A NOVA MORALIDADE
Por NORMA BRAGA*
Cristianismo e
Parasitismo
Tanto no Antigo Testamento como no
Novo Testamento, uma das ênfases bíblicas mais bonitas é o cuidado com os
fragilizados da sociedade, o pobre, o órfão, a viúva, o estrangeiro. Toda a
Escritura os menciona, condenando quem abusa de sua situação de vulnerabilidade
e estimulando que sejam amparados, o que demonstra o especial zelo de Deus para
com eles.
No mundo Ocidental, embebido de
conteúdos judaico-cristãos esse especial cuidado com os desvalidos passou para
a graça comum, sendo incorporado à cultura e gerando posturas concretas.
Mudanças progressivas na mentalidade ocidental resultaram na criação de
diversas instituições de ajuda como abrigos, orfanatos, asilos, casas de
recuperação; no estabelecimento dos direitos humanos e dos direitos
trabalhistas; no respeito pelo deficiente, etc.
Por mais que o homem trabalhe pelos
desvalidos, no entanto, nada indica que conseguiremos um mundo ideal em que
tais situações de vulnerabilidade extrema sejam inexistentes. Pelo contrário:
os cristãos que creem na Bíblia sabem que essa será uma característica somente
de um mundo redimido, em que não mais subsistirá nenhum tipo de sofrimento:
“Deus mesmo estará com eles. “E lhes
enxugarás toda a lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem
pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”. Apc.21:3-4
Assim, os cristãos agem para minorar
o sofrimento existente no mundo, mas sempre cientes de que a redenção foi
conquistada em Cristo e se manifestará em toda a plenitude no final dos tempos.
No século XIX, porém, a preocupação
bíblica com os pobres foi transmutada em uma utopia materialista e terrena. O
marxismo surgiu como uma proposta de redenção total para agora, uma relação humana por meio da economia. Nesse sentido,
é uma espécie de parasita do cristianismo, estruturando-se em moldes cristãos e
acomodando-se à linguagem do amor cristão, como uma teologia de ponta-cabeça. Conforme
pontifica Nancy Pearcey, o marxismo imita os pontos mais centrais da teologia
cristã: a criação divina é substituída pela matéria autônoma; o pecado
original, pela propriedade privada; a salvação em Cristo pela revolução
socialista. De acôrdo com o próprio Karl Marx, “o comunismo é o enigma resolvido da história e se vê como essa
solução”.
No comunismo, a preocupação com os
pobres se torna a bandeira que mobiliza a compaixão do povo; empunhando tal
bandeira o Estado comunista acumula poder e se assenhora não só dos meios de
produção, mas da direção da história: uma função grande demais. Em nome dos
oprimidos, o Estado se torna o único a exercer opressão – uma opressão tão
pesada que caracteriza o que a autora judia Hannah Arendt chamou de
“totalitarismo”.
Segundo Arendt, o totalitarismo não
é somente um governo despótico e tirânico. Os governos totalitários se fundamentam
em uma idéia que muda totalmente a cosmovisão de dada sociedade, destruindo a
antiga e fundando uma nova - como se
fosse legítimo e possível que a vida comum e o próprio homem fossem moldáveis à
força por outros homens. Este processo
não pode ser levado a cabo sem que o estado assuma a posição de um guia supremo
em todas as áreas, impondo à sociedade seus próprios valores. Na Bíblia, porém,
a função estatal tem limites bem precisos: deus instituiu os magistrados para
punir os maus e garantir a ordem Romanos 13. De acordo com Abraham Kuyper, a sociedade é
constituídade de esferas autônomas – a consciência individual, a família, a
igreja, as livres associações. O Estado
jamais pode ferir a soberania das esferas individuais, familiares e
corporativas, pois a autoridade de cada esfera descende igualmente de Deus. O Estado totalitário necessariamente rompe a
necessária divisão entre as esferas, invadindo âmbitos que não lhe pertencem e
aniquilando a liberdadeindividual e de associação. As igrejas cristãs foram grandemente
atingidas por perseguição, como mostram, por exemplo, os tocantes testemunhos
de Haralan Popov na Bulgária, Irmão Yun na China e Richard Wurmbrand na
Romênia, dentre outros.
