terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Como o estado deforma a ética e introduz dois parâmetros de moralidade


Por Hans F.Sennholz





A velha lei cristã que nos ensina a tratar com respeito, cortesia e amabilidade as pessoas é uma regra irredutível de conduta individual, uma regra que não possui flexibilidade ou brechas que permitam interpretações deturpadas.  Trata-se de um axioma básico para que toda a cooperação social e coexistência humana seja pacífica e produtiva.  Com efeito, trata-se de um alicerce indispensável para toda e qualquer civilização que queira prosperar.  

No entanto, é inegável que estejamos, de maneira inconsciente e gradativa, solapando a rigidez deste alicerce.  E tal procedimento já vem ocorrendo há várias décadas, de modo que aquele outrora robusto alicerce hoje se tornou apenas um pequeno toco não mais capaz de sustentar com vigor as relações inter-humanas e a toda a vida social.  

É verdade que a lei do amor ao próximo ainda fundamenta grande parte de nossas relações individuais diretas.  Dentro de nossas famílias, praticamos — ou ao menos nos esforçamos para praticar — este mandamento.  Em nossas relações diretas com nossos parentes próximos e até mesmo com nossos vizinhos, nos esforçamos para não infligir nenhum dano sobre eles e suas famílias.  Uma relação amistosa e cordial ainda é algo mais frequente do que uma relação maliciosa e destrutiva.  Em todas as nossas interações sociais, sejam elas associações econômicas ou quaisquer outras relações casuais, basicamente respeitamos os direitos e a liberdade de nosso semelhante.

Mas tudo isso se altera quando entra em cena o estado.  Ou, colocando de outra forma, tudo isso se altera quando vemos no estado uma ferramenta legítima para a imposição e a consecução de nossas demandas.  Com o estado, somos indivíduos transfigurados.  Somos outros.  Com este organismo político, não há espaço para a lei do amor ao próximo; não há espaço para a cortesia, para o respeito e para a amabilidade.  Quando agimos utilizando o estado para atender às nossas demandas políticas, agimos de uma maneira que um indivíduo minimamente escrupuloso jamais sonharia em agir em suas relações inter-humanas diretas.  Não há espaço para a cortesia e para o respeito ao próximo quando fazemos do estado o sistema canalizador de nossas demandas.

Considere os seguintes exemplos. 
Como indivíduos, não pensamos em extrair, por meio da violência ou da ameaça de violência, nenhuma fatia da riqueza ou da renda do nosso vizinho.  Porém, em nossa vida política, estranhamente passamos a nos sentir livres e moralmente desimpedidos para 1) extrair boa parte de sua renda por meio de altas alíquotas de impostos e 2) controlar sua riqueza — e a maneira como ele a investe — por meio de uma multiplicidade de regulamentações econômicas.

Como pais, não pensamos em coagir nosso vizinho para que ele contribua para a educação de nossos filhos.  Porém, como membros de um organismo político, recorremos à tributação com o intuito de coagi-lo a financiar a educação de nossos filhos, de modo que eles tenham "educação pública, gratuita e de qualidade".  De quebra, isso faz com que nos sintamos "liberados" das nossas obrigações morais e pessoais para com nossos próprios filhos.  Alguém que quisesse propositalmente criar uma sociedade de pais indolentes e negligentes dificilmente teria uma ideia melhor.

Como seres humanos, não pensamos em surrupiar nosso vizinho de toda a sua poupança e aposentadoria.  Porém, como seres políticos, defendemos que o valor delas seja brutalmente reduzido por políticas governamentais de inflação monetária, de crédito fácil e de empréstimos subsidiados para pessoas e empresas de que gostamos.  Como indivíduos, não pensamos em encarecer artificialmente aqueles produtos que nosso vizinho mais pobre consegue comprar.  Como membros do corpo político, consideramos pefeitamente normal obrigá-lo a pagar mais caro por meio de políticas governamentais de desvalorização cambial e de imposição de tarifas de importação, as quais visam a proteger aquelas empresas ineficientes pelas quais temos alguma preferência.

