segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A busca pelo lucro levou ao fim da escravidão




Há quem jure que a busca pelo lucro é algo cruel, abusivo, ultrajante, imoral e maléfico.  É fato que há pessoas desonestas que recorrem a métodos inescrupulosos para obter lucros em seus empreendimentos, mas basear-se em tais pessoas para fazer uma condenação automática do lucro é uma postura ignorante. 

A verdade é que foi a busca pelo lucro o que aniquilou aquela milenar abominação que foi a escravidão humana.  Eliminar a capacidade das pessoas de buscar o lucro significaria reimplantar a escravidão no mundo.  E creio que nenhum de nós quer isso de volta.

A escravidão era um sistema econômico

O que até hoje ainda não é corretamente entendido é que a escravidão era a base do sistema econômico vigente no mundo antigo — como na Grécia e em Roma.

Todo o sistema escravocrata se baseava praticamente em um só objetivo: obter excedentes.  É claro que os defensores da escravidão sempre recorriam a justificativas criativas para defender o sistema escravocrata, mas, no final, tudo se resumia a obter excedentes.  Pode-se dizer, portanto, que a escravidão era uma espécie de poupança coercivamente impingida.

Um indivíduo rudimentar e despreparado irá, caso seja abandonado à própria sorte, gastar praticamente tudo o que ele ganha.  Se ele conseguir auferir algum excedente, ele provavelmente irá gastar este excedente em luxos, prazeres, frivolidades ou em coisas piores.  Enquanto ele não desenvolver um caráter mais forte, enquanto ele não adquirir uma personalidade mais estável, sobrará muito pouco de seu excedente para ser utilizado em outras coisas.

Um escravo, por outro lado, jamais aufere rendimentos e, consequentemente, não tem como gastá-los.  Todo o excedente produzido por um escravo é transferido para seu senhor.  Foi exatamente este tipo de arranjo gerador de excedentes o que tornou Roma um império rico.

Mas então surgiu a Europa cristã.  Antes do advento do cristianismo, não se encontra uma única cultura antiga que proibia a prática da escravidão; a escravidão era vista como algo absolutamente normal.  Sendo assim, a Europa abolir o sistema escravocrata que havia herdado de Roma foi uma mudança monumental.

Os europeus substituíram a escravidão — de maneira lenta e por causa de seus princípios cristãos, e não em decorrência de algum plano consciente e deliberado — adotando as seguintes posturas:

1. Desenvolvendo o hábito da frugalidade e da poupança em nível individual.  Isso requereu uma total mudança de postura e um enfoque vigoroso em virtudes como a temperança (autocontrole) e a paciência.

2. Substituindo o arranjo de "produção forçada de excedentes" pelo lucro.  Para isso, os europeus tiveram de recorrer à criatividade para alterar totalmente a natureza de suas atividades comerciais.  Eles tiveram de inovar, inventar e se adaptar para conseguir mais excedentes por meio do comércio.
Sob um novo sistema que acabou sendo rotulado de capitalismo, a poupança e a criatividade se tornaram os novos geradores de excedentes, e nenhum ser humano teve de ser escravizado.

Um mundo sem lucros
Por outro lado, temos exemplos bem recentes do que acontece quando uma cultura proíbe o lucro.  Pense em tudo o que ocorreu em paraísos socialistas como a URSS de Stalin, a China de Mao, e as nações escravizadas do Leste Europeu, e no que ainda ocorre na Coréia do Norte e em Cuba.

São exemplos lúgubres que ilustram exatamente o que ocorre quando toda uma população é escravizada pelo partido dominante.  Nestes sistemas, o indivíduo é obrigado a trabalhar e a produzir, mas é proibido de usufruir os frutos e os rendimentos de seu próprio trabalho, tendo até mesmo o seu consumo restringido pelo governo.