O avanço do Estado sobre as demais
esferas é efetuado, como foi dito, com base em um processo parasitário que
culmina na criação de uma teologia humanista, com sua redefinição de bem e mal.
No cristianismo, o que é o bem e o que é o mal? O bem é absoluto, e Deus é o
Supremo Bem; o mal é uma instância não absoluta, consequencia da separação
entre Deus e o homem. Sem Deus o homem está morto espiritualmente, imerso emsua
própria maldade; todos somos pecadores e todos carecemos da glória de Deus
(Rm.3:23): esse é o sentido do pecado original. A morte espiritual só é
resolvida na cruz de Cristo, que, sendo inocente, morreu por nós para nos
livrar do pecado. Já na teologia estatal humanista, que se realiza nos regimes
totalitários que conhecemos – comunismo e nazismo -, o Estado assume o lugar de
Deus, quando decide quem é mau de acordo com parâmetros próprios, em uma
preocupação com a permanência no poder. O Estado passa a ser o promotor
autoritário de uma nova moralidade que busca submeter todas as outras,
aniquilando-as.
Na Alemanha, o nacional-socialismo
criou sua própria versão de teoria da evolução, conjugada a mitos arianos e
demais símbolos nacionalistas, para estabelecer que os “bons” seriam os arianos
e os “maus” o restante da população. Assim, os bodes expiatórios da Alemanha
hitlerista foram judeus, ciganos, cristãos dissidentes e povos não-alemães,
além dos inimigos ideológicos do regime, ou seja, qualquer um que não se
enquadrasse no ideal ariano da perfeição, que era povoar o mundo de “fortes”. O
nazismo deixou quarenta milhões de mortos. Na ex-URSS, Lênin usou as teorias de
Marx sobre a luta de classes e a revolução socialista para dividir os homens em
classe dominante (“maus”) e classe operária
(“bons”): os bodes expiatórios do regime soviético foram os detentores
dos meios de produção, os considerados “párias” da sociedade e qualquer um que
fosse inimigo ideológico do regime, recusando-se a partilhar de um ideal de
igualdade econômica que clamava privilegiar os “fracos”. O objetivo do totalitarismo é estabelecer um padrão de pensamento
único pelo qual o governo, ou seja, o Estado, torna-se praticamente
indestrutível.
Um ideal de uma sociedade de
“fortes” com base em uma suposta superioridade racial é algo particular demais
para implantar-se como ideologia mundial. O caráter imperialista, abertamente
conquistador, do nazismo é o que o torna uma ideologia antipática para a
maioria. Já o comunismo continua a ser partilhado por muitos justamente porque
seu ideal (em teoria) é o restabelecimento de uma “justiça” na terra por meio
do cuidado com os fracos. Embora o comunismo tenha até feito mais mortos que o
nazismo, não sofreu a mesma condenação. Por que? Justamente por sua aparência
“nobre”, que lhe foi conferida por uma distorção da teologia cristã. O
comunismo não é a declaração aberta de conquista de outros povos, mas sim um
ideal de redenção, em que os “maus” são egoístas que compõem as classes
dominantes e não querem abrir mão de seus “privilégios”. O Estado se apresenta,
nesse contexto, como a mão de Deus que restabelece a justiça. A finalidade
explícita do comunismo é acabar com as classes dominantes e promover a
igualdade econômica; a implícita é transformar o Estado na única classe
dominante, poderosa e inatacável, ao transferir todos os meios de produção e todo
o poder político para as mãos do grupo que lidera o país.
O comunismo fez mais de cem milhões
de mortos nos países em que foi implantado. Quem não foi morto diretamente pelo
governo foi morto pela fome, pois o fim da propriedade privada baixou
drasticamente a produção de alimentos. Essa é a consequencia quando se mexe
drástica e arbitrariamente na economia: os direitos mais básicos são
restringidos e as pessoas não mais encontram estímulo algum ao trabalho.