Como pessoas caridosas, jamais pensaríamos em atacar a herança de uma viúva e de seus órfãos, e jamais pensaríamos em coagi-los para que eles nos colocassem como co-herdeiros.  Como membros do corpo político, podemos obrigá-los a repassar metade de sua herança para nós.

Como indivíduos empreendedores, não cogitamos obrigar nossos concidadãos que vivem em outras partes do país a nos auxiliar em nossos empreendimentos locais; como participantes do sistema político, obrigamo-los a nos ajudar a alcançar nossos objetivos econômicos por meio de subsídios, repasses obrigatórios e outras contribuições governamentais.

Dois parâmetros distintos de moralidade

Se homens malvados e violentos passassem a assediar nosso vizinho com o intuito de extorquir uma parte de (ou toda a) sua renda, ou simplesmente se pusessem a oprimi-lo de alguma forma, nós corajosamente sairíamos em sua defesa.  Se ele porventura ferisse ou até mesmo matasse um de seus agressores, iríamos absolvê-lo de qualquer acusação criminosa por ter agido em legítima defesa.

No entanto, se este mesmo vizinho, por ter se recusado a ter seus bens confiscados pelo estado por não ter pagado devidamente seus impostos, viesse a ferir ou até mesmo a assassinar em legítima defesa um "representante do estado" que foi à sua propriedade para confiscá-la, iríamos condená-lo por ter se recusado a abrir mão de parte de sua riqueza e por consequentemente ter privado o governo de utilizá-la para financiar aqueles programas de que gostamos.  E com toda a nossa fúria e desejo de vingança, defenderíamos que ele fosse jogado em uma penitenciária e por lá ficasse "por um bom tempo".

Utilizamos dois padrões distintos de moralidade para mensurar nossos feitos e atitudes.  Somos rápidos e severos para condenar os delitos que nosso vizinho comete.  Mas somos incapazes de julgar com a mesma severidade nossas próprias ações quando estas são efetuadas por meio do sistema político.

Condenamos um vizinho quando este comete fraude, roubo, esbulho, usurpação, sequestro ou assassinato contra nossos semelhantes.  No entanto, somos incapazes de fazermos um auto-julgamento quando defendemos que o governo confisque a riqueza alheia por meio de impostos, sequestre aqueles indivíduos que não "pagaram devidamente" esses impostos, assassine aqueles indivíduos que oferecerem resistência a este sequestro, reduza a poupança e o poder de compra da população por meio da impressão de dinheiro (falsificação), estatize ou assuma forçosamente o controle majoritário de empresas privadas, e usurpe por meio de regulamentações e burocracias o direito de indivíduos exercerem atividades econômicas que concorram com as empresas favoritas do governo.

Duas almas em nosso peito

Condenamos um indivíduo por desconsiderar suas promessas, seus acordos e seus contratos, e nos esforçamos para fazê-lo cumprir suas obrigações contratuais por meio de ações judiciais e de outros meios legais ao nosso dispor.  Mas prontamente condescendemos com práticas governamentais que desprezam promessas e até mesmo os mais básicos mandamentos éticos.  Podemos até mesmo chegar ao cúmulo de nos simpatizarmos com políticas explicitamente ilegais e condenar aqueles que são prejudicados por elas e que agiram em legítima defesa para se proteger.

A realidade é que temos duas almas em nosso peito: uma que procura fazer o que é moral e eticamente certo, e outra que renega a própria existência de padrões morais e éticos.  A humanidade já pagou, está pagando e ainda irá pagar um enorme preço por ter rejeitado os mais básicos princípios cristãos do respeito, da cortesia e do amor ao próximo na esfera da ação política, a qual só faz crescer.  O preço foi, é e será pago na forma de escravidão, guerras e crescentes tensões sociais.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Carta aberta aos estatistas do mundo




Por Lawence W.Reed 

Como você pode declarar fidelidade à paz e a não violência e, ao mesmo tempo, pedir por mais redistribuição forçada?

Vocês veem uma falha qualquer no mercado como razão para o governo crescer, mas raramente veem as falhas do governo como razão para limitá-lo. A propósito, de onde vocês acham que vem a riqueza?

