domingo, 18 de agosto de 2013

A falsa panacéia das "soluções políticas"



Paul Johnson demonstrou magistralmente, em seu extraordinário livro "Tempos Modernos", já no primeiro capítulo, intitulado "Um mundo relativista", que o maior mal de nossos tempos — que começou a se desenvolver em fins do século XIX, ganhou força no século passado e persiste até os nossos dias, é a crença nas chamadas "soluções políticas".  Johnson argumenta com boa fundamentação que essa praga tem como causa a "morte de Deus", decretada por "medida provisória" baixada por Nietzsche (que, paradoxalmente, foi um defensor do livre mercado) e que deixou o ocidente a descoberto, com um vazio de poder que acabou sendo preenchido pelo mito da "vontade política".  Ainda naquele capítulo ele mostra que a relativização do mundo foi encorpada por intelectuais que se seguiram a Nietzsche: em 1915, quase ninguém entendeu o que Einstein — que nunca foi um relativista moral! — queria dizer com sua teoria da relatividade e, matreira e solertemente, levaram a coisa para o lado moral. Pronto! Passava a não existir mais o certo e o errado, porque, afinal, "tudo é relativo". Johnson cita a psicanálise de Freud e a economia de Keynes como resultados dessa relativização moral.

Não pretendo aqui discutir religião, mas tão somente ressaltar que foi a partir dessa gênese relativista que os valores morais até então inquestionáveis e aceitos voluntariamente durante séculos em nossas sociedades passaram a ser "relativizados": assim, valores fundamentais, como a propriedade privada e as liberdades individuais começaram não apenas a ser questionados sob o ponto de vista moral ou jurídico, mas atacados sob o pretexto de que caberia aos estados (isto é, a pessoas exatamente iguais às demais) tomarem as decisões mais importantes em todos os campos da existência humana, já que os iluminados do governo saberiam o que era melhor para todos, para o coletivo, para o formigueiro humano, para o "social".  

Você já parou para pensar no mal que isso representou e continua representando para a humanidade? Se ainda não o fez, convença-se de que as maiores barbaridades do século XX — a saber, o comunismo e o nazismo — foram consequências diretas desse vácuo de poder, de que se aproveitaram verdadeiros monstros como Hitler, Lenin e dezenas de outros. Já que não existiria mais uma verdade absoluta, tradicional e consagrada há séculos e que forjou toda a civilização ocidental, então tudo, praticamente tudo, poderia ser relativizado. Muitos milhões de assassinados pagaram o preço dessa maluquice, ou porque se opunham às ideias dos ditadores ou porque pertenciam a "classes" ou "raças" tidas por eles como lesivas ou prejudiciais aos interesses dos mandatários. Foi a fase — e, por incrível que pareça, ainda não saímos dela, basta olharmos para alguns dos atuais governos da América do Sul — do poder pelo poder.

Em outro soberbo livro, Os Intelectuais, Paul Johnson mostra como muitos deles, sem terem jamais se dado sequer ao trabalho de pegar em um martelo para pregar um quadro em uma parede, passaram a ditar, sentados em mesas de bares, o que era bom e o que era ruim, sempre de acordo com o seu ponto de vista, considerado obviamente como superior ao do homem comum, que é aquele que faz o mundo real funcionar.  Goebbels e Antonio Gramsci (especialmente o segundo), Sartre e outros — todos festejados como "mentes brilhantes" — deram o toque final a esse processo de imbecilização coletiva fantasiada de boas intenções, e ai de quem se opunha ou — ainda! — se opõe a essa horda de barbarismo revestida de "modernidade". A última manifestação dessa endemia que se transformou em epidemia e depois em pandemia é a chamada "ditadura do politicamente correto".

Assim, se Fulano roubou alguém, a culpa não foi dele, mas da "sociedade"; se Beltrano estuprou uma mulher, a culpa foi do "sistema"; se alguém fuma um cigarro em um estádio de futebol é visto como um pária; se um zagueiro comete uma falta violenta contra um adversário e imediatamente levanta os braços para fazer ver ao árbitro que não fez nada demais, isso é visto como natural, pois todos fazem assim; se um deputado desviou recursos públicos para sua conta pessoal, o culpado é o "capitalismo" que endeusa o dinheiro; se magistrados colocam parentes em empregos públicos ganhando altíssimos salários, é claro que não deve haver qualquer culpa envolvida nisso, pois, afinal, é tudo natural; o que vale é o momento, é o prazer, o hedonismo, os ganhos fáceis, a vida da cigarra, já que as formigas são tremendamente "conservadoras e otárias" porque valorizam o trabalho árduo e a poupança. Sim, as formigas são as mais antigas neocons de que se tem notícia...