Declara o economista e analista político Thomas Sowell que o controle dos
preços não só não funciona, mas tem efeitos cruéis: quando o governo decreta
que os alimentos só podem ir até determinado valor, os produtores se veem
desanimados com a possibilidade de um lucro diminuído ou nulo e o resultado é a
queda drástica na produção. Assinala, ele, que foi justamente por causa desse
mecanismo que houve fome na França na época da Revolução. Quando, então, o
governo extrapola mas ainda sua intervenção a economia e simplesmente se
apropria dos meios de produção, tomando à força os negócios das pessoas, como
aconteceu nos países comunistas, o resultado é fome e carência generalizada. Em
Cuba, cada pessoa tem “direito”a um cartão parase alimentar, de um valor tão
pequeno que não supre as necessidades nutricionais. A Cuba de Fidel Castro é
uma nação de desnutridos. Em suas viagens para lá, turistas caridosos costumam
levar em malas abarrotadas rolos de papel higiênico, tubos de pasta de dente e
demais itens básicos para distribuir às pessoas. Diante desse quadro, é de uma
crueldade inigualável elogiar a “desenvolvida”medicina cubana.
O poder do governo comunista se
torna um poder, sobretudo, moral ao
basear-se nessa finalidade alegadamente “altruísta” – a igualdade – para seu
fortalecimento e sua perpetuação, já que é
o Estado que precisa, teoricamente, deter a riqueza para depois
distribuí-la; evidentemente, na prática, nada distribui. Em teoria os líderes
comunistas se esforçam “pelos pobres” contra os opressores “ricos”; na prática,
os opressores são os que se opõem ao regime, ricos ou pobres: o comunismo matou
muitos pobres, quando dissidentes do regime, e privilegiou muitos ricos, por
trabalharem ideologicamente pelo comunismo. Além disso por tomar as riquezas
para si, o Estado omunista é a instituição mais rica do país. O próprio Fidel
Castro foi considerado um dos mais ricos pela revista Forbes. Na Venezuela,
Chavez dizia “eu sou o povo” para
justificar a progressiva supressão da democracia, depois de mudar a
constituição para garantir a perman6encia no poder e decretar que nenhum
venezuelano poderá fazer o que quiser com seus bens imóveis sem autorização do
governo.
Todas essas arbitrariedades estatais
se valem do substrato cristão da cultura que nos manda cuidar dos desvalidos,
para impor não só a redenção através da economia, mas um tipo de moralidade que
absolutiza a posição econômica como
um dado espiritual incontestável: assim, os pobrese necessitados são sempre as
vítimas, não importa a situação. Cria-se uma atmosfera em que são justificados
e desculpados ladrões e assassinos. O pensador René Girard deu a esse mecanismo
de justificação o nome totalitarismo da
vítima: em nome das vítimas, passa a ser peritido fazer vítimas sem conta.
Isso tem dado amplo respaldo aos regimes comunistas que ainda estão em vigor
(como o de Cuba, da Coreia do Norte etc.) e também aos terroristas, que em
geral contam como apoio dos que defendem o socialismo. Em nome do amor e da
compaixão pelos fracos da sociedade, até mesmo cristãos verdadeiros têm caído
nessa armadilha.
Na cosmovisão cristã, porém, sabemos
que toda a glória é devida somente a Deus. Somente Deus é Senhor; todo poder
que nos é dado na terra é um poder relativo,submetido ao poder supremo e único
de Deus. Portanto, se assumimos posições de comndo, precisamos tomar muito
cuidado para exercer esse poder de uma forma moderada, para não agir como um
“deus” sobre a vida de outras pessoas. No comunismo, essa moderaçào não existe,
pois a instância transcendente é negada ou desviada para fins de otenção de
poder total. Entregues a si mesmos,os homens se veem reduzidos a lutar uns
contra os outros para prevalecer. Uma sociedade sem Deus, cujas dimensões são
inteiramente politizadas, é uma sociedade treinada para ver a tudo com os olhos
cobiçosos do poder humano. Nós, cristãos, sabemos que todos somos pecadores; a
humanidade é má e, desprovida do Espírito Santo, não encontra oposição alguma a
sua sede de podere controle. Quanto mais poder você der a um homem, mais ele se
mostrará pecador; é o orgulho do “só eu
posso resolver isso”. Por isso as sociedades de mocráticas funcionam
melhor: a alternância de poder evita o abuso, e o direito à propriedade privada
(garantida pelo próprio Deus no oitavo mandamento e confirmada por Jesus em
Mt.19:18) garante que cada pessoa tem seu papel na produção e na administração
de bens. O Estado sempre se mostrou um péssimo produtor e um péssimo
administrador da produção. Um mundo sem proprietários só seria possível em um
mundo sem pecadores. Os cristãos experimentaram um pouco disso em Atos.