Caros amigos estatistas,

Eu sei, eu sei… Vocês já têm uma objeção à minha carta. Vocês não gostam do rótulo “estatista” e não se veem como adoradores do governo. Ao invés disso, se veem como pessoas que simplesmente desejam ajudar as pessoas, e o governo é apenas o seu meio favorito para atingir esse valioso fim. “Estatista”, vocês dizem, é um termo carregado – um nome pejorativo que sugere mais do que estão dispostos a admitir publicamente.

Bem, vamos ver como o termo parece depois de vocês terem lido minha carta até o fim e respondido as suas perguntas. Se estiver em dúvida se essa missiva é direcionada a você, deixe-me explicar para quem estou escrevendo. Se você está entre aquelas pessoas que gastam a maior parte de seu tempo e energia defendendo propostas que expandem da ação governamental e pouco ou nenhum tempo recomendando reduções compensatórias do poder do estado, então essa carta realmente achou seu destino.

Vocês são inteligentes e estão sempre encontrando novas formas do governo fazer isso ou aquilo, se pronunciar sobre algumas questões, resolver problemas ou suprir alguma necessidade em algum lugar. Até nós, defensores de um governo limitado, somos atolados em suas minutas sobre como os programas que propõem devem funcionar (ou não funcionar). Enquanto fazemos o trabalho técnico, que vocês raramente fazem, vocês nos demonizam como insensíveis devoradores de números que não se importam com as pessoas.

Às vezes nós também nos enrolamos em questões técnicas e ignoramos o contexto. Eu proponho darmos um passo atrás por um momento. Deixem de lado suas listas com infinitas sugestões de coisas que o governo poderia fazer e foquem o quadro geral. Eu preciso de respostas sérias para algumas perguntas sobre as quais vocês talvez nunca tenham pensado, por estarem envolvidos demais com os programas du jour.

No começo do século XX, todos os níveis de governo dos Estados Unidos tomavam apenas 5% da renda das pessoas. Cem anos depois, ele toma mais de 40% — oito vezes mais. Então, as minhas primeiras perguntas são as seguintes: Por que isso não é o suficiente? Quanto mais vocês querem? 50%? 70%? Querem tudo? Até que ponto vocês acreditam que alguém tem direito à renda que ele ou ela ganhou?

E eu quero números específicos. Como milhões de americanos que planejam a aposentadoria e a educação de seus filhos, eu preciso saber. Eu já sacrifiquei muitos planos para pagar as suas contas, mas se vocês querem ainda mais, terei que cortar significativamente minhas doações para caridade, meus gastos eventuais, minhas economias para emergências, minhas futuras férias, e algumas outras coisas que talvez valessem a pena fazer.

Eu sei o que vocês estão pensando: “Lá vem você novamente com seu caráter egoísta. Nós estamos preocupados com as necessidades de todas as pessoas e você só está interessado na sua conta bancária”.

Mas quem está realmente preocupado com dólares e centavos aqui, eu ou vocês?
Por que será que por eu discordar de vocês em relação aos meios, vocês quase presumem que me oponho aos seus fins? Eu desejo que as pessoas se alimentem bem, vivam vidas longas e saudáveis, tenham acesso aos cuidados médicos e aos remédios que precisam etc, etc.. exatamente como vocês. Mas acontece que eu acredito na existência de maneiras mais criativas e voluntárias de fazer isso acontecer do que usar a força governamental para roubar de Peter e entregar a Paul. Por que vocês não mostram confiança em seus compatriotas e presumem que eles também são capazes de resolver os problemas sem vocês?

Nós não somos ignorantes, sem escolhas, apesar do desempenho das suas escolas estatais e de termos que nos virar com um pouco mais da metade do que ganhamos. Na verdade, dê-nos um pouco de crédito por termos conseguido fazer coisas incríveis como alimentar, vestir e abrigar mais pessoas, e em um nível maior, do que qualquer sociedade socializada jamais sonhou, mesmo com um corte de 40% em nosso salário.
E isso levanta uma série de perguntas sobre como vocês veem a natureza do governo e o que aprenderam — se é que aprenderam — sobre as nossas experiências coletivas com ele. Eu vejo o governo ideal como viram os fundadores dos Estados Unidos. Nas palavras atribuídas a Washington, o governo é “um servo perigoso” que emprega a força legal para a proteção das liberdades individuais. Sendo assim, ele é responsável por deter fraudes e violência, e por se manter pequeno, limitado e eficiente. Como você pode declarar fidelidade à paz e a não violência e, ao mesmo tempo, pedir por mais redistribuição forçada?

