Recentemente, durante uma viagem de avião, notei
que pelo menos um terço dos passageiros estava lendo um determinado best
seller. Isso me fez pensar.
Toda organização politicamente ativa e poderosa o
suficiente para fazer lobby quer algo do governo, e o governo, sempre que
possível, se mostrará extremamente satisfeito em aquiescer às demandas.
Durante períodos eleitorais, tal relação se torna ainda mais explícita.
Tudo não passa de uma troca de favores: votos em troca de poder e privilégios.
Uma outra maneira da colocar tudo isso: o governo
aloca privilégios na forma de regulamentações específicas, de espoliação de uns
em troca de favorecimentos para outros, de proteção aos favoritos e de punições
aos não condescendentes. Todos os grupos de interesse e todos os partidos
políticos têm ideias sobre como seu poder sobre nós pode e deve ser usado.
Para os que não são privilegiados e poderosos o
bastante para entrar neste arranjo, como você e eu, será que realmente faz
alguma diferença quem irá receber os espólios? Se você será tributado
para o governo construir ciclovias ou para dar aumentos salariais ao
funcionalismo, o resultado final é o mesmo: você está sendo proibido de
utilizar uma parte da sua renda apenas para que políticos e burocratas possam
satisfazer seus desejos. Se as regulamentações dizem que você não pode
trabalhar em troca de um valor salarial que esteja abaixo de um valor
estipulado arbitrariamente por políticos ou se elas proíbem você de comprar
determinados produtos, o efeito final é o mesmo: sua liberdade de fazer
contratos voluntários está sendo solapada.
O problema real é que todos se limitam a discutir
interminavelmente apenas sobre como o governo pode e deve ser usado.
Ninguém concebe tirar o governo de cena. O governo deve proibir gays de
se unirem civilmente ou deve proibir empresas privadas de discriminar pessoas
que optam pela união homossexual? Ou o estado proíbe alguma coisa ou
impõe outra. Estes são os dois extremos de sua amplitude de
atuação. De um jeito ou de outro, o estado está sendo utilizado para
dizer às pessoas o que elas podem e o que elas não podem fazer. Neste
sentido, esquerda e direita têm muito mais em comum do que aceitam admitir:
ambas partem do princípio — para elas axiomático — de que o estado pode
gerenciar a ordem social melhor do que a liberdade. Ambas têm planos
sobre como o estado pode bem gerir as pessoas.
O governo deve restringir a circulação de
automóveis ou deve estimular suas aquisições? Os bancos devem ser
protegidos e estimulados a se fundirem ou devem ser estritamente regulados de
modo a não poderem realizar outras atividades senão as bancárias? As
grandes empresas devem ser subsidiadas e protegidas das importações ou devem
ser tributadas ao máximo? Gordura saturada deve ser de consumo
obrigatório como parte de uma nova dieta nacional ou deve ser proibida como
sendo um risco à saúde? Remédios devem ter seu acesso dificultado ou
subsidiado?
Estes são os grandes debates da nossa era.
Mas é óbvio que eles não representam debates. Fundamentalmente, são meras
empulhações com o objetivo único de sacramentar o poder decisório do
estado. Qualquer que seja a escolha dentre as opções acima, o real
vencedor sempre será o governo, seus agentes, seus porta-vozes e seus
poderes. Acima de tudo, será a consagração da nossa aceitação do estado
controlando nossas vidas, nossas decisões e nossa cultura. Ou o estado me
proíbe ou ele me obriga. Estas são as únicas opções ofertadas. E,
incrivelmente, tal totalitarismo segue inquestionável pelo rebanho.
A carga tributária deve ser de 40% do PIB ou
37,2%? Deve incidir majoritariamente sobre a renda ou sobre o
consumo? Qualquer que seja a escolha, a liberdade é a perdedora, e os
direitos de propriedade se tornam cada vez menos garantidos.
Religiosos devem poder controlar o que vemos na
televisão, o que lemos e o que fumamos, ou os ateus devem poder impor leis que
impeçam as pessoas religiosas de se expressarem livremente? Qualquer que
seja a escolha, está-se concedendo ao governo mais controle sobre a sociedade.
Essa é a grande tragédia de se viver sob o
leviatã. O ser humano sempre terá ideias distintas e conflitantes sobre
como as questões devem ser conduzidas. Isso é inevitável. O problema
ocorre quando se delega o monopólio da tomada suprema de decisões para uma
entidade amorfa e acima da lei. Quem deve ser premiado? Quem deve
ser punido? Quem deve receber privilégios? Quem deve pagar a
conta? No final, tudo se torna uma guerra entre grupos de interesse, cada
um se esforçando ao máximo para ter influência sobre o estado e, com isso,
viver à custa de todo o resto da sociedade.
E o que realmente é essa coisa a que chamamos de
estado? O que é o governo? Trata-se de uma gangue envolta por toda
uma estrutura institucional que cria regras arbitrárias, fiscaliza seu
cumprimento e impõe punições aos dissidentes. Ao mesmo tempo, o estado e
seus agentes vivem em uma dimensão paralela, completamente alheios e imunes às
leis que eles próprios impõem ao resto da população. Nós não podemos
roubar, mas o governo pode. Nós não podemos matar, mas o governo
pode. Nós não podemos falsificar dinheiro, mas o governo pode. Nós
não podemos sequestrar nem praticar fraude, mas o governo pode. Esta
coisa chamada governo possui, obviamente, um forte interesse em manter seu
poder, seu prestígio e seu financiamento. Que seus agentes queiram manter
seus privilégios, embora moralmente condenável, é algo um tanto compreensível.