“Da
multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava
exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era
comum”. Atos 4:32
Uma das estratégias diabólicas mais
eficazes para fazer com que os cristãos sejam adeptos e divulgadores de um
marxismo travestido de cristianismo, um pensamento secularista e em oposição à
verdadeira espiritualidade, tem sido a confusão entre a Bíblia e a ideologia
marxista. Assim, muitos se utilizam desse texto de Atos para justificar o
comunismo. Mas é exatamente o oposto: “Da
multidão dos que creram era um o coração e a alma” . Quem realiza essa
harmonia entre o povo? O Espírito Santo. “Ninguém
considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém,
lhes era comum”. Quem dá essa bondade ao coração? O Espírito Santo. No
comunismo, tudo descende do Estado e tudo é obrigatório: a uniformidade de
pensamento é conseguida na base da força bruta, com coação e sangue; a tal “redistribuição da riqueza” é
apenas uma desculpa para que o Estado se fortaleça economicamente roubando os
bens do povo. Assim, o espírito deste século usa de uma máscara de amor cristão
para tentar enganar os que são de Cristo, desviando suas esperanças para uma
falsa redenção puramente humana e jamais conquistada.
A
Gênese do politicamente correto
Depois dos repetidos fracassos do
comunismo como um regime fechado e claramente autoritário – que gerou matanças
e crueldades generalizadas, elevou a pobreza a níveis inimagináveis e destruiu
a liberdade, a independência, o senso de responsabilidade, os valores, as
instituições e a livre iniciativa - , estamos
vivendo , na maior parte do mundo
ocidental, um comunismo mais “camaleônico”, diluído na cultura. Em mais uma de
suas previsões errôneas, Marx declarou que, em situação de guerra, haveria um
inevitável acirramento da luta de classes, e a classe operária europeia se
levantaria em massa para derrubar os governos “burgueses”. Quando irroumpeu a
Primeira Guerra Mundial, em 1914, ocorreu exatamente o oposto: as pessoas se mobilizaram por seus
respectivos países, deixando de lado toda a ideia de “classe”. Dois pensadores marxistas se propuseram a
analisar o fenômeno. Na Itália e na Hungria, respectivamente, Antônio Gramsci e
Georg Lukacs foram pioneiros na ideia de que os trabalhadores só perceberiam
seus verdadeiros interesses de classe se fossem libertados da cultura
ocidental, calcada em valores judaico-cristãos. Enquanto no comunismo
tradicional as igrejas cristãs eram a grande vilã do regime por recusarem-se a
colocar os conteúdos da fé a serviço da ideologia, no marxismo cultural o
grande obstáculo para a criação do “paraíso” socialista passou a ser, além das
igrejas, o cristianismo infuso na cultura – o mesmo cristianismo que forneceu
as bases para o direito como o conhecemos hoje e gerou a preocupação com os
frágeis da sociedade. Assim, ao mesmo tempo em que age como um parasita dos
aspectos cristãos na graça comum – aproveitando-se da ênfase no amor, na
não-violencia, na preocupação com os mais frágeis da sociedade - , o marxismo
cultural destrói a moralidade tradicional e esse mesmo direito, preparando a
sociedade para a aceitação plena de um moralismo perverso, ditatorial e
utilitarista. O parasita primeiro faz parte do organismo invadido, para depois
destruí-lo.