Não invoque a democracia a não ser que esteja preparado para explicar por que “o poder gera o direito”. É claro que desejo que os governados tenham participação em qualquer governo que venha a governar, mas diferentemente de vocês, não cultivo a ilusão de que qualquer ação pode se tornar uma função legítima do governo caso seus apoiadores sejam abençoados por 50% ou mais daqueles que de dispõem a ir às urnas. Deem-me algo mais profundo do que isso ou vou arregimentar o pelotão da maioria para legitimamente revindicar tudo o que a massa quiser e pertença a vocês.
Por que será que vocês estatistas não aprendem nada sobre o governo? Vocês veem uma falha qualquer no mercado como razão para o governo crescer, mas raramente veem as falhas do governo como razão para limitá-lo. Na verdade, às vezes eu imagino se vocês conseguiriam identificar qualquer falha no governo! Será que só capturaríamos a sua atenção com uma enciclopédia das promessas quebradas, dos programas fracassados e dos bilhões desperdiçados? Será que teríamos mesmo que falar sobre todos os paraísos dos trabalhadores que jamais se realizaram? Os programas chamativos que fracassaram? Os problemas que o governo deveria resolver, mas que serão apenas administrados em uma custosa perpetuidade?
A propósito, de onde vocês acham que vem a riqueza? Eu sei que vocês gostam de coletá-la e lavá-la por meio da burocracia – “alimentando pardais através dos cavalos,” como diria o meu avô – mas digam-me honestamente como vocês acham que a riqueza é criada. Vamos! Vocês conseguem! Digam: iniciativa privada.

Eu sei… Já fiz perguntas demais. Mas vocês precisam entender que estão pedindo muito mais em sangue, suor, lágrimas e recursos, de todos nós, toda vez que empilham mais ações governamentais sem nos aliviarem do peso que já existia. Se o que lhes perguntei acabar por fazê-los repensar suas premissas e empregar algumas restrições no alcance do estado, então talvez o rótulo de estatista não se aplique a vocês. Se for esse o caso, vocês podem vir a dedicar uma parte maior das suas energias a verdadeiramente resolver problemas ao invés de apenas falar sobre eles, e libertar pessoas ao invés de escravizá-las.

Atenciosamente,

Lawrence W. Reed


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Mises e a família

 
Há um discurso “políticamente correto” na atualidade, de que a família e outros temas da sociedade como moral, ética, etc.. são coisas ultrapassadas, conservadoras e que não se encaixam com a filosofia de vida nesse início de século. Dizem que os parâmetros de moral e bons costumes já não são os mesmos de antigamente, e tudo isso que outrora representava o convencional, arrasta hoje o homem para uma dependência de padrões arcaicos e fora do contexto atual.  Creio que toda essa conceituação como afirma abaixo o autor, nada mais é do que “pano de fundo” para uma nova ideologia contrária ao que poderíamos dizer que deu certo, ou seja o Capitalismo. Precisamos conhecer os verdadeiros conceitos que estão envolvidos para saber exatamente o rumo que a sociedade está tomando. Marcio Estanqueiro

Por Lew Rockwell


 
O escritor, poeta e filósofo G.K. Chesterton dizia que a família era uma instituição anarquista.  Com isso, ele queria dizer que não é necessário nenhum decreto do estado para que ela venha a existir.  Sua existência flui naturalmente de realidades constantes na natureza do homem, sua forma sendo aperfeiçoada pelo desenvolvimento de normas sexuais e pelo avanço da civilização.

Essa observação é consistente com a brilhante discussão sobre a família feita por Ludwig von Mises em sua magistral obra Socialism, publicada em 1922.  Por que Mises abordou a família e o casamento em um livro de economia que refutava o socialismo?  Ele entendeu — ao contrário de muitos economistas de hoje — que os oponentes da sociedade livre e voluntária têm um projeto amplo que geralmente começa com um ataque a essa instituição que é a mais crucial de qualquer sociedade.