O lucro fornece incentivos para se trabalhar e empreender.  Quando ele é abolido, não apenas o ato de trabalhar e de empreender perde sua função, como também aqueles que querem prosperar não têm como fazê-lo de maneira honesta.  E isso leva ou ao desespero ou à criminalidade.
O lucro é obtido por meio de trocas comerciais inovadoras e recompensadoras.  Se o lucro é eliminado, tem-se a escravidão.  O formato dessa escravidão pode ser variável, mas será uma escravidão de algum tipo.
Com efeito, este resultado será o mesmo não importa se a eliminação do lucro ocorrer por meio do comunismo (em que o lucro é punido com a pena capital) ou do fascismo (em que todo o lucro é direcionado para os amigos do regime).

A questão principal é o excedente produzido:
  • Se o excedente pode ser produzido e acumulado pelo cidadão comum por meios honestos, a escravidão pode ser eliminada.
  • Se os cidadãos honestos não tiverem a permissão de produzir e de manter seus próprios excedentes (sendo seus excedentes confiscados ou pelo estado ou pelos parceiros do estado), o resultado será alguma forma de escravidão.
O lucro é simplesmente uma ferramenta — uma maneira de gerar excedentes sem a coerção imposta pela escravidão.

O que nos leva à conclusão definitiva: é impossível se livrar simultaneamente da escravidão e do sistema de lucros.  Você pode eliminar um dos dois, mas sempre que eliminar um, ficará inevitavelmente com o outro.

O lucro se baseia nas virtudes

Para se viver em uma civilização que prospera por meio do lucro, é necessário que o ser humano saiba domar todos aqueles seus instintos mais primitivos — algo típico dos animais —, como a inveja.  É necessário saber desenvolver o autocontrole, a paciência, a temperança e, principalmente, saber se concentrar em algo maior do que meras possessões materiais — afinal, é exatamente o materialismo o motor da inveja e do igualitarismo.

É vergonhoso que o Ocidente tenha, ao longo dos últimos séculos, se afastado de suas virtudes tradicionais, e passado a considerá-las vícios burgueses ou meras superstições.  Se algum dia finalmente perdermos todas as nossas virtudes, o sistema de lucros perderá sua proteção e não mais será visto como um motor da prosperidade, e a antiga e extinta prática da escravidão irá voltar.

Nossas ações têm consequências.
 


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Progressistas, reacionários, histeria e a longa marcha gramsciana





Por que a esquerda sempre faz uma oposição histérica a toda e qualquer ínfima medida ou iniciativa que seja por ela tida como "antiprogressista" ou, pior ainda, "reacionária" e contrária ao seu "projeto de poder"?  Seja no quesito aborto, no quesito dos "direitos" dos homossexuais ("direitos", no linguajar esquerdista, nada mais são do que deveres impingidos aos pagadores de impostos), nos privilégios raciais e sindicais, no feminismo, no desarmamento e até mesmo em tímidas propostas de reformas assistencialistas, a esquerda progressista sempre reage com um furor frenético contra qualquer pessoa — seja político, comentarista político ou apenas alguém da mídia alternativa — que se atreva a fazer algo que leve a um pequeno recuo destes sagrados esquemas socialistas. 

O frenesi progressista que vem varrendo o mundo começou realmente no final dos anos 1930.  Naquela época, vivendo em Nova York, minha família, meus amigos e meus vizinhos, todos esquerdistas, haviam chegado ao paroxismo do medo e da raiva por causa da contrarrevolução de Franco e da iminente derrocada do governo espanhol esquerdista durante a Guerra Civil Espanhola.  Superabundavam denúncias e vituperações lacrimosas contra Franco, além de contínuas exortações para que "alguma coisa fosse feita".  Houve a criação de organizações especializadas em enviar de tudo para a Espanha, desde leite até armas e soldados.  Era a "Brigada Internacional", criada para defender a esquerda espanhola (alcunhada de "Legalistas" pelo sempre simpatizante The New York Times e por outros veículos da mídia "respeitável").