O que realmente não dá para entender é que pessoas que estão fora do esquema
continuem defendendo a existência dele.
A natureza do estado é a mesma, independentemente
de qual seja a estrutura do governo. Oligarquia, monarquia absolutista,
monarquia constitucional, república presidencialista, república
parlamentarista, democracia — todos têm uma característica em comum: eles criam
uma casta privilegiada de cidadãos que vivem à custa de todo o resto do
populacho.
Em uma democracia, o arranjo é ainda mais
descarado. O governo consegue recrutar toda a população para defender a
sua causa. O governo magicamente consegue fazer com que as pessoas se
limitem a discutir apenas como o governo deve ser utilizado para se alcançar
determinados objetivos econômicos e sociais. Que o governo sequer deve
ser utilizado para tais fins é algo que não passa pela cabeça das
pessoas. Enquanto esta alienação persistir, o governo continuará sendo o
vencedor, para o regozijo dos grupos de interesse. Em uma democracia, a
função de lobistas e de grupos de interesse é justamente a de recompensar a
classe política por seus esforços, transferindo nosso poder e dinheiro para
ela. Exatamente qual é a desculpa utilizada — e ela muda de acordo com o
momento; algumas vezes sutilmente, outras, dramaticamente — é algo que não
interessa ao governo.
O governo é um camaleão, perfeitamente jubiloso
em vestir qualquer manto cultural ou ideológico que o permita se camuflar e se
imiscuir com quaisquer que sejam as demandas sociais e culturais da
época. Em uma democracia litigiosa — como todas são —, existem cinquenta
tons de governo, cada tom apropriado para uma determinada época e lugar, cada
tom adaptado aos propósitos do momento, todos com o interesse único de firmar
seu controle sobre todos.
É disso que se trata todo o "espectro
político". O governo nos domina e nós nos submetemos. Ele nos
coloca em servidão e nós obedecemos à sua disciplina. Tem de haver uma
boa desculpa para tudo isso, caso contrário jamais nos submeteríamos a tamanha
humilhação voluntária. Temos de acreditar que o governo, de alguma
maneira, em algum nível, está fazendo algo que nos agrade. Talvez, como
dizem, o governo seja nós mesmos...
As pessoas gostam de dizer que, na Idade Média,
na "era da fé", diferenças religiosas levavam a guerras. No
entanto, alguns historiadores que se puseram a analisar aquele período mais
detalhadamente observaram algo diferente: governos que querem fazer guerras
adoram utilizar a religião como desculpa.
E o mesmo raciocínio se aplica à
atualidade. Na atual "era da ciência", somos submetidos a um
planejamento científico social no qual especialistas, com as mãos firme nas
alavancas de controle, dizem às pessoas como irão utilizá-las. Se a
desculpa apresentada será religiosa ou científica, ambientalista ou pragmática,
nacionalista ou globalista, realmente não interessa para o resto de nós.
Os direitos e as liberdades daqueles que terão de pagar a conta estarão para
sempre sacrificados em prol da agenda política de terceiros.
Portanto, na próxima eleição, quando você estiver
indo como um cordeirinho para as urnas, pense nos nomes dos candidatos e no que
estas pessoas prometeram fazer por você e para você caso você sancione o
direito delas de mandar em você. Afinal, sempre que votamos, nos dizem
que nós fizemos nossa escolha voluntariamente e agora temos de viver com ela.
Mas é claro que, neste arranjo, não há escolha
nenhuma. Um dia talvez percebamos de que não há nenhum sentido em nos
submetermos a esta servidão consentida. Ainda haverá um dia em que
revogaremos nossa dependência e rejeitaremos toda esta relação escravo-senhor,
a qual é a base de sustentação de todo o sistema. Cinquenta Tons de
Governo tem sido um best seller há centenas de anos. Já é hora de os governados
escreverem um livro totalmente novo.
A:
"Você sabe a diferença entre uma cozinha e um banheiro?"
B:
"Não."
A:
"Então não venha à minha casa."
Assim
como é importante uma pessoa, em seus afazeres diários, saber diferenciar um
banheiro de uma cozinha, também é importante que ela saiba a distinção crucial
que existe na filosofia político-econômica entre o governo e arranjos
contratuais privados.
Porém, é
aqui que a analogia entra em colapso. Existem outros discernimentos que
devemos aprender durante nossa vida que são ainda mais importantes do que saber
distinguir entre esses dois aposentos (por exemplo, não coma veneno,
alimente-se sempre, cuide dos bebês); porém, na teoria libertária, simplesmente
não existe uma delineação mais importante do que aquela que existe entre a coerção
(o governo) e a cooperação voluntária (o mercado).
Entretanto,
tão arriscada é a natureza da nossa disciplina, que existem até mesmo pessoas
ostentando-se a si próprias como libertárias sem ter qualquer conhecimento
dessa distinção. Pior ainda, existem aquelas que escrevem artigos em
jornais acadêmicos, e até mesmo livros, dedicados em toda sua inteireza a
suprimir a diferença entre o estado e a interação privada no mercado.
E elas
sempre se escondem atrás de algum argumento, sempre torpe e irrisório. O
preferido em seu arsenal é o do "contrato do condomínio". Esses
"libertários" discursam graciosamente sobre a severidade e
abrangência das regras desses conjuntos residenciais. Por exemplo, elas
tipicamente exigem que todo o exterior seja pintado da mesma cor; que as grades
ou cercados sejam idênticos e que não haja ar condicionado de janela.
