quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A educação brasileira no banco dos réus


Por Marcio Estanqueiro


 
Semana passada, as instituições de ensino de nosso país voltaram a funcionar. As ruas, o trânsito, o comércio de livros, ônibus escolares, e tudo mais que envolve a atividade educacional do país deram início a um novo ciclo rotineiro, tendo como objetivo básico a retomada do conhecimento.

É muito importante que tenhamos consciência que um país desenvolvido requer uma educação excelente, e que valores como: moral, ética, consciência cívica e responsabilidade, são pilares básicos para uma sociedade alcançar o progresso e conseguir uma ótima colocação aos seus cidadãos, gerando profissionais capacitados e impulsionando a nação cada vez mais.

A Educação brasileira, assim como a de qualquer outro país, tem suas características. Na Europa por exemplo existe o que eles chamam de “Cidadania Responsável”, que significa dizer, assumir responsabilidades em relação à comunidade, incentivar programas destinados à defesa do meio ambiente e do património histórico-cultural, aprofundar o relacionamento com Instituições de Ensino e outras, promovendo o intercâmbio Sociedade/Empresa, e também recusar a discriminação em função do sexo, raça, cor, religião ou convicções políticas. Na Alemanha, Países Baixos e Reino Unido o significado dessa mesma cidadania é chamado de “direitos e deveres cívicos”. A preocupação do Estado com o papel desempenhado pela Educação na formação da sociedade na Europa, é de fundamental importância.

A Educação no Brasil vai mal

Em nosso país a Educação está sofrendo um declínio em termos de qualidade. Segundo dados do INEP (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e do Ministério da Educação e Cultura o diagnóstico sobre o desempenho escolar do ensino fundamental, assim como do ensino superior respectivamente apontam dados alarmantes. O ranking das piores faculdades brasileiras é um sintoma claro que as coisas não vão bem. A maioria das faculdades não conseguiram sequer obter nota 3 em sua avaliação. Observamos que em outros países, existe um esforço consciente de que é preciso fazer alguma coisa, para que os alunos alcancem uma formação competitiva , e um desempenho cada vez melhor.

No estado da Carolina do Norte (EUA) professores do Cochrane Collegiate, implementaram um método para ajudarem os alunos com baixo desenvolvimento a superarem suas deficiências. O método chamado como as “10 Dicas para envolver alunos com baixo desempenho” mostra a preocupação que deve existir pelo Estado, para que estudantes universitários possam adquirir a competência necessária no papel de suas funções futuramente. Uma nova fórmula pedagógica para incentivar atitudes críticas dos alunos e forçar um aprendizado melhor.

Dizer que nós brasileiros não temos consciência desse fato é mentira, porém o resultado que damos para essa análise é simplesmente pior do que a contestação da mesma. A atitude que tomamos ao implantar o Sistema de Cotas nas Universidades Públicas e escolas técnicas, onde 50% é reservado para negros, pardos e indígenas ao invés de ser um avanço, discrimina e nivela os mesmos a uma formação de baixo nível. Outra atitude que enxergamos como deficiente na análise de nossa educação, é culparmos o sistema econômico como sendo o vilão na história. Por que achamos que a culpa é sempre do Capitalismo?

Atribuir o desempenho da educação brasileira pela venda do conhecimento através de instituições privadas, culpando os empreendedores do ensino, e o lucro advindo de suas atividades, é no mínimo uma visão totalmente distorcida da realidade. Podemos ter ótimas faculdades particulares que forneçam o preparo excelente para seus alunos que estão ali estritamente para aprender. A falácia do “pagou passou” é desenvolvida com único objetivo de desvalorizar o corpo docente dessas instituições e com isso generalizar aquelas que ainda querem fazer do conhecimento uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento intelectual do cidadão.

O ensino familiar

Não é de se estranhar que muitos pais, famílias, estão cada vez mais aderindo a idéia de ensinarem seus filhos em casa, embora essa idéia seja uma “aberração” para o Estado, pois prefere que ele seja o próprio gestor na educação familiar, com seus projetos anti-éticos, imorais, como kit-gay, anti-família e anti-vida, rompendo todos costumes tradicionais de nossa cultura cristã, apesar de uma parcela da sociedade achar ainda que o melhor é não se responsabilizar pela educação de seus filhos, pois preferem que os professores, as instituições de ensino, garantam a formação dos mesmos.

