco. Nivelando todos os valores, dizendo que são todos subjetivos, querem mesmo é que César diga o que é certo ou errado. O resto não passa de “constructo social”. Da suprema blasfêmia a essa paganismo segue um trecho: “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens sejam criados de modo igual e providos pelo Criador de certos direitos inalienáveis; entre eles, a vida, a liberdade e busca da felicidade”.
Estes bárbaros enaltecem o poderio de César. Pela saúde, pela paz, pela educação, alegam. Sempre se frustram, mas não se permitem atentar para o real. E, para tanto, não são nada discretos em sua sanha de controlar escolas, mídia e a produção cultural, visando uma modelagem comportamental em larga escala. Subjetividade e autonomia da consciência individual é escândalo ao mundo antigo: “Estes homens, ó Nabuconosor, não te respeitaram; a teus deuses não serviram, nem adoraram a estátua de ouro que levantaste”. Os bárbaros não toleram o homem livre, senhor de suas próprias ideias e princípios.
Estes bárbaros sacralizam a natureza. Que não toquem nas árvores e nos micos-leões! E que em nome deste panteísmo não se plante, não se construa, não se aumentem as famílias e a população. “Não é ‘sustentável’”, clamam. Agora com legitimidade jurídica, o humano volta a ser uma besta servil de forças misteriosas das florestas, como nas velhas eras pagãs.
Estes bárbaros abortam. Para eles vale mais o bem estar da tribo do que a vida por si mesma. E os fetos se reduzem a assunto de saúde pública, a consequências indesejáveis da promiscuidade das militantes que, sem dó, esquartejam e expelem suas crias. Nas velhas tribos bárbaras, deidades crúeis sacralizavam o prazer. No velho mundo bárbaro, as chamas de Moloque recebiam os pequeninos, e as trombetas do deus pagão cobriam seus últimos e agonizantes choros.
Estes bárbaros, ontem, como hoje, desprezam o Deus de Israel e seus princípios. Não é à toa que abominam o Ocidente, fruto civilizacional da cosmovisão judaico-cristã, que em tudo afronta esses nostálgicos das eras pagãs. Que em tudo denuncia a barbárie decorrente da ausência daquele Espírito que, onde habita, ali há liberdade (II Co. 3:17).
Estes bárbaros mal disfarçam em ideologias suas velhas crenças pagãs. O pastor Wurmbrand bradou: “Marx era, na verdade, um satanista”. A bruxa Margot Adler fez questão de mostrar o quanto o paganismo inspirou o feminismo desde seus primeiros momentos. Eric Voegelin e outros autores perceberam o quanto as ideologias utópicas que mataram milhões no século XX se assemelham, em tantos aspectos, a antigas crenças gnósticas. Peter Gay afirmou que o Iluminismo foi o berço do paganismo moderno e outros historiadores já afirmaram que este período, para além da imagem pública, foi mesmo um festival de bruxaria e ocultismo. Dentre os inspiradores da United Religions Initiative, hoje tentáculo da ONU, não se pode excluir nomes como Madame Blavatsky e Aleister Crowley. Como Lee Penn bem denuncia em seu livro False Dawn, esta instituição está claramente determinada a obstruir a evangelização cristã, sempre em nome da promoção ecumênica da paz mundial, incriminando os cristãos conservadores como intolerantes. Buscando reduzir o cristianismo a mero ativismo social, promove uma nova espiritualidade global, uma religião de plástico que irá dar novo valor a velhas práticas ocultistas e teosóficas.
Estes bárbaros também sabem se disfarçar de cristãos. Estes bárbaros sabem se infiltrar em instituições e veículos de mídia que se afirmam como defensores e divulgadores do cristianismo. Estes bárbaros sabem que a fé cristã diz respeito a todas as áreas do conhecimento: política, arte, economia, psicologia, ciência, filosofia, etc. E por isso que em tudo atrapalham os cristãos, impedindo-os a perceber as inúmeras riquezas deste legado com o qual Deus os presenteou, tendo anteriormente concedido a eles a salvação, por meio do sacrifício do Senhor Jesus Cristo.
Estes bárbaros sabem que, no momento em que os cristãos se posicionam e contra eles se opõem, começam a ter sérios problemas.
Estes bárbaros, seguindo o deus deste século, sabem que vivem na mentira. E que “não prevalecerão no dia do juízo” (Sl 1:5).
Em resposta ao que Edson Camargo escreveu acima, foram dadas as seguintes repostas:
O Decálogo  
Em 1913, Lênin escreveu o "Decálogo". Trata-se de um documento contendo 10 itens que apresentam ações táticas para a tomada do poder. Este mesmo documento é a cartilha de como o PT (e outros partidos esquerdistas) realmente agem nos bastidores.

Um aviso importante: qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência! É pura realidade!
Vejamos o que diz o "Decálogo":

1 – Corrompa a juventude e dê a ela total liberdade sexual;

2 – Procure se infiltrar nos meios de comunicação de massa, e depois controle todos eles;

3 – Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a promover discussões sobre assuntos sociais;

4 – Destrua a confiança do povo em seus líderes. Faça com que eles fiquem com a imagem denegrida perante a opinião pública;

5 – Fale sempre sobre democracia e em Estado de Direito; mas assim que puder (e tão logo haja a primeira oportunidade), assuma o poder sem nenhum escrúpulo;

6 – Colabore para o esbanjamento do dinheiro público; coloque em descrédito a imagem do País (principalmente no exterior), e provoque o pânico e o caos na população por meio da inflação;

7 – Promova greves, mesmo ilegais, nas indústrias vitais do País;

8 – Provoque distúrbios sociais e contribua para que as autoridades constituídas não as proíbam;

9 – Contribua para a destruição dos valores morais, da honestidade e da crença nas promessas dos governantes. Nossos parlamentares infiltrados nos partidos democráticos devem acusar os não–comunistas, obrigando-os, sem pena de expô-los ao ridículo, a votar somente no que for de interesse da causa socialista;

10 – Procure catalogar todos aqueles que possuem armas de fogo, para que elas sejam confiscadas no momento oportuno, tornando, deste modo, que seja impossível oferecer qualquer resistência à nossa causa.