Algumas vão tão longe a ponto de estipular a cor das cortinas que podem ser
vistas lá da rua, e até mesmo obrigam, ou proíbem, coisas como carpetes, persianas,
portas de tela e capachos. Vários condomínios determinam se os carros
devem, ou não podem, estacionar em garagens. Alguns proíbem crianças
completamente; outros, especificam idade mínima para os residentes (por
exemplo, 60 anos para comunidades de aposentados). E há uma legião de
regras e regulamentações em relação à lei do silêncio, a festas, a onde
bicicletas podem ser guardadas etc. Comparadas até mesmo a alguns
vilarejos e cidades pequenas, as regras dessas comunidades privadas podem ser intrusivas,
abrangentes e, frequentemente, arbitrárias.
E há
também o fato de que ambos os tipos de organizações (estado e condomínios
provados) são tipicamente geridos de acordo com princípios completamente
democráticos. E não somente isso: de certa forma, pode-se realmente dizer
que, em ambos os casos, as pessoas concordam em participar do sistema.
No caso
do condomínio, isso é fácil de ver. Todos os membros do conjunto assinam
um contrato de compra, indicando sua disposição de se sujeitar à constituição
do condomínio e a uma determina norma (maioria, super maioria, maioria
absoluta, não importa) de alteração dos termos.
Para
cidades, ninguém, é claro, assina a constituição. Entretanto, argumentam
esses "libertários", ao se mudar para uma localidade, o recém-chegado
sabe perfeitamente bem as regras da entidade política, ou pode facilmente
aprendê-las: nada de cuspir nas ruas, as especificações de zoneamento, os
limites de velocidade etc. E, em praticamente todos os casos, as
regulamentações municipais são bem menos universais do que aquelas dos
condomínios. É verdade, conclui esse argumento, que o governo municipal
coleta "impostos" ao passo que o condomínio coleta "taxas"
de sócio, mas essa é uma distinção sem qualquer diferença.
A
primeira rachadura desse argumento aparentemente hermético e incontestável
começa a ser vista quando examinamos não a posição do recém-chegado, mas a de
um proprietário que já estava lá antes de a cidade ser incorporada; ou,
alternativamente, quando analisamos o infortúnio do proprietário que até então
morava fora dos limites da cidade, mas que foi incorporado por ela quando ela
se expandiu para colocar sob sua jurisdição pessoas como ele, que viviam em
áreas contíguas mas até então não incorporadas. (Vamos considerar apenas
o segundo caso, e não o primeiro, uma vez que hoje existem muito mais
indivíduos vivos que vivenciaram o segundo, e não o primeiro).
Assim, o
prefeito vai até esse proprietário e diz pra ele: "Tenho boas notícias
para o senhor, seu Zeca. O senhor agora faz parte da nossa cidade.
Vamos coletar seu lixo, fornecer água e serviços de esgoto, guarda municipal,
bombeiros, sociedade na biblioteca municipal... puxa, temos até um piscinão
municipal. O senhor vai gostar! O senhor terá de pagar uma taxa para
o bem-estar dos pobres também, é claro, mas o senhor sempre ajudou os
desfavorecidos aqui na sua vizinhança, portanto isso não será nenhum fardo para
o senhor."
Ao que
Zeca responde: "Isso realmente parece ser maravilhoso, seu Clemente.
Puxa, estamos ficando mais modernos aqui, hein? Mas olha só: vou deixar
passar essa maravilhosa oportunidade. Por ora, não vejo motivos para
mudanças. Obrigado, mas não, obrigado."
E então o
prefeito Clemente engrossa: "Creio que minha posição ainda não ficou
clara o bastante. Não se trata realmente de uma opção sua. Fizemos
uma votação quanto a isso, e o seu lado perdeu. Como o senhor faz parte
do jogo queira ou não, o senhor tem de jogar e aceitar as decisões".
Nesse
momento Zeca retruca: "Hitler chegou ao poder por meio de eleições.
Portanto não venha o senhor me falar sobre as maravilhas das cédulas
eleitorais. Entretanto, vou lhe confessar uma coisa, seu Clemente.
Pelo menos o senhor é franco. Pelo menos o senhor não reveste uma
agressão explícita com o manto da mentira, como fazem aqueles pretenso
'libertários' que não veem diferença entre ser incorporado a uma cidade contra
sua vontade e comprar voluntariamente um apartamento em um condomínio.
Sua exigência para que eu lhe dê dinheiro de impostos foi refrescantemente honesta,
embora um tanto brutal, para uma pessoa que eu costumava considerar um bom
vizinho."
E lá se
vai a primeira rachadura na blindagem, o caso em que o proprietário é
forçosamente incorporado à cidade. Existe de fato uma diferença relevante
entre ser compelido a fazer parte de uma cidade e se juntar voluntariamente a
um condomínio.
Mas o que
dizer quanto ao exemplo mais convincente do lado "libertário" desse
arranjo, aquele em que um forasteiro chega a uma cidade, compra um imóvel etc.,
sabendo perfeitamente bem a que regras e impostos ele estará sujeito? Não
seria verdade que, ao menos nesse caso, o governo municipal é indistinguível
daquele conselho administrativo que gere o condomínio?
Nem um
pouco.