Vale enfatizar que estas pessoas jamais — nem antes e nem durante — haviam demonstrado qualquer tipo de interesse pela história, cultura ou política espanhola.  Logo, por que repentinamente passaram a se preocupar com o país?  O historiador esquerdista Allen Guttman chegou até a documentar e celebrar esta histeria em relação à Espanha em seu livro A Ferida no Coração (o título já diz tudo).  Certa vez perguntei ao meu amigo Frank S. Meyer, que havia sido um proeminente comunista americano, a respeito deste enigma.  Ele deu de ombros: "Nós [os comunistas] nunca conseguimos entender o porquê.  Mas tiramos proveito do sentimentalismo progressista da questão".

A explicação ortodoxa dos historiadores é que os esquerdistas da época — cujo quartel-general, a fonte de financiamento, estava nos EUA — estavam especialmente temerosos quanto à "ameaça do fascismo", e defendiam freneticamente a esquerda espanhola porque viam a Guerra Civil daquele país como um prenúncio de uma inevitável Segunda Guerra Mundial.  Mas o problema com esta explicação é que, embora a esquerda progressista houvesse defendido entusiasmadamente a "boa" Guerra contra o Eixo, ela nunca realmente arregimentou a mesma emotividade, a mesma exaltação, o mesmo furor que demonstrava em relação a Franco contra Hitler, por exemplo.

Então, qual a verdadeira explicação para a atual postura da esquerda em relação a temas cultural e economicamente progressistas?

Creio que uma pista pode ser encontrada na mini-histeria que a esquerda demonstrou a respeito da contrarrevolução ocorrida contra o regime esquerdista da Salvador Allende no Chile, uma contrarrevolução que colocou o General Augusto Pinochet no poder.  A esquerda, até hoje, ainda não perdoou a direita chilena e a CIA por este golpe.  Allende ainda é considerado um mártir querido pela esquerda, e sua filha Isabel, um ícone (embora ainda percam para Che Guevara).  Seria esta raiva tão duradoura só porque um regime comunista foi derrubado?  Quase, mas ainda longe.  Afinal, a esquerda não demonstrou grandes emoções, não demonstrou nenhum desespero, quando os regimes comunistas entraram em colapso na União Soviética e no Leste Europeu.

Logo, sugiro que 'A Resposta' para este mistério é a seguinte: a esquerda é, em sua essência, "progressista", o que significa que ela acredita, à moda marxista ou Whig, que a história consiste em uma 'inevitável marcha ascendente' rumo à luz, rumo à utopia socialista.  A esquerda progressista acredita no mito do progresso inevitável; ela acredita que a história está ao seu lado, sempre conspirando a seu favor.  Sendo ela formada por social-democratas (mencheviques), primos dos comunistas (bolcheviques) — com quem vivem entre tapas e beijos —, a esquerda progressista possui um objetivo similar ao dos comunistas, mas não idêntico: um estado socialista igualitário, gerido totalmente por burocratas, intelectuais, tecnocratas, "terapeutas" e pela Nova Classe iluminada, geralmente em colaboração com — e sempre sendo apoiada por — credenciados membros de todos os tipos de grupos vitimológicos, aquela gente que se diz perseguida e que vive lutando por "direitos iguais" — sendo que o 'iguais' significa na verdade 'superiores'.  Estes grupos são formados por negros, mulheres, gays, deficientes, índios, cegos, surdos, mudos etc.

A esquerda progressista acredita que a história está marchando inexoravelmente rumo a este objetivo.  Uma parte vital deste objetivo é a destruição da família tradicional, "burguesa" e composta de pai e mãe, que deve ser substituída por um sistema em que as crianças são criadas e educadas pelo estado e por sua Nova Classe de orientadores, tutores, terapeutas e demais "cuidadores" infantis.