"Propostas para transformar as relações entre os sexos há muito vêm de mãos dadas com planos para a socialização dos meios de produção", observa Mises.  "O casamento deve desaparecer junto com a propriedade privada...  O socialismo promete não apenas o bem-estar — riqueza para todos —, mas também a felicidade universal no amor."

Mises observou que o livro de August Bebel (alemão fundador do Partido da Social Democracia Alemã), Woman Under Socialism, um canto de glória ao amor livre publicado em 1892, foi o tratado esquerdista mais lido de sua época.  Esse elo entre socialismo e promiscuidade tinha uma proposta tática.  Se você não acreditasse no engodo de uma terra prometida onde a prosperidade surgiria magicamente, então você ao menos podia ter a esperança de que haveria uma libertação da maturidade e da responsabilidade sexual.

Os socialistas propunham um mundo no qual não haveria impedimentos sociais ao ilimitado prazer pessoal, com a família e a monogamia sendo os primeiros obstáculos a serem derrubados.  Esse plano funcionaria?  Sem chance, disse Mises: o programa socialista para o amor livre é tão impossível quanto o programa para a economia.  Ambos vão contra as restrições inerentes ao mundo real.

A família, assim como a estrutura da economia de mercado, não é um produto de políticas; é um produto da associação voluntária, tornada necessária por realidades biológicas e sociais.  O capitalismo reforçou o casamento e a família porque é um arranjo que depende do consentimento e do voluntarismo em todas as relações sociais.

Assim, tanto a família quanto o capitalismo compartilham as mesmas fundações institucionais e éticas.  Ao tentar abolir essas fundações, os socialistas iriam substituir uma sociedade baseada nos contratos por uma baseada na violência.  O resultado seria o total colapso social.

Quando os social-democratas Sidney e Beatrice Webb viajaram para a União Soviética, uma década após o lançamento do livro de Mises, eles relataram uma realidade diferente.  Eles encontraram mulheres liberadas do jugo da família e do casamento, vivendo vidas felizes e realizadas.  Era uma fantasia tão grande — na realidade, uma fantasia sangrenta — quanto suas alegações de que a sociedade soviética estava se tornando a mais próspera da história.

Atualmente, nenhum intelectual mentalmente são defende o total socialismo econômico; mas uma versão diluída do programa socialista para a família é a força-motriz de várias das políticas sociais mais afamadas mundo afora.  Essa agenda anda de mãos dadas com a restrição da economia de mercado em outras áreas.

Não é coincidência alguma que a ascensão do amor livre tenha acompanhado a ascensão e o completo desenvolvimento do estado assistencialista.  A ideia da emancipação da necessidade de trabalhar (e de poupar e de investir) e da emancipação de nossa natureza sexual tem origem em um mesmo impulso ideológico: superar as realidades estabelecidas da natureza.  Como resultado, a família sofreu — exatamente como Mises previu que aconteceria.

Embora os defensores da família e os proponentes do capitalismo devessem estar unidos em um único programa político visando a esmagar o estado intervencionista, eles tipicamente não estão.  Os defensores da família, mesmo os conservadores, frequentemente condenam o capitalismo financeiro como uma força alienadora, e defendem políticas irrefletidas como tarifas, monopólios sindicais e programas de renda mínima para pessoas casadas.

Ao mesmo tempo, os adeptos da livre iniciativa demonstram pouco interesse em relação às genuínas preocupações dos defensores da família.  E ambos não parecem interessados nos ataques radicais à liberdade e à família que políticas governamentais como leis do trabalho infantil, escola pública, seguridade social, altos impostos e medicina socializada representam.  Na visão de Mises, essa cisão é deletéria.

"Não é nenhum acidente que a proposta de se tratar homens e mulheres como sendo radicalmente iguais, de ter o estado regulando as relações sexuais, de colocar crianças em creches públicas e garantir que filhos e pais permaneçam quase que desconhecidos uns para os outros tenha se originado com Platão", que em nada se importava com a liberdade.

Também não é nenhum acidente que essas mesmas propostas hoje em dia sejam defendidas por pessoas que não têm a mínima consideração pela família e pelas leis econômicas.