Considere
o seguinte caso. Eu compro um apartamento em uma vizinhança perigosa de
uma cidade qualquer. Eu sei perfeitamente bem que a criminalidade ali é
alta, e que eu serei um alvo preferencial, dada a minha aparência abastada (com
muita ironia aqui). Talvez eu tenha tomado essa decisão econômica por
causa dos imóveis mais baratos, ou porque quero me aproximar mais do
"povo" para melhor estudar sua situação e ajudar a erradicar a
pobreza. Em todo caso, assim que eu me mudo pra lá, já sou logo confrontado
por um marginal de rua que, canivete apontado pra mim, me ordena:
"Passa
a carteira, seu rico de m...., ou eu vou te furar todinho."
Ao que eu
imediatamente sacaria meu Colt .45 e diria para o criminoso: "Meu
bom homem, você está confrontando um adversário com poder de fogo
superior. Cesse e desista de seus métodos maléficos, e vá cuidar de seus
assuntos mais legítimos, se é que os tem."
E então
esse elemento, o qual eu não imaginava ser um aprendiz de filósofo, faz a
seguinte consideração: "Você parece não estar entendendo. Sou
um daqueles 'libertários' que dizem que, já que você se mudou para cá tendo a
perfeita consciência de que estaria sujeito a assaltos do tipo que estou
fazendo agora (ou ao menos estava... Nunca havia me deparado com uma vítima tão
pouco cooperativa como você; onde esse mundo vai parar?), você com efeito concordou
em ser assaltado por ladrões como eu. Portanto, deixe de ser contestador
e aceite o programa, cara!"
O ponto é
que, como podemos facilmente ver, a capacidade de pressupor um evento não é de
modo algum equivalente a concordar com ele. Sim, posso perfeitamente bem prever
que, se eu me mudar para uma região violenta, provavelmente serei vítima de
algum crime de rua. Porém, isso de modo algum significa que estou concordando
com tal atitude execrável.
Entretanto,
de acordo com o argumento "libertário" que estamos analisando, ambas
as coisas são indistinguíveis.
Similarmente,
é de se esperar que o indivíduo que fixa residência em uma cidade com impostos,
leis de zoneamento etc., saiba que estará sujeito a essas depredações, assim
como todos os outros moradores da cidade. Mas daí a dizer que ele
concordou em ser coagido por esses malfeitores há uma distância enorme. A
permissão que o recém-chegado à cidade dá ao cobrador de impostos para extrair
dinheiro dele é a mesma que o recém-chegado a uma vizinhança violenta dá ao
assaltante que viola seus direitos.
Com
efeito, em um contraste muito nítido, o comprador de um apartamento não apenas
pressupõe que estará sujeito a um pagamento mensal de uma taxa de sociedade, e
a um colosso de restrições em relação ao que ele pode fazer com sua
propriedade, como ele também de fato consente em pagar aquele e estar sujeito a
este. A prova disso é que ele assina um contrato de venda, o qual estipula
todas as regras acima. Já no caso do cidadão que vai pra uma cidade, não
existe tal contrato assinado.
Não é
exagero algum dizer que, em toda a teoria libertária, a distinção mais
importante que existe é aquela entre a coerção e a não coerção. Remova
essa divergência e não sobrará absolutamente nada do libertarianismo.
Isso é tão importante, que vale a pena repetir: o libertarianismo consiste nas
implicações dessa única e solitária distinção, e em nada mais. Sem ela,
não há absolutamente teoria alguma.
Uma coisa
é ver e ouvir comunas, socialistas, esquerdinhas, social-democratas e
neoconservadores denegrirem essa distinção. Isso, aliás, é o que se
espera deles. Trata-se de uma atitude perfeitamente apropriada para esses
tipos. Se eles não fizessem isso, eles dificilmente poderiam ser
caracterizados pelos rótulos acima. Outra coisa bastante diferente é ver
"libertários" cometendo esse mesmo erro. Ou eles se livram
dessa perniciosa falsa doutrina ou ao menos tenham a decência de parar de se auto-intitular
libertários.
Walter
Block é membro sênior do Mises Institute e professor de economia na
Loyola University, Nova Orleans.
A
imoralidade virou movimento de massas no Brasil, em movimento semelhante ao que
se verificou na Alemanha de Hitler.
A
reação de José Dirceu e José Genoíno à condenação pelo STF, no caso do
mensalão, merece uma reflexão. Eles não apenas repudiam a sentença, mas o
julgamento em si, como se aquele tribunal fosse de exceção e eles vítimas de
perseguições políticas. A insensibilidade moral do réus agora apenados é
escandalosa.
Para
ambos, realizar o que se chamou de mensalão não passou de ato de rotina daqueles
que chegaram ao poder pelo voto, como se isso os tornasse plenipotenciários e
acima do bem e do mal. Com o mensalão, fizeram apenas uma atalho para realizar
a vontade do novo príncipe. A oposição legislativa era uma chateação e um
obstáculo a ser superado, em face das limitações que impunha ao exercício do
poder. Comprar os votos foi o caminho mais curto para fazê-lo.
Estamos
aqui diante da mais crua convicção de que os fins justificam os meios. É a
mesma ética deformada dos revolucionários que, nos anos sessenta, ousaram tomar
armas contra o Estado brasileiro. Tudo em nome da missão messiânica que foi
dada a si mesmos por eles.
É
problema menor que ambos sejam essa frieza moral petrificada, que lhes veda o
sentimento de culpa. O problema maior é perceber que parte ponderável da
população endossa essa visão vitimizada da dupla. A prova mais dura dessa
realidade é a pesquisa do Datafolha, que indica intenção de votos em Fernando
Haddad, no segundo turno para a prefeitura de São Paulo, com consagradores 47%.