A utópica marcha da história, objetivo dos social-democratas, também é similar à dos comunistas, mas não exatamente a mesma.  Para os comunistas, o objetivo era a estatização dos meios de produção, a erradicação da classe capitalista, e a tomada de poder pelo proletariado.  Já os social-democratas entenderam ser muito melhor um arranjo em que o estado socialista mantém os capitalistas e uma truncada economia de mercado sob total controle, regulando, restringindo, controlando e submetendo todos os empreendedores às ordens do estado.  O objetivo social-democrata não é necessariamente a "guerra de classes", mas sim um tipo de "harmonia de classes", na qual os capitalistas e o mercado são forçados a trabalhar arduamente para o bem da "sociedade" e do parasítico aparato estatal.  Os comunistas queriam uma ditadura do partido único, com todos os dissidentes sendo enviados para os gulags.  Os social-democratas preferem uma ditadura "branda" — aquilo que Herbert Marcuse, em outro contexto, rotulou de "tolerância repressiva" —, com um sistema bipartidário em que ambos os partidos concordam em relação a todas as questões fundamentais, discordando apenas polidamente acerca de detalhes triviais — "a carga tributária deve ser de 37% ou de 36,2%?".

Liberdade de expressão, de imprensa e de ideias é tolerada pelos social-democratas, mas desde que ela se mantenha dentro de um espectro de opiniões pré-aprovadas.  Os social-democratas repelem a brutalidade dos gulags; eles preferem fazer com que os dissidentes padeçam da "suave" e "terapêutica" ditadura do politicamente correto, na qual eles forçosamente têm de aprender as maravilhosas virtudes de ser educado na "dignidade de estilos de vida alternativos", sempre submetidos a um intenso "treinamento de sensibilidade".  Em outras palavras, Admirável Mundo Novo em vez de 1984.  A "marcha ascendente da democracia" em vez da "ditadura do proletariado".

Também típica é a distinção, nas duas utopias, acerca de como lidar com a religião.  Os comunistas, como fanáticos ateístas, tinham o objetivo de abolir por completo a religião.  Já os social-democratas preferem uma abordagem mais suave: subverter o cristianismo de modo a fazer com que a religião se torne aliada da social-democracia.  Daí a sagaz cooptação da esquerda cristã pelos social-democratas: enfatizando o modernismo entre os católicos e o evangelicalismo esquerdo-pietista entre os protestantes — este último objetivando criar um Reino de Deus na Terra na forma de uma coerciva e igualitária "comunidade de amor".  

Trata-se de uma estratégia muito mais astuta: cooptar religiosos em vez de assassinar padres e freiras e confiscar igrejas — esta última feita pelo regime republicano espanhol e por seus partidários trotskistas e anarquistas de esquerda, algo que não gerou absolutamente nenhum grito de protesto por parte de seus devotos defensores progressistas e social-democratas ao redor do mundo.

Esta distinção nos objetivos — totalitarismo brando vs. radical — também é refletida na acentuada diferença entre as estratégias e os meios utilizados.  Os comunistas, ao menos em sua clássica fase leninista, ansiavam por uma revolução violenta e apocalíptica que destruiria o estado capitalista e levaria à ditadura do proletariado.  Já os mencheviques — social-democratas ou neoconservadores —, fieis ao seu ideal "democrático", sempre se sentiram um tanto desconfortáveis com a ideia de revolução, preferindo muito mais a "evolução" gradual produzida pelas eleições democráticas.  O estado deve ser totalmente aparelhado por intelectuais partidários e simpatizantes, de modo a garantir a continuidade da longa marcha gramsciana da conquista das instituições culturais e sociais do país.  Daí a desconsideração pelos gulags e pela revolução armada.  Por isso o desaparecimento de seus primos (e concorrentes) bolcheviques não ter sido lamentado pelos social-democratas.  Muito pelo contrário: os social-democratas agora detêm o monopólio da marcha "progressista" da história rumo à Utopia. 