Quem ainda não ouviu algum comentário do tipo "ih, não se meta nisso, porque foi uma "decisão política" da direção da empresa"? Ou, na universidade, "não questione essa decisão, porque ela é apoiada pelo reitor", ou, ainda, "tal medida foi uma decisão política do ministro"? Já pararam para pensar nesses absurdos aceitos ou como verdades inquestionáveis ou como meras ordens a serem cumpridas? Já refletiram que isso vai — como foi e vem acontecendo — minando a capacidade de raciocinar das pessoas, ou seja, vai desumanizando o homem?

Eis a verdade, meus amigos, clara como a água mais cristalina, mas que a imensa maioria não consegue enxergar, porque foi habituada, ensinada, doutrinada, bombardeada para agir como bois ao som do berrante do boiadeiro: estamos vivendo em uma sociedade que a cada dia se torna mais desumanizada, em que a dignidade da pessoa humana de pouco ou nada vale. Essa crença cega nas pretensas "soluções políticas" foi sendo inoculada nas pessoas passo a passo, vagarosa e calculadamente e se alastrou pelos corpos das sociedades como um veneno mortal.

É urgente combater o relativismo moral e suas "soluções políticas", a começar pelo resgate da família e seus valores, da importância da formação moral das crianças por parte dos pais (e não dos professores de História inteiramente embriagados de marxismo) e da imprescindibilidade da liberdade responsável, que é aquela liberdade de escolher sabendo o que é certo e o que não é certo. 

Já pensaram também por que nosso povo está indo às ruas para protestar? Estão pretendendo o quê com os protestos: mais "soluções políticas"? É o que parece.

Na economia, desde que Keynes, em outra "medida provisória", estabeleceu a máxima, tida por quase todos os economistas como inquestionável, a de que poupar faz mal à saúde da economia e gastar faz bem, uma tremenda e gigantesca guinada nos fundamentos morais da ciência econômica, as "soluções políticas" passaram a substituir as decisões individuais voluntárias, os mercados passaram a ser vistos como um perigo para os pobres e os ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais como grandes iluminados salvadores de suas pátrias. O resultado dessa imoralidade representada pelo keynesianismo pode ser visto facilmente, como um relâmpago em uma noite escura: déficits orçamentários crescentes, endividamento público maior do que o "tamanho da economia", inflação, desemprego, crises em cima de crises e gerações de jovens que não encontram empregos, como vem sucedendo na Europa, antes badalada como um paraíso da social democracia.

James Buchanan e Gordon Tullock, os dois principais autores da Public Choice School, mostraram claramente que Keynes, um imoralista assumido, politizou a teoria econômica e seu trabalho foi justamente fazer o oposto: levaram os princípios básicos da teoria econômica para analisar o processo político, mostraram como isto pode ser feito e concluíram que os chamados "homens públicos", tal como os mortais comuns, agem de acordo com seus próprios interesses e não tendo em vista o chamado bem comum. Ou seja, os políticos agem — para usarmos o jargão econômico convencional — com o intuito de "maximizar a sua utilidade" e não a dos seus eleitores.

E, desde seus primórdios com os pós-escolásticos, passando por seu fundador Menger e por Mises, Hayek, Rothbard, Kirzner e praticamente todos os seus economistas, a Escola Austríaca de Economia sempre se posicionou contra a falsa panaceia das "soluções políticas", porque sempre entendeu com muito maior clareza — e com uma metodologia bastante superior à das escolas rivais —, que os mercados são processos de intercâmbio voluntário que jamais puderam, podem ou poderão ser substituídos por pretensas "soluções", que de soluções nada têm. Hayek, em especial, mostrou, especialmente em seu famoso artigo O uso do conhecimento na sociedade que o conhecimento, em termos de assuntos sociais, é sempre insuficiente e se apresenta de forma dispersa. E que os planejadores dos governos não são super-homens que se situem acima desse fato elementar. 