O marxismo foi assim transmutado em
libertação da “moral burguesa”. Passaram a ser atacados a religião cristã, a
moralidade cristã, as instituições em geral, a cultura da responsabilidade
individual, o casamento, a fidelidade conjugal, a família, a maternidade, os
limites na educação da criança, etc.
Os anos 1960 ficariam caracterizados
como a época das transformações nos costumes, da revolução sexual, do movimento
hippie, do lema “É proibido proibir”.
Em uma exaltação da juventude sem limites, explode o movimento estudantil, com
suas rebeliões sem causa e sem propostas concretas. O filósofo anglicano Roger
Scruton esteve em Paris, no auge da agitação que ficou conhecida como “maio de 1968” , e se chocou
profundamente com as cenas que viu: jovens que, com gritos de guerra e urros de
alegria, arremessavam paralelepípedos em policiais, comemorando a queda de
vários deles. Ao inquirir sua amiga,
empolgada com os acontecimentos ouviu as respostas tiradas do livro. As palavras e as coisas, de Michel
Foucault, considerada a “bíblia” dos jovens franceses do movimento estudantil.
Nesse livro, estavam justificados todos aqueles atos de violência gratuita: os
jovens haviam sido treinados a enxergar na cultura e no conhecimento apenas “discursos de poder”, ou seja o velho
opressor marxista. Para aqueles estudantes, os policiais não passavam de
símbolos; por isso, podiam se regozijar com o medo e as feridas que infligiam
neles.
Trazida para a atmosfera cultural,
volatilizada para virtualmente significar qualquer coisa que pudesse
representar um “poder opressor”, a
luta de classes – que, não esqueçamos, é a base para um simulacro de teologia:
os opressores encarnam os “maus”a serem sacrificados e banidos – foi transposta
para a percepção do indivíduo. O estabelecimento do que, na prática, é bom ou
mau, um enigma moral e milenar, passa a ser facilmente resolvido, de antemão,
por aqueles que aceitam o convite para a politização de toda a existência.
Nessa nova religião secular
travestida de “bem comum”, cada pessoa é levada, nas escolas e na mídia, a se
ver como um membro de uma classe que tem como inimiga outra classe, a se ver
como um oprimido em luta contra algum opressor. As igrejas cristãs,
evidetemente, como já decidido na gestação dessa nova versão de marxismo,
situam-se no campo dos grandes opressores, “reprimindo” a sexualidade, a
criatividade, as livres escolhas. Enquanto escolhem a libertação, os
politicamente corretos, infantilizados moralmente (pois jogaram todos os
referenciais antigos pela janela, sem analisá-los, em nome da
“liberdade”), correm para os braços do papai Estado, pedindo-lhe que assuma
tudo por eles. A contradição é flagrante: uma crescente uniformidade ideológica
se estabelece entre políticos, artistas, professores, estudantes e
intelectuais, que se posicionam à esquerda achando-se muito “transgressores” e
“diferentes”, mesmo cinquenta anos depois de maio de 1968, ao mesmo tempo em
que se oferecem voluntariamente como apoiadores de ideologias totalitárias e
leis que reprimem a consciência individual. Esses “diferentes”repetem os mesmos
jargões, expressam as mesmas ideias “libertárias”, concordam com as políticas
públicas e aprovam enfaticamente cada imposição do governo, cada avanço do
Estado sobre a vida privada, enquanto continuam rejeitando amargamente o
cristianismo sem ler uma palavra sobre o assunto. Entregam sua liberdade em uma
bandeja para o Estado e contiuam enxergando a si mesmos como libertários.
Diante de tudo isso, não é difícil constatar, como delcarou Rene Girard em
entrevista que “os cristãos
fundamentalistas são os dissidentes verdadeiros”.