O que me traz de volta à minha 'Resposta' sobre o porquê da histeria da esquerda progressista: ela se torna histérica sempre que percebe a ameaça de uma pequena reversão na Inevitável Marcha da História.  Ela se torna histérica quando visualiza alguns empecilhos e, principalmente, retrocessos nesta sua inexorável marcha ao poder total, retrocessos estes que sempre são rotulados, obviamente, de "reações".  Na visão de mundo tanto de comunistas quanto de social-democratas, a mais alta — desde que "progressista" — moralidade é se mostrar não apenas um defensor, mas também, e principalmente, um entusiasmado fomentador da 'inevitável próxima fase da história'.  É ser a "parteira" (na famosa expressão de Marx) desta fase.  Da mesma forma, a mais profunda, se não a única, imoralidade é ser "reacionário", ser alguém dedicado a se opor a este inevitável progresso — ou, pior ainda, alguém dedicado a fazer retroceder a maré, a restaurar costumes enraizados, a "atrasar o relógio".  

Este é o pior pecado de todos, e ele gera todo este frenesi justamente porque qualquer retrocesso bem-sucedido colocaria em dúvida aquele que é o mais profundo e o mais inquestionavelmente aceito mito "religioso" da esquerda progressista: a ideia de que o progresso histórico rumo à sua Utopia é inevitável.  

Trata-se, no mais profundo sentido, de uma guerra não apenas cultural e econômica, mas religiosa.  "Religiosa" porque social-democracia/progressismo de esquerda é uma visão de mundo passional, uma "religião" no mais profundo sentido, pois guiada unicamente pela fé: trata-se da ideia de que o inevitável objetivo da história é um mundo perfeito, um mundo socialista igualitário, um Reino de Deus na Terra, seja este deus "panteizado" (sob Hegel e os adeptos do Romantismo) ou ateizado (sob Marx).

Esta é uma visão de mundo em relação à qual não deve haver concessões ou clemência.  Ela deve ser contrariada e combatida veementemente, com cada fibra de nosso ser.

Quem vai vencer essa guerra?  Não se sabe.  De que lado está a maioria da população?  Certamente perdida, disponível para quem chegar primeiro.  A maioria está confusa, vagando de um lado para o outro, dividida entre visões de mundo conflitantes.  Ela pode pender para qualquer lado.  Durante suas inúmeras batalhas faccionárias dentro do movimento marxista, Lênin certa vez escreveu que há dois grupos batalhando, cada um formado pela minoria da população, sendo que a maioria está no centro, e é formada justamente pelas pessoas confusas, às quais ele se referiu como O Brejo.  A maioria da população hoje está confusa e constitui O Brejo; estas pessoas estão no terreno no qual a maioria das batalhas será disputada.  E a metáfora é corretamente militar.  A batalha iminente é muito mais ampla e profunda do que apenas discutir alíquotas de impostos.  Trata-se de uma batalha de vida e morte pelo formato do nosso futuro.  Daí se compreende o frenesi que acomete a esquerda sempre que uma medida "reacionária" parece ser favorecida pela sociedade.

A esquerda progressista não se importa muito com — na verdade, ela até gosta de — pequenos revezamentos de poder: uma década de governos abertamente progressistas, nos quais a agenda esquerdista é avançada, seguida de alguns anos de governo "oposicionista" ou "conservador", no qual há apenas uma consolidação ou simplesmente uma redução na velocidade do avanço.  O que ela realmente teme é a perspectiva do conservadorismo se tornar reacionário, no sentido de realmente fazer retroceder alguns ganhos "progressistas".  É isso que a apavora.  Daí a histeria em relação a Franco e a Pinochet; daí o linchamento de Joe McCarthy, que realmente ameaçou ser bem-sucedido em fazer recuar não apenas os comunistas, mas até mesmo os progressistas e social-democratas.  Ameace retroceder "direitos" obtidos por grupos de feministas, de gays, de negros, de desarmamentistas, de funcionários públicos, de sindicalistas ou de qualquer outro do ramo vitimológico, e você verá o que é uma fúria progressista.