A exigência da sociedade dos tempos modernos, é que precisamos acompanhar o ritmo alucinado das grandes conquistas em termos comerciais, como o lançamento cada vez mais veloz dos Notebooks, Ipads, Iphones, etc. porém o debate crítico que deveria ser o foco na formação profissional, esvazia-se na figura patética que o professor exerce em sala de aula. Por um lado cobrado pela instituição que seu “cliente = aluno” seja paparicado, e por outro que obtenha um resultado restrito, capaz apenas de atender a demanda a qual ele se propôs em aprender, o professor tornou-se uma figura descartável. A visão crítica de sua profissão e de como a exercerá, passa longe de sua expectativa. Dessa forma o professor desestimulado não pode responder mais pelo desempenho de seu aluno no mercado de trabalho. Estamos educando mal!

Se analisarmos as instituições públicas que necessariamente deveriam ter um ensino melhor, pois não existe a máxima do “pagou passou”, seus professores cumprem uma agenda totalmente anti-ética e inconstitucional. A queda no ensino ainda tem outros agravantes além desses que nos referimos. Havendo espaço, o Estado traz o “políticamente correto” para dentro das salas de aula,  desprezando o que está no texto Constitucional em seu art.206 onde diz que a liberdade de ensinar está a liberdade de aprender.

Assim temos escrito nesse mesmo artigo, o seguinte:

1. O professor não abusará da inexperiência, da falta de conhecimento ou da imaturidade dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para esta ou aquela corrente político-partidária, nem adotará livros didáticos que tenham esse objetivo. 

2. O professor não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, religiosas, ou da falta delas. 

3. O professor não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas. 

4. Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade –, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito. 

5. O professor não criará em sala de aula uma atmosfera de intimidação, ostensiva ou sutil, capaz de desencorajar a manifestação de pontos de vista discordantes dos seus, nem permitirá que tal atmosfera seja criada pela ação de alunos sectários ou de outros professores.

Seria a educação brasileira uma utopia?

O reducionismo pedagógico foi o grande legado que Paulo Freire, patrono da Educação Nacional deixou para a nação. Juntando-se a ele temos o “construtivismo pós-piagetiano”, que inspirou o “preconceito linguístico”, que vilipendia a norma culta do idioma; a “geografia crítica”, que mistura bairrismo com economia marxista; a história em ação, que eterniza o presente; a matemática étnica, que cria analfabetos em tabuada. Paulo Freire relativizou o conhecimento, anulou a autoridade do professor e, sobretudo, assassinou o mérito – inviabilizando a possibilidade de educação. Em outras palavras a contribuição que o patrono de nossa Educação deixou, na verdade trouxe resultados aquém do que esperávamos como nação, os quais eram de fundamental importância para sairmos do atraso educacional em que vivíamos e que ainda hoje permanece.

Qual o caminho da Educação Brasileira?

Existem alguns “mantras” do “politicamente correto” que infelizmente são disseminados pela mídia e aceitos pelos analfabetos funcionais que por formação filtram pouco do que é realidade, e do que é verdade. Esse fato vem contribuir pelo pouco discernimento de como as coisas acontecem no pais. Esse seria o discurso do lucro fácil, sendo a causa de todos os dissabores da economia, assim como da educação. Como diz Carlos Alvarez Teijeiro, doutor em Comunicação Pública pela Universidade de Navarra, o lucro obtido pelas grandes empresas jornalísticas, e que deveria ser aceito pela sociedade, seria o lucro saudável, pois essa seria a forma das empresas promoverem uma vida cidadã como parte da responsabilidade social de uma empresa que ocupa um lugar privilegiado no espaço público, como devem ser os meios de comunicação.
 
O “Civic Journalism” – Jornalismo Cívico, é polêmico até entre os próprios jornalistas. Segundo Teijeiro a grande encruzilhada é tirar do caminho a má notícia e o denuncismo para abrir a passagem para textos mais críticos, onde possa ser difundido o pluralismo de idéias e o interesse democrático. "O Jornalismo Público não pretende fazer com que os cidadãos tomem partido, mas que a vida democrática interesse aos cidadãos. Uma democracia em que os cidadãos participem ativamente é uma democracia com mais qualidade do que aquela em que os cidadãos se limitam a votar a cada quatro anos".