A
Justiça Cósmica
Na nova moralidade politicamente
correta, que recupera o dualismo da “luta de classes” (opressor versus
oprimido) e o expande, decide-se de antemão quem é o culpado e quem é a vítima,
de acordo com o seguinte esquema:
Os
pobres são os oprimidos dos ricos;
Os
negros são os oprimidos dos brancos;
As
mulheres são as oprimidas dos homens;
Os
filhos são os oprimidos dos pais;
Os
homossexuais são os oprimidos dos heterossexuais “homofóbicos”.
Assim, a sociedade é orientada para
enxergar injustiças perpetradas por classes, não por indivíduos específicos em
dadas situações. O rico que ajuda o pobre, as posturas não-racistas e
não-machistas, o respeito do cristão pelo homossexual, tudo isso se torna
oculto: a ideia da opressão se sobrepõe aos fatos reais. Uma classe é sempre
culpada e a outra é sempre vítima. Um grande exemplo disso é a justificação
massiva que hoje um procedimento tão claramente infame como o aborto tem
recebido, sendo justificado pela opressão da mulher. Quem não permite à mulher
“decidir” se vai ou não ter o filho é o opressor, é o machista que não quer que
a mulher tenha a liberdade de escolher ser mãe. A mãe que não quer ser mãe é a
vítima, e em nome da vítima o feto pode ser morto. A verdadeira vítima, o feto,
não é considerada, mas imolada em nome da ideologia. Isso se dá exatamente como
nos regimes comunistas que matavam pessoas também em nome da ideologia: esses
sistemas e seus governantes ecebiam grande apoio de intelectuais europeus que,
apesar das informações que recebiam, jamais enxergavam o fato óbvio, as reais
matanças do comunismo? Da mesma forma, alguns não hesitaram em comemorar como “vitória contra o imperialismo” o 11 de
setembro nos Estados Unidos, quando aviões foram jogados contra um prédio de
escritórios em Nova York. Uma ideologia que transforma o assassinato em símbolo
– tanto dos filhos no ventre da mãe, quanto dos trbalhadores do World Trade
Center - é algo realmente perigoso.
Esse apagamento dos seres humanos
reais e sua caracterização como membros de uma classe “boa” ou “má” é uma
verdadeira religião sectária que torna o grupo um definidor da identidade.
Assim, forma-se uma cultura de tribo: é a “tribo” que define a identidade de
cada um no grupo, e qualquer ameaça de fora é tratada da mesma forma com que a
tribo selvagem cuidava das ameaças: o mecanismo do bode expiatório. Nesse caso,
o mecanismo está sustentado por toda uma cosmovisão perversa, que impossibilita
que as pessoas enxerguem sua inocência. E, se não há tentativa de assassinato
real, há tentativa de assassinato social, por meio de difamação e exposição da
imagem. Assim o pensamento politicamente correto se apresentaria precisamente
como uma nova religião (sempre negada como tal), com sua moral gestada no
ventre da divisão marxista da “luta de
classes”. A redenção consiste nisso: a classe “boa” precisa exterminar
(fisicamente, o comunismo, ou social e juridicamente no marxismo cultural) a
classe “má”, em prol da utopia de uma sociedade totalmente uniformizada.
Em nome de uma noção deturpada de
igualdade, governantes e juristas inspirados pelo marxismo extrapolam
maximamente sua área de atuação e controle ao tentar restabelecer, em bases
totalmente seculares, uma justiça “cósmica”na terra. A igualdade como um ideal
é de inspiração cristã, pois somente Deus pode ser o árbitro sobre homens,
igualando-os e instando-os para que não pratiquem opressão uns contra os
outros. O parasitismo marxista se revela nessa questão ao pregar uma igualdade
forçada, absolutizada, gestada sob a
batuta do Estado. Em seu livro já citado, Thomas Sowell explica que uma das
características mais fundamentais de nosso tempo, escorada no marxismo, é a
perversão do direito tradicional. Sowell afirma que a justiça tradicional, com
leis definidas, que pune os criminosos por seus crimes reais, vem sendo
substituída pela “justiça cósmica”,
ou seja, uma tentativa humana e pecaminosa de igualar as pessoas com base em
uma injustiça inespecífica, geral. A justiça cósmica não resolve casos reais
com pessoas de carne e osso: só resolve problemas por meio de abstrações, ou
seja, toda uma “classe” se torna objeto da justiça, não as pessoas específicas
que estão envolvidas em determinada situação que vai a julgamento. Os
indivíduos são apagados em função de uma ideia geral. E, quando isto ocorre,
não se julgam casos, mas impõe-se uma ideologia. Juízes influenciados pelo
marxismo, por exemplo, tenderão sempre a julgar em favor do funcionário contra
uma corporação, ainda que, naquele caso específico, segundo as leis, o
funcionário esteja errado e a corporação correta.O papel do jurista como uma
espécie de “super-herói dos desvalidos”
tem se popularizado cada vez mais.