Aqui podemos dizer que o crime revolucionário compensa e que os fins justificam
os meios, de fato.
Vemos
que um dos mais perversos frutos da revolução gramsciana que se desenvolve há
décadas é esse embotamento moral, em que as pessoas deixam de saber diferenciar
o certo do errado, o moral do imoral, o legal do criminoso. A imoralidade virou
movimento de massas no Brasil, em movimento semelhante ao que se verificou na
Alemanha de Hitler, tão belamente descrito no romance As Benevolentes, de
Jonathan Littell. O Brasil, como a Alemanha de outrora, está prenhe de
violência revolucionária. Basta conversar com os partidários de Fernando Haddad
sobre o mensalão e suas consequência para se ver o ódio espumante que carregam.
Essa gente com poder total fará pior que os nazistas.
A
imoralidade como movimento de massa, como desdém à ordem legal constituída e a
implícita delegação para que o partido dominante faça a sua agenda, a despeito
das leis, é doença psíquica grave, de potenciais consequências nefastas. Por sorte
o STF deu demonstração de vitalidade, dando a impressão de que a elite
estamental do Estado ainda mantém um mínimo de lucidez. Mas bem vimos ministros
lamentarem ter que inflingir sentença a José Genoíno e mesmo a José Dirceu, por
carregarem supostamente uma bela biografia de revolucionários. Apavorante.
O
que nos livra da barbárie final por enquanto é a legalidade e sua implícita
moralidade. Mas é uma força frágil, que depende da inteireza moral dos
governantes. Estamos vendo que essa condição moral está sendo pedida, mormente
se Fernando Haddad se eleger prefeito de São Paulo em pleno julgamento do
mensalão.
Em algum
momento, durante o século passado, alguém roubou nossa cultura. Há apenas 50
anos, na década de 50, os EUA eram um ótimo lugar. Era seguro, e era decente.
As crianças recebiam boa educação nas escolas públicas. Até os trabalhadores
braçais traziam para casa rendas de classe média, para que as mães pudessem
ficar em casa e cuidar das crianças. Os programas de TV refletiam valores
sadios e tradicionais.
Onde foi
parar tudo isso? Como foi que os EUA se tornaram o lugar sórdido e decadente em
que vivemos hoje, tão diferente que as pessoas que nasceram antes da década de
60 sentem como se estivessem em um país estrangeiro? Será que simplesmente
“aconteceu”?
É claro que
não. De fato, foi colocada em prática uma agenda deliberada para roubar a
nossa cultura e deixar uma outra completamente diferente no lugar. A história
de como e por que é uma das partes mais importantes da história dessa nação; e
é uma que quase ninguém conhece. As pessoas por trás dela quiseram que fosse
assim.
Basicamente,
o que aconteceu foi que a cultura tradicional dos EUA, que se desenvolveu ao
longo de gerações a partir das nossas raízes ocidentais e judaico-cristãs, foi
desprezada por uma ideologia. Essa ideologia é mais conhecida como
“politicamente correto” ou “multiculturalismo”. Na verdade, trata-se do marxismo
cultural: o marxismo traduzido da economia para a cultura, em um esforço que
data não da década de 60, mas da Primeira Guerra Mundial. Por incrível que
pareça, à medida que o marxismo econômico da União Soviética se dissipava, um
novo marxismo cultural se tornava a ideologia dominante das elites americanas.O objetivo nº 1 do marxismo cultural, desde que foi criado, é o de destruir a
cultura ocidental e a religião cristã.
Para
entender qualquer coisa, precisamos conhecer sua história. Para entender quem
roubou a cultura americana, precisamos olhar para a história do “politicamente
correto”.
O início da
teoria marxista
Antes da
Primeira Guerra Mundial, a teoria marxista dizia que se a Europa algum dia
entrasse em guerra, as classes trabalhadoras de todos os países europeus iriam
se revoltar, derrubar os governos e criar uma nova Europa comunista. Mas quando
a guerra eclodiu em julho de 1914, não foi o que aconteceu. Em vez disso, os
trabalhadores de todos os países europeus se juntaram aos milhões para lutar
contra os inimigos do seu país. Finalmente, em 1917 ocorreu a Revolução
Comunista, na Rússia. Mas as tentativas de espalhar a revolução para outros
países falharam porque os trabalhadores não a apoiavam.
Após o fim
da Primeira Guerra Mundial em 1918, os teóricos marxistas tiveram que se fazer
a pergunta: O que deu errado? Como bons marxistas, não poderiam admitir que a
teoria marxista estava incorreta. Em vez disso, dois dos principais
intelectuais marxistas, Antonio Gramsci na Itália e Georg Lukacs na Hungria
(Lukacs foi considerado o mais brilhante pensador marxista desde o próprio
Marx), independentes um do outro, pensaram na mesma resposta. Eles disseram que
a cultura ocidental e a religião cristã haviam cegado a classe trabalhadora dos
seus verdadeiros interesses de classe marxistas de tal forma que a revolução
comunista era impossível no Ocidente, até que esses dois elementos fossem
destruídos. Esse objetivo, instituído como o objetivo do marxismo cultural
desde o início, nunca mudou.