Anexo ao mesmo "Decálogo", tem mais um outro documento intitulado "Os 10 princípios da esquerda". Vejamos quais são estes mesmos princípios:


Os 10 princípios da esquerda

1 – Os esquerdistas crêem que não existe moral. Na verdade, os esquerdistas crêem apenas na moral que for favorável a eles mesmos, isto é, "não roubar" vale somente para os outros (mas os esquerdistas podem roubar à vontade para si próprios e para aqueles que os ajudam);

2 – Os esquerdistas promovem o anti–convencional, violentam os costumes e preferem a descontinuidade. Não gostam de seguir certas regras diferentes das que eles mesmos criam;

3 – Os esquerdistas derrubam tudo que seja pré–estabelecido. São, por natureza, contra todo e qualquer sistema padronizado (que contém princípios já determinados há muito tempo);

4 – Os esquerdistas agem com imprudência e irresponsabilidade, não importando quais prejuízos venham a causar aos que estão sob seu comando;

5 – Os esquerdistas desejam a uniformidade universal: todo mundo igual (exceto eles, quando estão no poder usufruindo dos privilégios);

6 – Os esquerdistas não se impõem limites e acreditam que podem melhorar, aperfeiçoar e acabar com as imperfeições de tudo, inclusive do próprio ser humano. Para fazer uma omelete, é preciso quebrar os ovos (mas eles partem para quebrar todos os ovos, mesmo que não consigam fazer omelete alguma);

7 – Os esquerdistas são contra a liberdade e a propriedade privada. Preferem a escravidão, embora a chamem, de maneira sutil, por outros nomes: igualdade, responsabilidade social, justiça social, senso de coletividade, etc;

8 – Os esquerdistas impõem coletivismo forçado. Tudo deve ser de todos (mas somente sob controle total do Estado);

9 – Os esquerdistas desejam o poder desmedido e a liberação de todas as paixões humanas (marxismo clássico e marxismo cultural);

10 – Os esquerdistas não querem estabilidade: pregam a revolução perpétua. Dizem promover a paz, mas são os maiores incentivadores de todas as guerras e lutas armadas.
Diante disso tudo que foi mostrado aqui, eu pergunto a todos: alguém ainda tem mais alguma dúvida das reais intenções do governo do PT (e de outros partidos com a mesma agenda política)?
Infelizmente, tanto o nosso sistema educacional como também o religioso foram contaminados por idéias esquerdistas, marxistas, comunistas e socialistas.
No caso da educação, o que acontece é o seguinte: da escola primária à universidade, todos são educados na mentalidade socialista de que o governo deve sempre atender às necessidades de todos (e, principalmente, que todos devem ser submissos ao mesmo governo).

A mesma coisa acontece em algumas igrejas e seminários: devemos sempre ter compaixão pelos pobres e necessitados, e ser contra os opressores (no caso, os ricos).

E o que os professores, padres e pastores (que são doutrinados nas mesmas idéias) ensinam a todos? A mesma ladainha de sempre:


– O rico é o principal culpado pela pobreza e pela miséria do mundo;

– O capitalismo é um sistema onde uma minoria fica rica e a maioria vive na pobreza;

– O capitalismo é desumano, pois o pobre, para sobreviver, é obrigado a vender sua força de trabalho ao rico;

– O pobre trabalha para dar lucro ao rico. Muitas vezes, trabalha o dia inteiro e só recebe o valor equivalente a apenas uma única hora de trabalho (isto é, trabalhou de graça para o rico na maior parte do tempo);

– O capitalismo é egoísta, pois o rico só quer o melhor pra si (e nem se preocupa com o pobre);

– O governo tem que tirar dos ricos para dar aos pobres;

– O socialismo é o único governo capaz de promover a igualdade social para todas as pessoas;

– Jesus ama os pobres e oprimidos e tem ódio dos ricos. E ainda citam as palavras que Jesus diz sobre isso: "É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus" (Mateus 19:24)


Todos já saem da escolas, universidades, igrejas e seminários após terem sofrido essa lavagem cerebral. Aí já fica gravado na mente de todos (e já se torna um pensamento comum) que toda a miséria do mundo é causada pelo rico, que o rico vai para o inferno após a morte, que o pobre deve sempre permanecer na pobreza (fingida ou conveniente em certos casos), e que o pobre deve sempre confiar no governo (leia-se políticos esquerdistas) e nas suas propostas de melhoria ou de ajuda (como o "Bolsa–Família" e outros assistencialismos eleitoreiros)!

Eu pergunto:

– Não é exatamente isto o que acontece nas nossas escolas, universidades, igrejas e seminários?

– Não é exatamente esta a propaganda que os partidos marxistas, esquerdistas, comunistas e socialistas (como o PT e outros partidos com a mesma agenda política) divulgam em toda a mídia (para iludir o povo que não é politicamente conscientizado)?

Deixo estas perguntas no ar para alguém daqui responder na primeira oportunidade!