O colunista Augusto Nunes, da
revista Veja, trouxe uma análise impressionante desse fato por um de seus
leitores da área do direito:
“Uma
coisa é a solução construída a partir de sua ideologia, outra é aquela
construída a partir das leis. Justamente porque o autocontrole de suas
convicções pessoais deve ser mais forte, a consistência da argumentação
jurídica deve ser mais densa. Atenção, eu disse “jurídica”. É essa a
fundamentação exigida pela própria Constituiçào, no art.93, IX. E qual a
análise que você mesmo fez? A esmagadora maioria dos ministros indicados na era
do PT, nessas questões fortemente políticas, fazem exatamente o contrário do
que eu disse acima. Enquanto outros ministros, mesmo expressando um teor
político alto, não descuidam de dar higidez jurídica a seus votos, estes, que
prefiro não citar nominalmente realizam raciocínios pseudojurídicos
absolutamente constrangedores. Uns se fiam no “clamor da ruas”, outros têm
devaneios pretensamente “poético-literário-filosóficos”. Alguns fundamentam
suas conclusões no sentimento, no amor, no que é bom, certo e justo; outros, na
justiça de não negar à geração atual o que entende-se ter sido negado às
gerações passadas, desenhando paralelismos canhestros entre situações
históricas que não se equivalem. E, por fim, todos acabam se permitindo contaminar
pelo vocabulário “novilinguístico” das militâncias e dos lobbies diversos,
fazendo-os constar das razões de voto, das ementas dos julgados!”
Chamo a atenção do leitor para a
expressão “vocabulário novilinguístico”: a
palavra “novilíngua” foi cunhada por
George Orwell para indicar a linguagem do regime totalitário representado em
seu romance 1984. Essa linguagem falseia a realidade para dobrá-la à ideologia.
O uso internacional dos mesmos termos aplicados às mesmas questões por
dirigentes políticos e lobistas poderosos é um fato mais que significativo da
imposição mundial da ideologia politicamente correta. Hoje, por exemplo, o
aborto é transformado em “direito reprodutivo” e “questão de saúde pública”,
enquanto qualquer objeção (filosófica, moral, psicológica) ao homossexualismo é
equiparada a espancamentos de gays sob o insultuoso termo “homofobia”. Trata-se
de um vocabulário que criminaliza imediatamente as posturas contrárias. Orra,
Jesus afirmou que “a boca fala do que
está cheio o coração” Mt.12:34. A polarização expressa na linguagem é, em
primeiro lugar, interior.
* Norma Braga: Doutora em Letras, Apologeta e blogueira cristã. Tradutora, Conferencista e Escritora.
* Norma Braga: Doutora em Letras, Apologeta e blogueira cristã. Tradutora, Conferencista e Escritora.
Jesus de Nazaré foi executado nesta sexta-feira por
ordens do estado romano. Método de execução: crucificação.
Sob a lei
romana, a acusação foi a de traição; sob a lei de Herodes, de blasfêmia contra
o Templo.
As
evidência s contra este anarquista eram tão fortes, que tanto as autoridades do
estado romano quanto as do reino de Herodes trabalharam conjuntamente em sua
prisão e execução, de modo que Jesus foi levado a julgamento por ambos os
governos.
E, em uma rara
manifestação de justiça coletiva espontânea, as massas que estavam reunidas por
ocasião da Páscoa Judaica também pediam por sua execução. A plebe afirmava sua
lealdade ao estado com brados de "Não temos outro rei senão Cesar".