Antonio Gramsci
Uma nova
estratégia
Gramsci
expôs notoriamente uma estratégia para destruir o Cristianismo e a cultura
ocidental, que se mostrou altamente bem sucedida. Em vez de exigir uma
revolução comunista logo de cara, como fizeram na Rússia, ele disse que os
marxistas do Ocidente deveriam tomar o poder político por último, após uma
“longa marcha nas instituições”: as escolas, a mídia, e até as igrejas, todas
as instituições que pudessem influenciar a cultura. Essa “longa marcha nas
instituições” é o que os EUA experimentaram, principalmente desde a década de
60. Felizmente, Mussolini reconheceu o perigo representado por Gramsci e o
colocou na cadeia. Sua influência se manteve pequena até a década de 60, quando
seus trabalhos, principalmente os “Cadernos do Cárcere”, foram redescobertos.
Georg
Lukacs se mostrou mais influente. Em 1918, ele se tornou comissário de cultura
no curto regime bolchevique de Bela Kun na Hungria. Durante esse período, ao
perguntar “Quem nos salvará da civilização ocidental?” ele instituiu o que chamou
de “terrorismo cultural”. Um dos seus principais componentes foi a introdução
da educação sexual nas escolas húngaras. Lukacs percebeu que se ele pudesse
destruir a moral sexual tradicional do país, teria dado um enorme passo no
sentido de destruir sua moral tradicional e sua fé cristã.
Longe de se
unirem ao “terrorismo cultural” de Lukacs, a classe trabalhadora da Hungria
ficou tão escandalizada que quando a Romênia invadiu a Hungria, os
trabalhadores não lutaram pelo governo de Bela Kun, que acabou sendo derrubado.
Lukacs desapareceu, mas não por muito tempo. Em 1923, ele apareceu em uma
“Semana de Estudos Marxistas” na Alemanha, um programa patrocinado pelo jovem
marxista Felix Weil, que havia recebido uma herança milionária. Weil e outros
que estiveram naquela semana de estudos ficaram fascinados pela perspectiva
cultural do marxismo apresentada por Lukacs.
A Escola de
Frankfurt
Weil reagiu
utilizando parte da sua fortuna para abrir um novo think tank na Universidade
de Frankfurt, na Alemanha. Ele originalmente seria chamado de “Instituto para o
Marxismo”. Mas os marxistas culturais se deram conta de que seria muito mais
eficaz ocultar sua verdadeira natureza e seus objetivos. Eles convenceram Weil
a dar ao novo instituto um nome que parecesse neutro, o “Instituto para
Pesquisa Social”. Logo conhecida simplesmente por “Escola de Frankfurt”, o
Instituto para Pesquisa Social se tornaria o lugar onde o politicamente
correto, da forma como conhecemos, foi desenvolvido. A resposta básica à
pergunta “Quem roubou a nossa cultura?” é: foram os marxistas culturais da
Escola de Frankfurt.
Primeiramente,
o Instituto trabalhou principalmente com questões marxistas convencionais, como
o movimento trabalhista. Mas isso mudou drasticamente em 1930. Naquele
ano, o Instituto recebeu um novo diretor, o brilhante jovem intelectual
marxista chamado Max Horkheimer. Horkheimer havia sido fortemente influenciado
por Georg Lukacs. Ele rapidamente se esforçou em transformar a Escola de
Frankfurt no lugar onde o trabalho pioneiro de Lukacs sobre o marxismo cultural
pudesse ser desenvolvido até se tornar uma ideologia completa.
Para esse
fim, ele trouxe alguns novos membros para a Escola de Frankfurt. Talvez o mais
importante fosse Theodor Adorno, que se tornaria o colaborador mais criativo de
Horkheimer. Dentre os outros novos membros estavam dois psicólogos, Eric Fromm
e Wilhelm Reich, dois célebres promotores do feminismo e do matriarcado, e um
jovem estudante de pós-graduação chamado Herbert Marcuse.
Karl Marx
Avanços no
marxismo cultural
Com a ajuda
desse novo sangue, Horkheimer fez três grandes avanços no desenvolvimento do
marxismo cultural. Primeiro, ele derrubou a visão de Marx de que a cultura era
meramente parte da “superestrutura” da sociedade, que era determinada por
fatores econômicos. Ele disse, ao contrário, que a cultura era um fator
independente e muito importante para moldar a sociedade.
Segundo,
mais uma vez contrariando Marx, ele anunciou que no futuro, a classe
trabalhadora não seria a agente da revolução. Ele deixou em aberto a questão de
quem desempenharia esse papel, questão essa que foi respondida por Marcuse em
1950.
Terceiro,
Horkheimer e outros membros da Escola de Frankfurt decidiram que a chave para
destruir a cultura ocidental era cruzar Marx com Freud. Eles argumentaram que,
da mesma forma que os trabalhadores eram oprimidos pelo capitalismo, assim
todos, sob a cultura ocidental, viviam em um estado constante de repressão
psicológica. “Liberar” todos dessa opressão se tornou um dos principais
objetivos do marxismo cultural. E ainda mais importante, eles se deram conta de
que a psicologia lhes oferecia uma ferramenta muito mais poderosa do que a
filosofia para destruir a cultura ocidental: o condicionamento psicológico.
Hoje em
dia, quando os marxistas culturais de Hollywood querem “normalizar” algo como o
homossexualismo (“liberando”, portanto, as pessoas da “repressão”), eles
colocam um programa de TV atrás do outro em que único homem branco
aparentemente normal é um homossexual. É assim que o condicionamento
psicológico funciona: as pessoas absorvem lições que os marxistas culturais
querem que eles aprendam sem sequer perceberem que estão sendo ensinados.