Portanto, nada melhor do que os próprios envolvidos nas situações concretas para resolverem os seus problemas concretos. As "soluções políticas" já nascem fadadas ao fracasso. Na verdade, elas são, por si mesmas, sinônimos de fracassos. A Escola Austríaca de Economia é moralmente superior às demais porque respeita os princípios, valores e instituições de uma sociedade livre e virtuosa. O texto de Hayek, claramente, é uma defesa do conhecido Princípio da Subsidiariedade, que se baseia na ideia de que é moralmente errado retirar-se a autoridade e a responsabilidade inerentes à pessoa humana para entregá-la a um grupo, porque nada pode ser feito de melhor por uma organização maior e mais complexa do que pode ser conseguido pelas organizações ou indivíduos envolvidos diretamente com os problemas. A subsidiariedade decorre de três importantes aspectos da própria existência humana: a dignidade da pessoa humana, a limitação do conhecimento enfatizada por Hayek e a solidariedade.

Por tudo isso e como estou farto de dizer e escrever, temos uma tarefa gigantesca pela frente, que é a de fazer as pessoas voltarem ter noção de que há atos moralmente certos e atos moralmente errados, tanto no campo da economia, como no das relações pessoais, no da atividade política, na prática dos esportes, enfim, em todas as nossas ações. Obviamente, há ações que podem ser chamados de moralmente neutras, como, por exemplo, a de chupar um picolé, mas a maioria de nossas escolhas reflete os valores morais que recebemos desde muito cedo e que desenvolvemos com o passar dos anos. Muitos dos que estão indo às ruas protestar contra este ou aquele político corrupto, será que não agiriam de maneira parecida caso estivessem no lugar do mesmo?

Essa tarefa enorme e hercúlea que temos pela frente, a meu ver, transcende rótulos de qualquer natureza. Não me agradam esses rótulos. Nunca me agradaram, porque são superficiais. Em termos de filosofia moral, sou um "conservador", mas em termos de teoria econômica, sou um "libertário". E aí, como é que fica? De forma semelhante, alguém pode ser um "progressista" em termos morais, mas um "conservador" em termos políticos. E aí? Rótulos rútilos só servem ou para xingar alguém ou para confundir incautos...

Acima dos rótulos, temos que lutar contra a panaceia das "soluções políticas", que nos ronda como urubus sobre a carniça. Se mostrarmos que estamos vivos, nos mexendo, lutando, poremos os urubus para correrem, ou melhor, para voarem para outras plagas. E se quisermos saber qual é o ninho os corvos, veremos que é o relativismo moral.


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Quando a racionalidade ruir, a economia ruirá também



A teoria da escolha racional nos diz que as pessoas querem as coisas boas e que elas querem pelo preço mais baixo. Sendo assim, o homem econômico é um agente racional. Ele mede os custos e os compara com os benefícios. Evidentemente, os homens também são agentes irracionais capazes de más interpretações propositais acerca dos seus interesses econômicos. Nos tempos atuais, como em nenhum outro, a irracionalidade está se tornando uma força em si que dita a economia e subverte as bases do pensamento racional ao privar o indivíduo da escolha e ceder essa oportunidade apenas aos burocratas do governo.
Muitos anos atrás, o economista austríaco Ludwig von Mises salientou que as nações eram prósperas conforme o grau ao qual elas “colocam obstáculos no caminho do espírito da livre iniciativa e da iniciativa privada”. Se olharmos hoje, tanto na América quanto na Europa, perceberemos que à grande crise econômica do nosso tempo não foi oferecida nenhuma solução sã tirada de cuidados estudos, pois o que foi oferecido foram ideias anticapitalistas pré-concebidas retiradas de ideias e métodos que caíram há muito em descrédito.
Em 1956, Mises escreveu:

“O povo dos Estados Unidos é mais próspero que os demais habitantes do planeta porque seu governo embarcou mais tarde que os demais governos do mundo na política de obstrução dos negócios. Não obstante, muitas pessoas, especialmente os intelectuais, odeiam passionalmente o capitalismo”.