Que rumo queremos para nossos jovens, e para sua formação?

Em primeiro lugar é necessário dizer que, a visão crítica que deve ser feita sobre o lucro dos empreendedores em instituições particulares de ensino faz parte natural da Economia de Mercado, porém o que deve ser exigido, é que a exigência dos estudantes seja compatível com um mercado de profissionais cada vez mais qualificado. Essa deve ser a exigência. Dessa forma o professor se sentirá seguro para ensinar e não somente formar alguém que tenha interesse apenas no diploma. O raciocínio está trocado, o mercado não pode exigir apenas profissionais que tenha um “canudo”, eles devem ser exigentes com a formação profissional do aluno, estimulando assim uma concorrência cada vez maior e exigindo um esforço proporcional do aluno ao aprendizado.

Em segundo lugar o Estado deveria fomentar o debate construtivo de idéias, o debate democrático, onde os alunos como cidadãos críticos pudessem obter informações de um Jornalismo saudável sem interesses políticos. O Jornalismo Público preencheria essa demanda e traria à mídia um compromisso maior com as causas públicas. A falta dessas, é uma das explicações pelas quais os jornais estão em crise no mundo, por conta de um distanciamento do interesse das comunidades.

Em terceiro lugar, talvez o mais difícil, seria a volta do que poderíamos chamar do tradicionalismo familiar na educação, onde a família seria a peça fundamental no aprendizado do aluno-cidadão, onde o mesmo, educado por uma família saudável, teria respaldo dentro da sala de aula, onde sua visão diferenciada, e  comportamento respeitoso, ajudasse o professor em seu ofício de transmissor de conhecimentos. No mundo em que estamos vivendo atualmente, isso é quase impossível. O tradicional, o conservador, é considerado ultrapassado, e o mundo caminha para uma situação totalmente desastrosa, tendo como parâmetros a ausência de fatores básicos. Sua economia, política, família, tem fundamentos podres, ultrapassados, levando não só seus cidadãos, estudantes e toda a sociedade a um futuro sombrio. A nós que ainda nos resta uma visão contrária, possamos influenciar o sistema como forma de agir, de pensar, de expressar e de falar nossas idéias. 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A falácia do polilogismo

Por Rodrigo Constantino





"A humanidade precisa, antes de tudo, se libertar da submissão a slogans absurdos e voltar a confiar na sensatez da razão." (Mises) 
  

Em 1944, o economista Ludwig von Mises escreveu Omnipotent Government, onde explica o crescimento da idolatria ao Estado que levou ao nazismo na Alemanha, fomentando um ambiente de guerras ininterruptas. Em uma parte do livro, Mises explica uma das coisas que os nazistas pegaram emprestado do marxismo: o polilogismo. Até a metade do século XIX, ninguém contestava o fato de que a estrutura lógica da mente é comum a todos os seres humanos. "Todas as inter-relações humanas são baseadas na premissa de uma estrutura lógica uniforme", diz Mises. Podemos nos comunicar justamente porque apelamos a algo comum a todos, a estrutura lógica da razão.

Claro que alguns homens podem pensar de forma mais profunda e refinada que outros, assim como algumas pessoas não conseguem compreender um processo de inferência em longas cadeias de pensamento dedutivo. Mas isso não nega a estrutura lógica uniforme. Mises cita como exemplo alguém que pode contar apenas até três, lembrando que mesmo assim sua contagem, até seu limite, não difere daquela feita por Gauss ou Laplace. É justamente porque todos consideram este fato inquestionável que os homens entram em discussões, trocam idéias ou escrevem livros. Seria simplesmente impossível uma cooperação intelectual entre os indivíduos sem isso. Os homens tentam provar ou refutar argumentos porque compreendem que as pessoas utilizam a mesma estrutura lógica. Qualquer povo existente reconhece a diferença entre afirmação e negação, pode entender que A não pode ser, ao mesmo tempo, o contrário de A.