A Escola de
Frankfurt estava prestes a criar o politicamente correto. Mas, de repente, o
destino interveio. Em 1933, Adolf Hitler e o Partido Nazista assumiu o poder na
Alemanha, onde a Escola de Frankfurt estava localizada. Uma vez que a Escola
era marxista, ideologia odiada pelos nazistas, e todos os membros da
instituição eram judeus, eles decidiram deixar a Alemanha. Em 1934, a Escola de
Frankfurt, incluindo os seus principais membros da Alemanha, foram
reestabelecidos na cidade de Nova York, com a ajuda da Universidade de
Columbia. E logo o seu foco foi transferido de destruir a cultura ocidental tradicional
na Alemanha para fazê-lo nos Estados Unidos. Isso também se mostrou bastante
bem sucedido.
Novos
avanços
Aproveitando-se
da hospitalidade americana, a Escola de Frankfurt logo deu prosseguimento ao
seu trabalho intelectual de criar o marxismo cultural. Para as suas conquistas
anteriores na Alemanha, ela acrescentou esses novos avanços.
A Teoria
Crítica
Para
cumprir o seu propósito de “negar” a cultura ocidental, a Escola de Frankfurt
desenvolveu uma poderosa ferramenta chamada de “teoria crítica”. O que era essa
teoria? A teoria era criticar. Ao sujeitar todas as instituições tradicionais,
incluindo a família, a críticas persistentes e infindáveis (a Escola de
Frankfurt teve o cuidado de nunca definir o que ela defendia, apenas o que
reprovava), ela esperava destruí-las. A Teoria Crítica é a base dos
departamentos de “estudos” que agora existem nas faculdades e universidades americanas.
Não é de se surpreender que esses departamentos são a origem do politicamente
correto acadêmico.
Estudos
sobre o Preconceito
A Escola de
Frankfurt buscou definir as atitudes tradicionais em todos os aspectos como
“preconceitos” em uma série de estudos acadêmicos que culminaram no livro
altamente influente de Adorno “The Authoritarian Personality” ("A
Personalidade Autoritária”), publicado em 1950. Eles inventaram uma fraude
chamada “escala F”, que buscava associar ao fascismo as crenças tradicionais
com relação à moral sexual, às relações entre homens e mulheres e às questões
familiares. Hoje em dia, o termo politicamente correto favorito contra qualquer
um que discorda deles é “fascista”.
Dominação
A Escola de
Frankfurt divergiu mais uma vez do marxismo, que argumentava que toda a
história era determinada por quem possuía os meios de produção. Em vez disso,
disseram que a história era determinada pelos grupos (definidos como homens,
mulheres, raças, religiões, etc.) que tinham poder ou “domínio” sobre outros
grupos. Alguns grupos, principalmente o de brancos do sexo masculino, foram
rotulados de “opressores”, enquanto que outros grupos foram definidos como
“vítimas”. As vítimas eram automaticamente boas e os opressores ruins, levando
em conta apenas o grupo do qual faziam parte, independente do comportamento
pessoal.
Embora
fossem marxistas, os membros da Escola de Frankfurt também se utilizaram de
Nietzsche (outra pessoa que eles admiravam por sua oposição à moral tradicional
era Marquês de Sade). Eles incorporaram no seu marxismo cultural o que
Nietzsche chamou de “transmutação de todos os valores”. O que isso significa,
em linguagem clara, é que todos os antigos pecados se tornam virtudes, e todas
as antigas virtudes se tornam pecados.
O homossexualismo
é bom e belo, mas qualquer um que pense que os homens e mulheres devem ter
papéis sociais diferentes é um “fascista” malvado. É isso que o politicamente
correto agora ensina às crianças nas escolas públicas pelo país. (A Escola de
Frankfurt escreveu sobre a educação pública americana. Ela disse que não
importava se as crianças estavam aprendendo quaisquer habilidades ou fatos.
Tudo o que importava era que elas se formassem nas escolas com as “atitudes”
certas em relação a determinadas questões.)
Mídia e
entretenimento
Liderados
por Adorno, a Escola de Frankfurt inicialmente se opôs à indústria cultural,
que consideravam uma cultura “comoditizada”. Mas depois eles começaram a
escutar o que dizia Walter Benjamin, um amigo próximo de Horkheimer e Adorno,
que argumentava que o marxismo cultural poderia fazer um uso muito eficiente de
ferramentas como o rádio, os filmes e mais tarde a televisão para condicionar
psicologicamente o seu público. A visão de Benjamin prevaleceu, e Horkheimer e
Adorno passaram os anos da Segunda Guerra Mundial em Hollywood. Não é por acaso
que a indústria do entretenimento é agora a arma mais poderosa do marxismo
cultural.
O
crescimento do marxismo nos Estados Unidos
Após a
Segunda Guerra Mundial e a derrota dos nazistas, Horkheimer, Adorno e a maioria
dos outros membros da Escola de Frankfurt retornaram à Alemanha, onde o
Instituto se reestabeleceu em Frankfurt com a ajuda das forças de ocupação
americanas. O marxismo cultural na época se tornou a ideologia não oficial, mas
predominante na República Federal da Alemanha.