Portanto, o combate requer, principalmente, coragem e nervos para não ceder e não se dobrar perante as totalmente previsíveis reações caluniosas e difamantes dos oponentes.  Acima de tudo, o objetivo não deve ser o de se tornar querido e bem aceito por progressistas ou pela Mídia Respeitável.  Tal postura irá gerar apenas mais rendição, mais derrotas.  Igualmente, o objetivo não é apenas o de fazer retroceder o estado leviatã, sua cultura niilista e estas pessoas que querem se apossar do estado e impor sua agenda sobre nós.  O objetivo tem de ser a eliminação completa e irreversível deste monstruoso sonho de um Perfeito Mundo Socializado gerido por "pessoas de bem".

Que a reação ocorra, que os "direitos" sejam retrocedidos, que esta gente recue, entre em órbita e finalmente perceba que, na realidade, sua religião é maléfica.


domingo, 18 de agosto de 2013

A falsa panacéia das "soluções políticas"



Paul Johnson demonstrou magistralmente, em seu extraordinário livro "Tempos Modernos", já no primeiro capítulo, intitulado "Um mundo relativista", que o maior mal de nossos tempos — que começou a se desenvolver em fins do século XIX, ganhou força no século passado e persiste até os nossos dias, é a crença nas chamadas "soluções políticas".  Johnson argumenta com boa fundamentação que essa praga tem como causa a "morte de Deus", decretada por "medida provisória" baixada por Nietzsche (que, paradoxalmente, foi um defensor do livre mercado) e que deixou o ocidente a descoberto, com um vazio de poder que acabou sendo preenchido pelo mito da "vontade política".  Ainda naquele capítulo ele mostra que a relativização do mundo foi encorpada por intelectuais que se seguiram a Nietzsche: em 1915, quase ninguém entendeu o que Einstein — que nunca foi um relativista moral! — queria dizer com sua teoria da relatividade e, matreira e solertemente, levaram a coisa para o lado moral. Pronto! Passava a não existir mais o certo e o errado, porque, afinal, "tudo é relativo". Johnson cita a psicanálise de Freud e a economia de Keynes como resultados dessa relativização moral.

Não pretendo aqui discutir religião, mas tão somente ressaltar que foi a partir dessa gênese relativista que os valores morais até então inquestionáveis e aceitos voluntariamente durante séculos em nossas sociedades passaram a ser "relativizados": assim, valores fundamentais, como a propriedade privada e as liberdades individuais começaram não apenas a ser questionados sob o ponto de vista moral ou jurídico, mas atacados sob o pretexto de que caberia aos estados (isto é, a pessoas exatamente iguais às demais) tomarem as decisões mais importantes em todos os campos da existência humana, já que os iluminados do governo saberiam o que era melhor para todos, para o coletivo, para o formigueiro humano, para o "social".  

Você já parou para pensar no mal que isso representou e continua representando para a humanidade? Se ainda não o fez, convença-se de que as maiores barbaridades do século XX — a saber, o comunismo e o nazismo — foram consequências diretas desse vácuo de poder, de que se aproveitaram verdadeiros monstros como Hitler, Lenin e dezenas de outros. Já que não existiria mais uma verdade absoluta, tradicional e consagrada há séculos e que forjou toda a civilização ocidental, então tudo, praticamente tudo, poderia ser relativizado. Muitos milhões de assassinados pagaram o preço dessa maluquice, ou porque se opunham às ideias dos ditadores ou porque pertenciam a "classes" ou "raças" tidas por eles como lesivas ou prejudiciais aos interesses dos mandatários. Foi a fase — e, por incrível que pareça, ainda não saímos dela, basta olharmos para alguns dos atuais governos da América do Sul — do poder pelo poder.

