Por Paul
Rosenberg
Há quem jure que a busca pelo lucro é algo cruel, abusivo, ultrajante,
imoral e maléfico. É fato que há pessoas desonestas que recorrem a
métodos inescrupulosos para obter lucros em seus empreendimentos, mas basear-se
em tais pessoas para fazer uma condenação automática do lucro é uma postura
ignorante.
A verdade é que foi a busca pelo lucro o que aniquilou aquela milenar
abominação que foi a escravidão humana. Eliminar a capacidade das pessoas
de buscar o lucro significaria reimplantar a escravidão no mundo. E creio
que nenhum de nós quer isso de volta.
A escravidão era um sistema econômico
O que até hoje ainda não é corretamente entendido é que a escravidão era
a base do sistema econômico vigente no mundo antigo — como na Grécia e
em Roma.
Todo o sistema escravocrata se baseava praticamente em um só objetivo:
obter excedentes. É claro que os defensores da escravidão sempre
recorriam a justificativas criativas para defender o sistema escravocrata, mas,
no final, tudo se resumia a obter excedentes. Pode-se dizer, portanto,
que a escravidão era uma espécie de poupança coercivamente impingida.
Um indivíduo rudimentar e despreparado irá, caso seja abandonado à
própria sorte, gastar praticamente tudo o que ele ganha. Se ele conseguir
auferir algum excedente, ele provavelmente irá gastar este excedente em luxos,
prazeres, frivolidades ou em coisas piores. Enquanto ele não desenvolver
um caráter mais forte, enquanto ele não adquirir uma personalidade mais
estável, sobrará muito pouco de seu excedente para ser utilizado em outras
coisas.
Um escravo, por outro lado, jamais aufere rendimentos e,
consequentemente, não tem como gastá-los. Todo o excedente produzido por
um escravo é transferido para seu senhor. Foi exatamente este tipo de
arranjo gerador de excedentes o que tornou Roma um império rico.
Mas então surgiu a Europa cristã. Antes do advento do
cristianismo, não se encontra uma única cultura antiga que proibia a prática da
escravidão; a escravidão era vista como algo absolutamente normal. Sendo assim,
a Europa abolir o sistema escravocrata que havia herdado de Roma foi uma
mudança monumental.
Os europeus substituíram a escravidão — de maneira lenta e por causa de
seus princípios cristãos, e não em decorrência de algum plano consciente e
deliberado — adotando as seguintes posturas:
1. Desenvolvendo o hábito da frugalidade e da poupança em nível
individual. Isso requereu uma total mudança de postura e um enfoque
vigoroso em virtudes como a temperança (autocontrole) e a paciência.
2. Substituindo o arranjo de "produção forçada de
excedentes" pelo lucro. Para isso, os europeus tiveram de
recorrer à criatividade para alterar totalmente a natureza de suas atividades
comerciais. Eles tiveram de inovar, inventar e se adaptar para conseguir
mais excedentes por meio do comércio.
Sob um novo sistema que acabou sendo rotulado de capitalismo, a
poupança e a criatividade se tornaram os novos geradores de excedentes, e
nenhum ser humano teve de ser escravizado.
Um mundo sem lucros
Por outro lado, temos exemplos bem recentes do que acontece quando uma
cultura proíbe o lucro. Pense em tudo o que ocorreu em paraísos socialistas
como a URSS de Stalin,
a China de Mao, e as
nações escravizadas do Leste Europeu, e no que ainda ocorre na Coréia do Norte
e em Cuba.
São exemplos lúgubres que ilustram exatamente o que ocorre quando toda
uma população é escravizada pelo partido dominante. Nestes sistemas, o
indivíduo é obrigado a trabalhar e a produzir, mas é proibido de usufruir os
frutos e os rendimentos de seu próprio trabalho, tendo até mesmo o seu consumo
restringido pelo governo.
O lucro fornece incentivos para se trabalhar e empreender. Quando
ele é abolido, não apenas o ato de trabalhar e de empreender perde sua função,
como também aqueles que querem prosperar não têm como fazê-lo de maneira
honesta. E isso leva ou ao desespero ou à criminalidade.
O lucro é obtido por meio de trocas comerciais inovadoras e
recompensadoras. Se o lucro é eliminado, tem-se a escravidão. O
formato dessa escravidão pode ser variável, mas será uma escravidão de algum
tipo.
Com efeito, este resultado será o mesmo não importa se a eliminação do
lucro ocorrer por meio do comunismo (em que o lucro é punido com a pena
capital) ou do fascismo (em que todo o lucro é direcionado para os amigos do
regime).
A questão principal é o excedente produzido:
- Se o excedente pode ser produzido e acumulado pelo cidadão comum por meios honestos, a escravidão pode ser eliminada.
- Se os cidadãos honestos não tiverem a permissão de produzir e de manter seus próprios excedentes (sendo seus excedentes confiscados ou pelo estado ou pelos parceiros do estado), o resultado será alguma forma de escravidão.
O lucro é simplesmente uma ferramenta — uma maneira de gerar excedentes
sem a coerção imposta pela escravidão.
O que nos leva à conclusão definitiva: é impossível se livrar simultaneamente
da escravidão e do sistema de lucros. Você pode eliminar um dos dois, mas
sempre que eliminar um, ficará inevitavelmente com o outro.
O lucro se baseia nas virtudes
Para se viver em uma civilização que prospera por meio do lucro, é
necessário que o ser humano saiba domar todos aqueles seus instintos mais
primitivos — algo típico dos animais —, como a inveja. É necessário saber
desenvolver o autocontrole, a paciência, a temperança e, principalmente, saber
se concentrar em algo maior do que meras possessões materiais — afinal, é
exatamente o materialismo o motor da inveja e do igualitarismo.
É vergonhoso que o Ocidente tenha, ao longo dos últimos séculos, se afastado
de suas virtudes tradicionais, e passado a considerá-las vícios burgueses ou
meras superstições. Se algum dia finalmente perdermos todas as nossas
virtudes, o sistema de lucros perderá sua proteção e não mais será visto como
um motor da prosperidade, e a antiga e extinta prática da escravidão irá
voltar.
Nossas ações têm consequências.