Agora estamos aqui, 50 anos depois, testemunhando o triunfo desse ódio. A América não é mais o próspero país que foi outrora. Os negócios estão sendo obstruídos por meios inimagináveis nos anos 1950. (Veja o vídeo do Free MarketAmerica intitulado 
The Big Green’s True Colors, leia o blog Cap and Trade da Agência de Proteção Ambiental dos EUA ou leia o regulations.gov a partir da perspectiva de um fazendeiro, rancheiro ou pescador.)
O que quer que tenha acontecido ao final da Guerra Fria, não foi a derrota do socialismo, pois uma nova formação anticapitalista com atributos ambientalistas está se formando. Mesmo com a foice e o martelo se retirando do Kremlim, a coruja vem se tornando o grito de guerra daqueles que querem destruir o capitalismo e a liberdade de mercado no Grande Noroeste. Considere, por exemplo, as evidências apresentadas no site Discover the Networks, que começa afirmando: “Os ambientalistas radicais e os grupos ativistas aos quais eles são afiliados normalmente veem o capitalismo de livre mercado como um sistema econômico que é inerentemente o destruidor do mundo natural”. Portanto, não é preciso nem dizer que os ambientalistas preferem a solução socialista. (Isso é irônico, já que os países socialistas sempre foram os maiores poluidores do meio-ambiente – veja, por favor, o livro “Why Socialism Causes Pollution”, de Thomas J. Dilorenzo.)
Não pode ser acidental o fato de o Dia da Terra ter sido celebrado pela primeira vez no centésimo aniversário de nascimento de Lênin. Para os que não leem muito sobre história, vale a pela salientar que Lênin foi o fundador da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O objetivo de Lênin era liquidar o capitalismo. Contudo, nos dias de hoje é difícil atacar diretamente esse objetivo sem fazer uso das espécies em risco e de outros assuntos. Portanto, o socialismo agora usa o meio-ambiente para sobrepujar o capitalismo. Segundo Mises, a crença socialista “é uma conclusão precipitada sobre o capitalismo ser o pior de todos os males e o socialismo a encarnação de tudo o que é bom”. (é útil, neste contexto, ler o artigo de Ed Dolan escrito em 2011 intitulado “Porque os ambientalistas odeiam o capitalismo?”)
Em termos práticos, o socialismo significa a intervenção governamental na economia e isso significa tipicamente o declínio da economia. Há muitas razões técnicas para o fracasso do socialismo que estão abordadas no livro Socialism: An Economic and Sociological Analysis de Ludwig von Mises. Nesse livro ele escreveu a seguinte passagem: “Por conta do socialismo não ser uma possibilidade prática, todos os passos porvindouros serão danosos à sociedade”. Mises diz que o socialismo é uma “política destrutiva” que rejeita a propriedade privada, os meios de produção e o livre mercado. Ele lamenta o fato de que as massas não acreditam em capitalismo ou liberdade. Mises deixa implícito que apenas uma minoria pensante é capaz de sustentar politicamente o capitalismo. De acordo com Mises, “o liberalismo e o capitalismo se reportam ao espírito calmo e equilibrado. Eles seguem uma lógica estrita que elimina qualquer apelo à emoção. O socialismo, por outro lado, trabalha no campo emocional e tenta violar as considerações lógicas ao suscitar um interesse pessoal e a sufocar a voz da razão por meio da incitação dos instintos mais primitivos.”
Aqueles que buscam a libertação por meio do sobrepujamento do capitalismo estão, na verdade, se revoltando contra a liberdade e a prosperidade. William Graham Sumner afirmou sabiamente 100 anos atrás: “A civilização moderna é construída em cima de máquinas e agentes naturais que são postos em jogo... através do capital. Nisto reside a verdadeira emancipação dos homens e a verdadeira abolição da escravatura. Em seguida, vêm estas duas perguntas: (1) Podemos manter as vantagens e confortos de uma civilização superior baseada no capital ao atacar as instituições sociais as quais a criação de capital é garantido? (2) estamos preparados para abrir mão dos confortos da civilização em vez de continuar a pagar o preço por eles?”
A sanidade e a razão pregam que praticamente todo mundo prefere o “conforto da civilização superior” à barbárie. Portanto, apenas um homem louco prejudicaria deliberadamente o livre mercado. E ainda assim, tais homens loucos parecem abundar e gozar de grande prestígio em todos os lugares. A força irracional da crença da maioria mina totalmente o poder racional da minoria pensante. Assim, vemos a civilização ruir perante nós e essa tendência aparentemente se manterá. A irracionalidade está se tornado uma força por si que dita a economia e subverte as bases do pensamento racional ao privar o indivíduo da escolha e ceder essa oportunidade apenas aos burocratas do governo.
Estamos gradualmente – e sem dúvidas – nos aproximando de uma crise. A racionalidade está ruindo. A menos que essa tendência seja revertida, a economia ruirá também.