Em outro soberbo livro, Os Intelectuais, Paul Johnson mostra como muitos deles, sem terem jamais se dado sequer ao trabalho de pegar em um martelo para pregar um quadro em uma parede, passaram a ditar, sentados em mesas de bares, o que era bom e o que era ruim, sempre de acordo com o seu ponto de vista, considerado obviamente como superior ao do homem comum, que é aquele que faz o mundo real funcionar.  Goebbels e Antonio Gramsci (especialmente o segundo), Sartre e outros — todos festejados como "mentes brilhantes" — deram o toque final a esse processo de imbecilização coletiva fantasiada de boas intenções, e ai de quem se opunha ou — ainda! — se opõe a essa horda de barbarismo revestida de "modernidade". A última manifestação dessa endemia que se transformou em epidemia e depois em pandemia é a chamada "ditadura do politicamente correto".

Assim, se Fulano roubou alguém, a culpa não foi dele, mas da "sociedade"; se Beltrano estuprou uma mulher, a culpa foi do "sistema"; se alguém fuma um cigarro em um estádio de futebol é visto como um pária; se um zagueiro comete uma falta violenta contra um adversário e imediatamente levanta os braços para fazer ver ao árbitro que não fez nada demais, isso é visto como natural, pois todos fazem assim; se um deputado desviou recursos públicos para sua conta pessoal, o culpado é o "capitalismo" que endeusa o dinheiro; se magistrados colocam parentes em empregos públicos ganhando altíssimos salários, é claro que não deve haver qualquer culpa envolvida nisso, pois, afinal, é tudo natural; o que vale é o momento, é o prazer, o hedonismo, os ganhos fáceis, a vida da cigarra, já que as formigas são tremendamente "conservadoras e otárias" porque valorizam o trabalho árduo e a poupança. Sim, as formigas são as mais antigas neocons de que se tem notícia...

Quem ainda não ouviu algum comentário do tipo "ih, não se meta nisso, porque foi uma "decisão política" da direção da empresa"? Ou, na universidade, "não questione essa decisão, porque ela é apoiada pelo reitor", ou, ainda, "tal medida foi uma decisão política do ministro"? Já pararam para pensar nesses absurdos aceitos ou como verdades inquestionáveis ou como meras ordens a serem cumpridas? Já refletiram que isso vai — como foi e vem acontecendo — minando a capacidade de raciocinar das pessoas, ou seja, vai desumanizando o homem?

Eis a verdade, meus amigos, clara como a água mais cristalina, mas que a imensa maioria não consegue enxergar, porque foi habituada, ensinada, doutrinada, bombardeada para agir como bois ao som do berrante do boiadeiro: estamos vivendo em uma sociedade que a cada dia se torna mais desumanizada, em que a dignidade da pessoa humana de pouco ou nada vale. Essa crença cega nas pretensas "soluções políticas" foi sendo inoculada nas pessoas passo a passo, vagarosa e calculadamente e se alastrou pelos corpos das sociedades como um veneno mortal.

É urgente combater o relativismo moral e suas "soluções políticas", a começar pelo resgate da família e seus valores, da importância da formação moral das crianças por parte dos pais (e não dos professores de História inteiramente embriagados de marxismo) e da imprescindibilidade da liberdade responsável, que é aquela liberdade de escolher sabendo o que é certo e o que não é certo. 

Já pensaram também por que nosso povo está indo às ruas para protestar? Estão pretendendo o quê com os protestos: mais "soluções políticas"? É o que parece.

Na economia, desde que Keynes, em outra "medida provisória", estabeleceu a máxima, tida por quase todos os economistas como inquestionável, a de que poupar faz mal à saúde da economia e gastar faz bem, uma tremenda e gigantesca guinada nos fundamentos morais da ciência econômica, as "soluções políticas" passaram a substituir as decisões individuais voluntárias, os mercados passaram a ser vistos como um perigo para os pobres e os ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais como grandes iluminados salvadores de suas pátrias. O resultado dessa imoralidade representada pelo keynesianismo pode ser visto facilmente, como um relâmpago em uma noite escura: déficits orçamentários crescentes, endividamento público maior do que o "tamanho da economia", inflação, desemprego, crises em cima de crises e gerações de jovens que não encontram empregos, como vem sucedendo na Europa, antes badalada como um paraíso da social democracia.