A execução
ocorrida na sexta-feira interrompeu uma vida repleta de agitação anti-governo,
bem como uma longa história de ilegalidade. A família de Jesus estava em posse
de arquivos genealógicos ilegais e não-sancionados pelo estado, os quais
indicavam que Jesus possuía uma linhagem real e solapavam a reivindicação de
Herodes ao trono.
A alegação
maliciosa, que foi amplamente difundida entre o povo, era a de que o rei era um
edomita, e não um judeu. O rei ficou atormentado por esta alegação
e lamentou que, pouco após seu pai ter assumido o poder, os arquivos
genealógicos (os quais certamente provariam seu direito legítimo ao trono)
houvessem sido destruídos em um incêndio de origem misteriosa, provavelmente
iniciado por agitadores anti-governo.
Ainda quando
menino, Jesus já era reconhecidamente um inimigo do estado, tendo sido
condenado à morte pelo antecessor do atual rei, Herodes, o Grande. No
entanto, agentes estrangeiros subversivos enganaram o rei e, com a ajuda deles,
Jesus e sua família desobedeceram às ordens legais das autoridades
governamentais e fugiram ilegalmente para o Egito, onde permaneceram escondidos
até a morte do rei. Depois disso, sabe-se que eles retornaram à grande
Israel, onde se estabeleceram na Galileia, nas fronteiras do reino, longe da
capital e de seu rápido sistema judiciário.
Cerca de
três anos antes de sua crucificação, Jesus — que também era chamado de "O
Cristo" por seus seguidores, como forma de desafiar as autoridades — se
tornou uma figura pública com o auxílio de seu primo João, que por sua vez
também foi executado pelo estado devido à sua falta de respeito para com a
figura do rei.
A carreira
criminosa de Jesus incluiu insultos públicos ao rei (chamou Herodes de
"raposa" e de "junco ao vento"); insinuações de que o
estado romano deveria prestar contas a Deus, e não o contrário; e maus tratos a
funcionários públicos, inclusive a um coletor de impostos e a um membro do
Sinédrio (os quais foram ordenados ou estimulados a devolver os bens ao povo de
quem haviam tributado de acordo com a lei).
Ele também
foi culpado de uma série de ações que traidoramente questionaram a legitimidade
de órgãos do governo, como o templo de Herodes. Ele, por exemplo,
ofereceu aos pecadores o perdão e uma aliança com Deus, desta forma violando o
monopólio estatal (pertencente ao Templo) da expiação pública e do perdão.
Adicionalmente, Jesus ilegalmente invadiu propriedade do governo e interferiu
em operações cambiais sancionadas pelo estado e que funcionavam com a permissão
dos indicados pelo rei a taxas cambiais aprovadas pelo governo.
Ele
conseguiu evitar, por algum tempo, sua prisão recorrendo à inteligente tática
de disfarçar sua propaganda anti-governo na forma de respostas codificadas, de
analogias sugestivas mas ambíguas, e de aforismas confusos, por meio dos quais
ele conseguiu reunir um séquito sem dar evidências claras de suas visões
traidoras. No entanto, sua propaganda anti-governo, por fim, se tornou
inegável: previu a destruição do templo de Herodes e chegou até mesmo a negar
sua legitimidade, declarando-o "deserto" e "desolado".
Sua execução
foi declarada sumariamente e foi impiedosa, e seus discípulos se dissiparam. As
autoridades garantem que seu nome será rapidamente esquecido, ao passo que
Roma, a cidade eterna, e seu império irá durar para sempre. O templo construído
sobre o poder do estado romano e do reinado de Herodes serão eternos. As
autoridades também garantiram à população que a punição suprema — a morte por
execução, sobre a qual se fundamenta todo o poder do estado — foi o ato final
deste curto episódio da história de Roma, o qual será prontamente esquecido por
todos e não terá mais nenhuma importância posterior para a história humana.
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Jerry Bowyer é economista, colunista,
autor de livros e estudioso de teologia.
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