No entanto, apesar desse fato ser bastante evidente, ele foi contestado por Marx e pelos marxistas, entre eles o "filósofo proletário" Dietzgen. Para eles, o pensamento é determinado pela classe social da pessoa, e o pensamento não produz verdades, mas ideologias. Para os marxistas, os pensamentos não passam de um disfarce para os interesses egoístas da classe social a qual esse pensador pertence. Nesse contexto, seria inútil discutir qualquer coisa com pessoas de outra classe social. O que se segue disso é que as "ideologias não precisam ser refutadas por meio do raciocínio discursivo; elas devem ser desmascaradas através da denúncia da posição da classe, a origem social de seus autores". Se uma teoria científica é revelada por um burguês, o marxista não precisa atacar seus méritos. Basta ele denunciar a origem burguesa do cientista.

O motivo pelo qual os marxistas buscaram refúgio no polilogismo pode ser encontrado na incapacidade de refutação por métodos lógicos das teorias econômicas "burguesas". Quando o próprio Mises demonstrou que o socialismo seria impraticável pela impossibilidade de cálculo econômico racional, os marxistas não apontaram qualquer erro em sua análise lógica. Preferiram apelar para o estratagema do polilogismo, fugindo do debate com a desculpa de que sua teoria era uma defesa dos interesses de classe. O sucesso dessa tática marxista foi incrível, sem precedentes. Foi usado como "prova" contra qualquer crítica racional feita ao marxismo e sua pseudo-economia. Isso permitiu um crescimento assustador do estatismo moderno.

Conforme Mises lembra, "o polilogismo é tão intrinsecamente sem sentido que ele não pode ser levado consistentemente à suas últimas conseqüências lógicas". Nenhum marxista foi corajoso o suficiente para tentar fazer isso. Afinal, o princípio do polilogismo levaria à inferência de que os ensinamentos marxistas não são objetivamente verdadeiros, mas apenas afirmações "ideológicas". Os marxistas negam essa conclusão lógica de sua própria postura epistemológica. Para eles, sua doutrina é a verdade absoluta. São completamente inconsistentes. O próprio Marx não era da classe dos proletários. Mas para os marxistas, alguns intelectuais conseguem se colocar acima desse paradoxo. Os marxistas, claro. Não é possível refutar isso, pois se alguém discorda, apenas prova que não faz parte dessa elite especial, capaz de superar os interesses de classe e enxergar além.

Os nacionalistas alemães tiveram que enfrentar o mesmo tipo de problema dos marxistas. Eles não eram capazes de demonstrar suas declarações ou refutar as teorias econômicas contrárias. "Logo", explica Mises, "eles buscaram abrigo sob o telhado do polilogismo, preparado para eles pelos marxistas". Algumas mudanças foram necessárias para a adaptação, mas a essência é a mesma. Basta trocar classe por nação ou raça, e pronto. Cada nação ou raça possui uma estrutura lógica própria e, portanto, sua própria economia, matemática ou física. Pela ótica marxista, pensadores como Ricardo, Freud, Bergson e Einstein estavam errados porque eram burgueses; pela ótica nazista, eles estavam errados porque eram judeus. O coletivismo, seja de classe ou raça, anula o indivíduo e sua lógica universal.

Tanto o polilogismo marxista como o nacional-socialista se limitaram à afirmação de que a estrutura lógica da mente é diferente para as várias classes ou raças. Nenhum deles tentou elaborar melhor isso, tampouco demonstrar como exatamente ocorria tal diferença. Nunca entraram nos detalhes, preferindo, ao contrário, concentrar o foco na conclusão. No fundo, o polilogismo tem todas as características de um dogma. Se há divergência de opinião dentro da própria classe ou raça, ele adota um mecanismo peculiar para resolver a questão: os oponentes são simplesmente tratados como traidores. Para os marxistas e nazistas, existem apenas dois grupos de adversários: aqueles errados porque não pertencem à mesma classe ou raça, e aqueles oponentes da mesma classe ou raça que são traidores. Com isso, eles ignoram o incômodo fato de que há dissensão entre os membros da sua própria classe ou raça.

Deixo os comentários finais com o próprio Mises: "O polilogismo não é uma filosofia ou uma teoria epistemológica. Ele é uma atitude de fanáticos limitados, que não conseguem imaginar que alguém pode ser mais razoável ou inteligente que eles mesmos. O polilogismo também não é científico. Ele é a substituição da razão e da ciência por superstições. Ele é a mentalidade característica de uma era do caos".