James Buchanan e Gordon Tullock, os dois principais autores da Public Choice School, mostraram claramente que Keynes, um imoralista assumido, politizou a teoria econômica e seu trabalho foi justamente fazer o oposto: levaram os princípios básicos da teoria econômica para analisar o processo político, mostraram como isto pode ser feito e concluíram que os chamados "homens públicos", tal como os mortais comuns, agem de acordo com seus próprios interesses e não tendo em vista o chamado bem comum. Ou seja, os políticos agem — para usarmos o jargão econômico convencional — com o intuito de "maximizar a sua utilidade" e não a dos seus eleitores.

E, desde seus primórdios com os pós-escolásticos, passando por seu fundador Menger e por Mises, Hayek, Rothbard, Kirzner e praticamente todos os seus economistas, a Escola Austríaca de Economia sempre se posicionou contra a falsa panaceia das "soluções políticas", porque sempre entendeu com muito maior clareza — e com uma metodologia bastante superior à das escolas rivais —, que os mercados são processos de intercâmbio voluntário que jamais puderam, podem ou poderão ser substituídos por pretensas "soluções", que de soluções nada têm. Hayek, em especial, mostrou, especialmente em seu famoso artigo O uso do conhecimento na sociedade que o conhecimento, em termos de assuntos sociais, é sempre insuficiente e se apresenta de forma dispersa. E que os planejadores dos governos não são super-homens que se situem acima desse fato elementar. 

Portanto, nada melhor do que os próprios envolvidos nas situações concretas para resolverem os seus problemas concretos. As "soluções políticas" já nascem fadadas ao fracasso. Na verdade, elas são, por si mesmas, sinônimos de fracassos. A Escola Austríaca de Economia é moralmente superior às demais porque respeita os princípios, valores e instituições de uma sociedade livre e virtuosa. O texto de Hayek, claramente, é uma defesa do conhecido Princípio da Subsidiariedade, que se baseia na ideia de que é moralmente errado retirar-se a autoridade e a responsabilidade inerentes à pessoa humana para entregá-la a um grupo, porque nada pode ser feito de melhor por uma organização maior e mais complexa do que pode ser conseguido pelas organizações ou indivíduos envolvidos diretamente com os problemas. A subsidiariedade decorre de três importantes aspectos da própria existência humana: a dignidade da pessoa humana, a limitação do conhecimento enfatizada por Hayek e a solidariedade.

Por tudo isso e como estou farto de dizer e escrever, temos uma tarefa gigantesca pela frente, que é a de fazer as pessoas voltarem ter noção de que há atos moralmente certos e atos moralmente errados, tanto no campo da economia, como no das relações pessoais, no da atividade política, na prática dos esportes, enfim, em todas as nossas ações. Obviamente, há ações que podem ser chamados de moralmente neutras, como, por exemplo, a de chupar um picolé, mas a maioria de nossas escolhas reflete os valores morais que recebemos desde muito cedo e que desenvolvemos com o passar dos anos. Muitos dos que estão indo às ruas protestar contra este ou aquele político corrupto, será que não agiriam de maneira parecida caso estivessem no lugar do mesmo?

Essa tarefa enorme e hercúlea que temos pela frente, a meu ver, transcende rótulos de qualquer natureza. Não me agradam esses rótulos. Nunca me agradaram, porque são superficiais. Em termos de filosofia moral, sou um "conservador", mas em termos de teoria econômica, sou um "libertário". E aí, como é que fica? De forma semelhante, alguém pode ser um "progressista" em termos morais, mas um "conservador" em termos políticos. E aí? Rótulos rútilos só servem ou para xingar alguém ou para confundir incautos...

Acima dos rótulos, temos que lutar contra a panaceia das "soluções políticas", que nos ronda como urubus sobre a carniça. Se mostrarmos que estamos vivos, nos mexendo, lutando, poremos os urubus para correrem, ou melhor, para voarem para outras plagas. E se quisermos saber qual é o ninho os corvos, veremos que é o relativismo moral.