Entretanto,
o inferno não se esqueceu dos Estados Unidos. Herbert Marcuse ficou nos EUA e
começou a traduzir todos os difíceis escritos acadêmicos de outros membros da
Escola de Frankfurt para uma linguagem mais simples que os americanos
entenderiam facilmente. Seu livro “Eros e Civilização” utilizou o cruzamento
feito pela Escola de Frankfurt de Marx e Freud para argumentar que, se nós
“libertarmos o Eros não procriador” por meio da “perversidade polimórfica”,
poderíamos criar um paraíso de pura diversão e nenhum trabalho. “Eros e
Civilização” se tornou um dos principais textos da Nova Esquerda na década de
60.
Marcuse
também ampliou o trabalho intelectual da Escola de Frankfurt. No início da
década de 30, Horkheimer havia deixado em aberto a questão de quem iria
substituir a classe trabalhadora como agente da revolução marxista. Na década
de 50, Marcuse respondeu a essa pergunta, dizendo que seria uma coalizão de
estudantes, negros, mulheres feministas e homossexuais: o coração da rebelião
estudantil da década de 60 e dos sagrados “grupos de vítimas” do atual
politicamente correto. Marcuse mais tarde tomou uma das palavras favoritas do
politicamente correto, “tolerância”, e lhe deu um novo significado. Ele definiu
a “tolerância libertadora” como a tolerância para todas as ideias e movimentos
que surgiam da esquerda, e intolerância como todas as ideias e movimentos que
surgiam da direita. Quando você vê hoje os marxistas culturais pedirem
“tolerância”, eles querem dizer a “tolerância libertadora” de Marcuse (assim
como quando pedem "diversidade", querem dizer uniformidade de crença
na sua ideologia).
A rebelião
estudantil dos anos 60, motivada em grande parte pela oposição ao serviço
militar obrigatório para a Guerra do Vietnã, deu a Marcuse uma oportunidade
histórica. Talvez como o “guru” mais famoso da Escola de Frankfurt, ele injetou
seu marxismo cultural na geração dos Baby Boomers. É claro, eles não entendiam
do que realmente se tratava. Pelo princípio que existia desde o início do
Instituto, Marcuse e outros poucos do círculo não anunciavam o politicamente
correto e o multiculturalismo como uma forma de marxismo. Mas o efeito foi
devastador: uma geração inteira de americanos, principalmente a elite universitária,
absorveu o marxismo cultural como deles, aceitando a tóxica ideologia que
buscava destruir a cultura tradicional e a fé cristã dos EUA. Aquela geração,
que domina todas as instituições de elite nos EUA, agora trava uma guerra sem
fim contra todas as crenças e instituições tradicionais. Em grande parte, eles
ganharam essa guerra. A maior parte da cultura tradicional dos EUA está em
ruínas.
Uma
contra-estratégia
Agora você
sabe quem roubou nossa cultura. A questão é: o que nós, como cristãos e
conservadores culturais, faremos a respeito?
Podemos
escolher entre duas estratégias. A primeira é tentar retomar as instituições
existentes (as escolas públicas, as universidades, a mídia, a indústria do
entretenimento e a maior parte das grandes igrejas) dos marxistas culturais. É
o que eles esperam que tentemos fazer, e estão preparados para isso; estaríamos
com nada além de uma pequena voz e poucos recursos comparados aos deles,
fazendo uma investida frontal contra posições defensivas de prontidão. Qualquer
soldado pode lhe dizer que isso quase sempre leva a: derrota.
Há outra
estratégia, mais promissora. Podemos nos separar, junto com nossas famílias,
das instituições que os marxistas culturais controlam e construir novas
instituições para nós, que nos reflitam e nos ajudem a recuperar a cultura
ocidental tradicional.
Há muitos
anos, meu colega Paul Weirich escreveu uma carta aberta ao movimento
conservador sugerindo essa estratégia. Embora a maioria dos outros líderes
conservadores (republicanos, melhor dizendo) hesitassem, a carta ressoou
intensamente entre os conservadores de base. Muitos deles já fazem parte de um
movimento para se separar da cultura corrupta dominante e criar instituições
paralelas: o movimento de educação escolar em casa. Movimentos similares estão
começando a oferecer alternativas sólidas em outros aspectos da vida, incluindo
movimentos para promover pequenas fazendas familiares (geralmente orgânicas) e
para desenvolver mercados comunitários voltados para os produtos dessas
fazendas. Se o lema do Admirável Mundo Novo é “Pensar globalmente, agir
localmente”, o nosso deveria ser “Pensar localmente, agir localmente”.
Portanto, a
nossa estratégia para desfazer o que o marxismo cultural fez para os EUA tem um
certo paralelo com a sua própria estratégia, da forma como expôs Gramsci
décadas atrás. Gramsci convocou os marxistas para empreender uma “longa marcha
nas instituições”. Nossa contra estratégia deveria ser uma longa marcha para
criar as nossas próprias instituições. Isso não acontecerá rapidamente, ou
facilmente. Será um trabalho de gerações, assim como foi o deles. Eles foram
pacientes, pois sabiam que as “forças motrizes da história” estavam do lado
deles. Não podemos ser igualmente pacientes e perseverantes sabendo que o
Criador da História está do nosso?
Nota do editor: Este artigo foi extraído do novo livro do Dr.
Ted Baehr e Pat Boone “The Culture-wise Family: Upholding Christian Values in a
Mass Media World.” (“A Família do Ponto de Vista Cultural:
Defendendo Valores Cristãos em um Mundo de Mídia de Massa”). No livro, o especialista
em entretenimento, Dr. Ted Baehr, e o lendário músico Pat Boone recomendam que
as pessoas façam decisões sábias para si mesmas e para suas famílias, para que
possam proteger seus filhos das mensagens tóxicas da cultura.